OTAN: agora tudo se resolve! (só que não)

nato_summit_2014_fightersAlguém na OTAN descobriu que a organização é uma aliança militar! Pois é, na cúpula realizada no País de Gales (com direito a show de aviõezinhos sobrevoando palanque e soltando fumaça colorida – quero ver fazer isso nos céus da Estônia, da Polônia ou próximo a Kaliningrado), os líderes decidiram pelo envio de uma “força de ação rápida” para garantir a defesa e a integridade territorial dos países-membros do Leste Europeu contra uma agressão externa (leia-se, da Rússia).

Há quem comemore essa atitude da Aliança Atlântica como um “ato de força que conterá o expansionismo de Moscou” e restabelecerá as boas relações no continente. Afinal, é a OTAN, né? Quem ousar se meter com ela terá uma resposta de 28 nações, com um potencial bélico significativo. Ok, só que não consigo acreditar nessa disposição de endurecer com a Rússia – será que Putin acredita? Será que os próprios líderes da OTAN acreditam?

A iniciativa aprovada hoje mais parece uma tentativa de se dissimular a incapacidade de ação. Entendi dois recados aí. O primeiro, para os países do Leste, particularmente os estados bálticos e a Polônia (sempre a Polônia), é uma mensagem para acalmar os nervos daquela gente (afinal, os líderes dali devem estar à base de Rivotril com o risco de “intervenção humanitária” russa): “Não se preocupem! Estamos juntos! Não vão atacar vocês porque sabem que estão sob nosso guarda-chuva! Acalmem-se!” – só que os poloneses já ouviram isso antes, há exatos 75 anos… e estonianos, letões e lituanos sabem o que são quatro décadas de ocupação russa.

Putin-em-desfile-militar-size-598O segundo recado foi para a Rússia: “A OTAN garantirá a defesa e integridade de seus países-membros! Temos garras (apesar de garras com unhas pintadas há algum tempo)! Não mexa conosco!” Só que o outro lado disso é que… a Ucrânia não é membro da OTAN. Portanto, para meio entendedor, fica claro que a Organização não vai dar passos mais largos do que esses contra o Urso. Seria temerário fazer alguma coisa mais incisiva…

Haveria um terceiro recado, este para a Ucrânia: “Vejam bem, a coisa não está boa para vocês. Damos apoio total a seu pleito… exceto apoio militar. Não esperem que encaremos a Rússia para defender russos (tá, ucranianos… mas vocês não são todos soviéticos?!?!?). E tratem logo de negociar a paz e aceitar os termos de Moscou. Tudo vai ficar bem!”.

nato_summit_2014Enfim, a incapacidade da OTAN para gerenciar essa crise me faz lembrar a habilidade da Liga das Nações nos momentos tensos dos anos 1930. E vai acabar com o mesmo destino: virar uma organização só para sustentar sua própria burocracia e com pouca ou nenhuma influência real no mundo. Não dá para desaparecer como o Pacto de Varsóvia. Será portanto, um morto-vivo errante pela política mundial…

É assim que vejo a crise da Ucrânia. Não há líderes ocidentais que tenham coragem de (juntos ou isoladamente) encarar Putin e conter suas pretensões… a não ser, claro, Frau Merkel. Aprendam com essa mulher. Ela é durona e uma boa interlocutora junto aos russos (que conhece bem). Gosto de Frau Merkel. Mas também gosto de Putin. Putin é KGB.

Otan aprova presença militar contínua no Leste Europeu

Deutsche Welle, 05/09/2014 – Link permanente http://dw.de/p/1D7mQ

Diante da atual ameaça representada pela Rússia, líderes acertam criação de nova força de reação rápida e manutenção de tropas nos países orientais da aliança.

Os líderes da Otan aprovaram nesta sexta-feira (05/09), durante cúpula no País de Gales, a criação de chamada força de reação rápida e a manutenção de uma presença contínua no Leste Europeu, onde alguns países-membros estão preocupados com os movimentos russos na Ucrânia. A nova “ponta de lança”, como também é chamada a força de reação rápida, deverá ser formada por milhares de soldados, prontos para entrar em ação em poucos dias.

O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a nova unidade enviará uma mensagem clara para potenciais agressores, como a Rússia. “Se você pensar em atacar um aliado, estará de frente com toda a aliança”, declarou ele durante o encerrameno do encontro de dois dias.

Continuar lendo

Kiev em duas semanas

Putin (1)A Rússia sempre teve sua História marcada por líderes fortes. Desde Ivã, o Terrível, passando por Pedro I, Catarina, a Grande, Alexandre II, Josef Stálin, para governar o maior país do globo parece que um punho de ferro tem sido o mais conveniente… Os fracos não têm muito espaço naquelas terras – vide o que aconteceu com Nicolau II, homem bom, mas que vacilou em um momento de extrema importância e sacrificou sua dinastia.

Nas últimas três décadas, certamente o nome forte que marcará a História russa é o de Vladimir Putin, ou Vlad, o Terrível. Jogando com ousadia e firmeza uma partida com as grandes potências, Putin tenta recuperar o prestígio da Grande Rússia, aí incluídos  territórios e pessoas que o perdidos desde o colapso da União Soviética. O alvo agora é a Ucrânia… mas, como assinala a reportagem da Deutsche Welle, os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) já colocam as barbas de molho (e devem colocar mesmo!).

“Se eu quiser, ocupo Kiev em duas semanas!” – essa frase, que teria sido dita por Putin ao Presidente da Comissão Européia, Durão Barroso, é bastante elucidativa do que está disposto a fazer o novo czar. E também do que ele pode fazer. Não acho que vá passear pelas ruas da capital ucraniana nos próximos dias… mas, com uma ameaça como essa, pode conseguir mais um pedaço daquele país… Isso é o que se chama “botar um bode na sala”. Claro que tudo vai depender de como reagem os ocidentais.

Putin está jogando. Está testando a União Européia e os EUA. Conhece as fraquezas e vulnerabilidades de seus antagonistas e as suas próprias. Sabe que a Europa continua atemorizada e divida e, realmente, pouco disposta a fazer alguma coisa mais firme pelos ucranianos (que, repetirei sempre, e por mais cínico que isso pareça, estão e sempre estiveram na zona de influência russa). Por outro lado, há sempre a paúra de que a Rússia continue sua expansão rumo a oeste – é um medo atávico, irracional. Não acredito que Putin fosse além das tradicionais fronteiras… soviéticas.

Continuando a análise sobre os antagonistas de Moscou, do outro lado do Atlântico, um líder que parece perdido, e que se revela surpreendentemente fraco e titubeante ao lidar com questões de política externa. Há muito não se via um Presidente dos EUA demonstrando tanta inabilidade ao lidar com os russos (talvez porque seja ela da geração pós-Guerra Fria). Claro que, diante desse quadro, Putin não vacila… e tenta abocanhar o quanto mais puder. Três décadas depois, parece haver uma inversão de papéis no temperamento dos líderes estadunidense e russo. Nos anos oitenta, Reagan era firme e Gorbatchev vacilante (gosto muito de Gorbatchev, que fique claro… e de Reagan).

Interessante que não há como não pensar na Europa do final dos anos 1930, quando britânicos e franceses conduziram uma malfadada política de apaziguamento diante das pretensões de um certo chanceler alemão. Deu no que deu. E, por falar em alemães, a solução para essa crise parece repousar cada vez mais na habilidade política da única entre os líderes europeus que ainda se mantém firme: Frau Merkel. Ainda bem que Frau Merkel está lá. Como alemã oriental, a Chanceler conhece bem os russos e conhece Putin. Sabe como Putin joga e, de fato, resta como a esperança do Ocidente para, como diria Garrincha, “negociar com os russos”. Se isso não acontecer, o tempo continuará nublado e cada vez mais sujeito a chuvas e trovoadas.

Gosto de Frau Merkel. Gosto de Putin. Putin é KGB.

world_04_temp-1353144383-50a7583f-620x348

Putin: “Se eu quiser, ocupo Kiev em duas semanas

Líder russo teria feito ameaça ao presidente da Comissão Europeia durante telefonema momentos antes da cúpula da UE, segundo jornal italiano. Merkel adverte que não se pode confiar no Kremlin.

Philip Verminnen – Deutsche Welle, 01/09/2014 – Link permanente http://dw.de/p/1D52c

“Se eu quiser, ocupo Kiev em duas semanas.” Em meio ao agravamento da crise no leste ucraniano, a frase teria sido dita pelo presidente russo, Vladimir Putin, ao presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, em conversa telefônica.

A informação é do jornal italiano La Repubblica. Barroso comunicou o ocorrido aos chefes de Estado e de governo presentes na cúpula da União Europeia, em Bruxelas, no último sábado (01/09). Continuar lendo

A crise da Ucrânia e o gás para a Europa

gas_ucraniaHá muito não se vive um momento tão tenso na Europa. Os líderes europeus parecem ter esquecido como lidar com a Rússia. E também esqueceram que, há cerca de setenta anos, havia 7 milhões de soldados soviéticos em território europeu.

Ok, muita coisa mudou. Porém, a Ucrânia continua zona de influência russa, goste-se disso ou não. E Moscou não vai aceitar resignado que Kiev migre para a esfera de Bruxelas (nem na União Europeia e muito menos na OTAN). Quando a corda apertar, a pergunta que se vai fazer é “quantas divisões tem Durão Barroso?”. Outra questão possível é: quanto de gás tem a Europa?

Sim, muita coisa mudou desde que as hordas bolcheviques marcharam sobre a Europa. A própria Europa mudou. Os anseios europeus mudaram. A Rússia, porém, não mudou muito. A Rússia será sempre a Rússia. E o inverno está chegando…

Segue artigo interessante da RIA NOVOSTI (percepção russa, portanto), sobre a crise relacionada à aproximação da Ucrânia com a União Européia.

jose-manuel-barroso-vladimir-putin-2012-6-4-8-51-19

RIA Novosti

The EU and Russia Policy: Happily Forgotten Lies

21:47 02/09/2014

MOSCOW, September 2 (RIA Novosti) – Some of the world’s worst criminals claimed that they committed their crimes in a fit of forgetfulness or oblivion, without actually realizing they were doing something wrong. Khodorkovsky for example complained to the German magazine Der Spiegel that he “sometimes suffers from memory holes.”

But of all the powerful people in the world, the EU commissioners are probably the most forgetful. When scanning their statements on Ukraine, one gets an impression of dealing with individuals who forget not only their own words but even of locations where they happen to be or to have been. Here are some examples. Continuar lendo

Sobre a crise na Ucrânia

Em continuidade àquela idéia de colocarmos vídeos em Frumentarius com reflexões sobre um pouco de tudo, seguem algumas breves considerações sobre a crise da Ucrânia. Creio que meus alunos de Relações Internacionais e de Direito Internacional possam se interessar. Abraço!

Verdade inquestionável

Notícia publicada pela RIA NOVOSTI no último dia 30, segundo a qual o Presidente em exercício da Ucrânia, Olexandr Turchynov, teria declarado a incapacidade das forças ucranianas comandadas por Kiev de retomar o controle das áreas separatistas do leste do país. Ao “jogar a toalha”, Turchynov abre espaço para mais avanços de Moscou, inclusive com iniciativas separatistas em outras partes da Ucrânia, como a que acaba de ocorrer em Odessa. A tensão aumenta e a coisa só piora para a Ucrânia…

Turchynov

RIA Novosti

Ukraine Unable to Control Situation in East – Acting President

13:15 30/04/2014

Acting Ukrainian President Olexander Turchynov on Wednesday confessed that security officials are incapable of taking under control the situation in eastern Urkaine’s Luhansk and Donetsk regions.

KIEV, April 30 (RIA Novosti) – Acting Ukrainian President Olexander Turchynov on Wednesday confessed that security officials are incapable of taking under control the situation in eastern Urkaine’s Luhansk and Donetsk regions. Continuar lendo

Ucrânia: a situação cada vez mais russa…

ucrania_guerra civilNuvens negras sob os céus da Ucrânia. Separatismo, conflito entre tropas ucranianas e forças pró-Rússia, aeronaves ucranianas abatidas, dezenas de mortos. Indubitavelmente, a guerra civil começou na terra originária dos povos eslavos. Novas frentes são abertas, inclusive na famosa cidade de Odessa, na costa do Mar Negro. Ou seja, os distúrbios do leste chegam a outras partes do país, cujo esfacelamento parece questão de tempo… E quanto mais Kiev se mova, mais Moscou reagirá… Enquanto isso, Washington, Bruxelas e Berlim mantêm a apatia e a inércia.

É surpreendente a possibilidade de um conflito interestatal clássico na Europa no início do século XXI. Mas há possibilidade de que isso ocorra. E o Ocidente vê-se diante de situação tremendamente delicada. Afinal, o antagonista é a Rússia, e a Rússia liderada por Putin. Sob uma perspectiva pragmática, é muito complicado qualquer movimento contra o urso… pobres ucranianos!

Desde o início acompanho a crise na Ucrânia. E desde o início tenho dito que Putin continuará calculando seus movimentos e se expandindo em busca de mais áreas de influência. Afinal, lembro que não foram poucas as vezes em que as relações internacionais foram comparadas a um complexo jogo de xadrez. E os russos são conhecidos tradicionalmente como grandes enxadristas…

Segue excelente artigo da Reuters sobre a situação na Ucrânia…

ucrania_guerra civil2

Dozens die in Odessa, rebels down Ukraine helicopters

Reuters, 02MAIO2014, By Maria Tsvetkova

SLAVIANSK, Ukraine (Reuters) – Dozens of people were killed in a fire and others were shot dead when fighting between pro- and anti-Russian groups broke out on the streets of Odessa on Ukraine’s Black Sea coast on Friday, opening a new front in a conflict that has split the country. Continuar lendo

A crise da Crimeia sob uma perspectiva russa…

Alexander ChekalinExcelente artigo da Der Spiegel sobre a maneira como o Kremlin percebe a situação da Crimeia. Recomendo a leitura, sobretudo a meus alunos de Relações Internacionais. Muito interessante o fato de, como assinala o texto, a popularidade de Putin ter saltado de 67% à época dos jogos de Sochi para cerca de 80% hoje. Isso significa o apoio que o governante tem da população, que o vê como um líder forte e obstinado (exatamente do que os russos gostam…). Note-se, ainda, que até Gorbachev, prêmio Nobel da Paz, e último dirigente da União Soviética, fala em defesa de uma Crimeia na Federação da Rússia.

As perguntas centrais do artigo também merecem reflexão: a “reunificação”  da Crimeia é apenas mais um movimento contrário à redução da Rússia à condição de potência regional, em uma tentativa de recuperar a influência da época soviética, ou se trata do começo de uma série de “reconquistas” de um país que há séculos se vê como a potência hegemônica da Europa Oriental? Seria Putin um neoimperialista ou um líder que, colocado contra a parede pelas pressões domésticas e pelos desafios externos, mostra-se decidido em proteger os interesses de segurança nacional de seu país?

RUSSIA-UKRAINE-POLITICS-CRISIS-KREMLINOutra questão interessante se refere à percepção estratégica para a Defesa da Rússia diante da OTAN. O artigo assinala com propriedade que, nos tempos da União Soviética, a distância entre Moscou e as linhas da OTAN era de 1.800 km. Caso a Ucrânia ingresse da Aliança Atlântica (como desejam os EUA), essa distância se reduzirá a 500 km, e a Rússia perderia a “profundidade estratégica” tão relevante e que a protegeu das invasões de Napoleão e Hitler… Sete décadas após o fim da II Guerra Mundial, essa preocupação se mantém presente no imaginário daquele povo e na doutrina militar russa. Nesse sentido, continuo achando que o ingresso da Ucrânia na OTAN seria não só humilhante, mas inaceitável para Kremlin (e com razão, se considerarmos a perspectiva russa).

Destaco, por oportuno, a parte do artigo que se refere às possibilidades russas diante da crise e das restrições que lhe são feitas pelos ocidentais. No que concerne à Ucrânia, Putin tem o tempo e as populações russas naquele país a seu favor. Afinal, apesar das reticências do governo de Kiev, o país ainda é muito dependente de seu irmão-maior eslavo, e a minoria russa na Ucrânia é expressiva. Em termos de potências ocidentais, parecem que estas têm mais a perder do que a Rússia em uma queda de braço com Moscou. A economia européia depende mais da energia russa que os russos do comércio com a Europa. 

Finalmente, em se tratando de oportunidades, restrições ocidentais à Rússia podem fazer com que o maior país do mundo se volte para a Ásia, com novas parcerias com a China e a Índia (ambos que necessitarão, cada vez mais, de energia e matéria-prima que os russos têm de sobra). Nesse contexto, oportunidades podem surgir também para países mais afastados, como o Brasil. A falta de posicionamento do governo brasileiro nesta crise pode ser, em última instância, positiva para os interesses econômicos e geopolíticos do Brasil – desde que saiamos, alguma hora, da inércia.

Continuo acreditando que a anexação da Crimeia pela Rússia é fato consumado. Muito difícil reverter essa situação. O jogo, porém, não acabou. Ainda há muitas peças neste tabuleiro, e nenhum dos reis está nem de longe em xeque. Enquanto acompanhamos os movimentos, aproveito para lembrar que os russos são conhecidos por sua habilidade no xadrez…

People pass a mural showing a map of Crimea in Russian national colours on a street in Moscow

SPIEGEL ONLINE
03/25/2014 06:10 PM

‘Dear to Our Hearts’ – The Crimean Crisis from the Kremlin’s Perspective

By Matthias Schepp

The EU and US have come down hard on Russia for its annexation of the Crimean Peninsula. But from the perspective of the Kremlin, it is the West that has painted Putin into a corner. And the Russian president will do what it takes to free himself.

Last September, Vladimir Putin invited Russia experts from around the world to a conference, held halfway between Moscow and St. Petersburg. At the gathering, the Russian president delivered a passionate address. “We will never forget that Russia’s present-day statehood has its roots in Kiev. It was the cradle of the future, greater Russian nation,” Putin said. He added that Russians and Ukrainians have a “shared mentality, shared history and a shared culture. In this sense we are one people.”

Continuar lendo

O Urso está lá… e tem fome.

Matéria interessante da Deutsche Welle sobre o temor das ex-repúblicas soviéticas das pretensões expansionistas russas… Não acredito que Putin fará outros movimentos expansionistas por agora… Isso não quer dizer que ele parou com suas idéias de aumentar a esfera de influência de Moscou. Lembrem-se, Putin é KGB.

De toda maneira, se eu tivesse a Rússia como vizinho também estaria preocupado (menos a China, claro, porque a China não precisa se preocupar…).

Ex-repúblicas soviéticas na mira de Moscou

Depois da Crimeia, outros vizinhos da Rússia podem ser vítimas do novo expansionismo de Putin. DW examina as situações dos diferentes países, do Báltico ao Cáucaso, passando pela União Europeia.

DW 22/03/2014

Após a anexação da península da Crimeia à Federação Russa, observadores se perguntam se o presidente Vladimir Putin teria na mira outros países na periferia da Rússia. A Deutsche Welle apresenta os eventuais candidatos na campanha expansionista do Kremlin.

Continuar lendo

Crimeia: agora a coisa está russa!

putin_acordo5-640x427Nesta sexta, um decreto de Vladimir Putin confirmou o ingresso da Crimeia na Federação da Rússia. As pessoas têm-me perguntando a respeito. Algumas reflexões, portanto:

1) Difícil dizer se Putin tem uma “grande estratégia” para a região, para o entorno soviét…, digo, russo, ou mesmo para uma política externa retrô, que reviva os tempos da Guerra Fria. Mas, o que posso dizer é que, indiscutivelmente, Putin e Levrov não são bobos ou ingênuos nesse jogo, e não agem movidos por emoções ou achismos. Sabem que estão em um jogo, um grande jogo, e calculam seus movimentos…

2) Com o referendo de 16 de março, do qual participaram 1,2 milhão de eleitores (de um total de 1,5 milhão aptos a votar), 96,8% dos votantes decidiram pela incorporação à Rússia. Apesar da presença de tropas russas disfarçadas de russas e das críticas ocidentais, parece pouco crível que o povo da Crimeia não quisesse essa opção. Afinal, 58% dos habitantes são russos, a região sempre pertenceu à Rússia e é área de interesse estratégico do Kremlin. Vejo aí uma iniciativa brilhante de Moscou, pois o valioso princípio da autodeterminação dos povos, tão caro dos ocidentais, imperou nas urnas. O que pode ser dito contra 96,8% de eleitores? Valeria a pena afrontar os russos por algo que a população da península decidiu?

manchetes-russia-ucrania-crimeia-g73) A Crimeia volta, portanto, à Rússia, onde sempre esteve e de onde nunca deveria ter sido tirada (o que ocorreu por uma decisão de Krushev, em 1954). E, em que pesem os protestos de Kiev, parece fato consumado. Afinal, já foi dada a ordem para as tropas ucranianas deixarem o território da Crimeia e os ocidentais, apesar dos protestos, não ousaram movimentos mais firmes.

4) Moscou ganha a Crimeia, mas perde a Ucrânia. Nesse sentido, Kiev deve migrar para a esfera de influência da União Européia. Resta saber se os russos vão deixar isso acontecer, pois pareceria uma derrota da política externa de Putin.

crimeia russia5) Diante da reação tísica do Governo Obama, e da resposta firme de Moscou, parece que essa jogada foi vencida pelo Kremlin. Daí para imaginar um abalo mais profundo nas relações entre russos e estadunidenses, creio que isso não ocorrerá… As forças agregadoras são maiores.

6) As tropas da OTAN já estão em alerta na Polônia e nos Países Bálticos. Tudo indica que os russos pararão na Crimeia (ao menos por enquanto). De toda maneira, se fosse da OTAN estaria com as barbas de molho…  E não me surpreenderia se Moscou começasse a reorganizar um novo Pacto de Varsóvia (o que faria tremer todo mundo a Oeste do Dnieper – menos os bielorrussos, que serão sempre aliados dos russos).

Continuamos atentos aos desdobramentos nas terras eslavas… Ainda não acabou…

crimeia russia2

RIA Novosti

Putin Signs Final Crimea Reunification Decree

17:37 21/03/2014

Russian president Vladimir Putin signed a decree Friday on the ratification of the treaty providing for the reunification of the Crimean Peninsula with Russia.

MOSCOW, March 21 (RIA Novosti) – Russian President Vladimir Putin signed a decree Friday on the ratification of the treaty providing for the reunification of the Crimean Peninsula with Russia.

The treaty had been already ratified by both houses of the Russian parliament. Continuar lendo

Guerra cibernética na Ucrânia

cyberattackEnquanto no Brasil se comemora o resultado do desfile das escolas de samba do grupo especial (hein?), na Ucrânia a situação está cada vez mais russa… Segue artigo muito interessante, enviado por um caríssimo amigo lá do Timor Leste, que trata de ataques cibernéticos contra aquele país.

Lembro que a guerra neste novo século pode-se dar em diferentes cenários, com as armas mais distintas. E um campo absurdamente sensível é o cibernético. Daí a importância de estarmos preparados… Daí meu pleito por investimento maciço em segurança e defesa cibernética. Os danos de um ataque no mundo virtual podem ser tão ou mais nefastos que um ataque com mísseis ou com a infantaria contra um território. Ah sim, atentem na reportagem para o comentário sutil sobre a origem do ataque.

Em tempo, sempre convém lembrar que, por ocasião da guerra entre a Rússia e a Geórgia, em agosto de 2008, antes que a primeira bota russa estivesse em solo georgiano, os sistemas deste país já haviam colapsado sob ataque cibernético. Mas, por aqui, o que importa é quem venceu o desfile do grupo especial…

Finantial Times – March 7, 2014 7:25 pm

Cyber Snake plagues Ukraine networks

By Sam Jones, Defence and Security Editor
A magnifying glass is held in front of a computer screen©Reuters

An aggressive cyber weapon called Snake has infected dozens of Ukrainian computer networks including government systems in one of the most sophisticated attacks of recent years.

Also known as Ouroboros, after the serpent of Greek mythology that swallowed its own tail, experts say it is comparable in its complexity with Stuxnet, the malware that was found to have disrupted Iran’s uranium enrichment programme in 2010.

 The cyber weapon has been deployed most aggressively since the start of last year ahead of protests that climaxed two weeks ago with the overthrow of Viktor Yanukovich’s government. Continuar lendo

Putin e seus inimigos

Outra boa matéria da Spiegel sobre a questão da Ucânia. O foco aqui é em Vladimir Putin e seus argumentos. Recomendo leitura.

Military personnel, believed to be a Russian serviceman, stands guard on military vehicle outside the territory of a Ukrainian military unit in the village of Perevalnoye outside Simferopol

SPIEGEL ONLINE
03/03/2014 01:01 PM

Ukraine Conflict – Putin Strengthens His True Enemies

A Commentary by   in Moscow

Although Russia has espoused moral justifications for its invasion of Crimea, President Vladimir Putin’s move is all about geopolitics. His short-sighted logic, however, could bring Ukrainian nationalists to power — and create a whole new set of problems.

Whenever Russia pursues its own interest against the will of the international community, a dictum by Czar Alexander III springs to mind. Russia, he said, has only two allies: its army and its navy. If you can believe the Kremlin’s propagandists, however, a new, unexpected ally has come to Moscow’s defense: the Western press. According to the website “Sputnik and Pogrom,” the Western media have “begun to support the Russian Federation’s course of action in the Crimean crisis.”

Continuar lendo

Frau Merkel e a Rússia

Matéria interessante sobre o papel de Frau Merkel na crise ucraniana. A Chanceler está à frente da principal potência européia, sabe ser prudente e firme e conhece bem os russos – melhor que qualquer outro líder ocidental. De toda maneira, está à frente da Alemanha, que há cem anos tem uma relação um pouco conturbada com a Rússia…

File photo shows German Chancellor Merkel and Russian President Putin listening to their national anthems before talks at Chancellery in Berlin

SPIEGEL ONLINE
03/04/2014 12:56 PM

Crimean Crisis – All Eyes on Merkel

By  and Gregor Peter Schmitz

As the conflict with Russia over Crimea intensifies, Germany is playing a central role in communications with Russian President Vladimir Putin. But the international community has doubts that Chancellor Angela Merkel can pull it off.

Germany had only recently announced the end of its era of restraint. German President Joachim Gauck, Defense Minister Ursula von der Leyen of the Christian Democrats and Foreign Minister Frank-Walter Steinmeier of the Social Democrats have all argued that it’s time for Germany to play a greater role in the world.

Steinmeier couldn’t have expected that he would need to follow-through on his push for an “aggressive foreign policy” so quickly. But the dramatic escalation in Crimea needs quick answers and it has become a focus of Chancellor Angela Merkel’s government in Berlin.

“Europe is, without a doubt, in its most serious crisis since the fall of the Berlin Wall,” Steinmeier said on Monday. “Twenty-five years after the end of the conflict between the blocs, there’s a new, real danger that Europe will split once again.” Continuar lendo

Mais deserções…

mísseis A Voz da Rússia anunciou nesta segunda que mais três grupos (que lá chamam de regimentos) de mísseis antiaéreos das Forças Armadas da Ucrânia  (os 50º, 55º e 147º regimentos de mísseis antiaéreos, localizados em Eupatória, Feodosia e Fiolente) passaram para o lado das autoridades da Crimeia – leia-se, Moscou. 

Segundo o porta-voz da República Autônoma, “no total, mais de 700 soldados e oficiais declararam a sua disponibilidade para defender a população da Crimeia. As unidades de defesa aérea, que passaram para o lado do governo, contam com mais de 20 complexos de mísseis antiaéreos Buk e mais de 30 sistemas de mísseis antiaéreos S-300PS”. Seriam já cerca de 5.500 soldados “ucranianos” a passar para o lado dos russos.

Assim, das 34 unidades militares ucranianas estacionadas na Crimeia, 23 já teriam manifestado lealdade a Moscou. Some-se aí a frota ucraniana (ou ex-frota ucraniana, ou ex-frota soviética do Mar Negro) de Sebastopol que optou por aderir à causa da secessão.

Diante desse quadro, alguém tem dúvida de que a Crimeia deixou de pertencer à Ucrânia? O problema é se o exemplo for seguido pela região leste do país, de maioria russa. Isso acontecendo, a probabilidade de secessão da Ucrânia é  alta. Com o Urso à espreita, as lideranças do governo provisório em Kiev têm muito com o que se preocupar…

Segue artigo da RIA Novosti sobre as deserções…

RIA Novosti

5,500 Ukrainian Soldiers Defect to Serve an Independent Crimea

18:22 04/03/2014

More than 5,500 soldiers have defected from Ukraine’s military to serve the autonomous republic of Crimea, the region’s newly appointed leader said.

 MOSCOW, March 4 (RIA Novosti) – More than 5,500 soldiers have defected from Ukraine’s military to serve the autonomous republic of Crimea, the region’s newly appointed leader said.

Sergei Aksyonov, named prime minister last week in a local parliamentary vote, said Tuesday that talks with unit commanders led to the defections of soldiers to join an independent Crimean military. Continuar lendo

Solução à Munique

5311de3312d78A crise internacional envolvendo a Ucrânia parece já ter chegado a seu ápice. Os oponentes já mostraram suas cartas, seus dentes e suas garras. A Crimeia já se encontra sob ocupação russa. Putin não pretende arredar de lá. E, no Ocidente, apesar das palavras firmes de alguns líderes, todos sabem que não vale a pena afrontar o Urso por causa da Ucrânia – simples assim, é como funciona o cálculo estratégico em política internacional. Não obstante, pressões continuam para uma medida mais incisiva por parte dos ocidentais – iniciativa essa que dificilmente virá. O que fazer então?

A História (ah, a História!) é sempre pródiga em exemplos e referências para os que tentam navegar nos mares tortuosos das Relações Internacionais. E com a situação na Ucrânia não deve ser diferente. Tudo parece caminhar nesse caso para uma solução no melhor estilo da Conferência de Munique, de 1938.

Putin já disse o que quer. A Crimeia é russa desde sempre (era russa até 1954, quando Kruschev, nascido bem pertinho da fronteira russa com a Ucrânia, resolveu, em um típico ato de solidariedade entre os povos da União Soviética, transferir o território para a República Socialista Soviética da Ucrânia – o que, em termos de de dominação soviética, não significava absolutamente nada…), sua população é russa, e há uma outra série de razões para se dizer que a região deve ficar sob a égide de Moscou (exatamente como os Sudetos com relação à Alemanha, em 1938).

chamberlain 1938Os ocidentais, fora o discurso altivo, estão titubeantes, não querem confusão com a Rússia (ainda mais por uma região que sempre esteve sobre hegemonia russa), e buscam desesperadamente uma saída honrosa para a crise (exatamente como Chamberlain e Daladier, em 1938). Frau Merkel está em contato direto com Vladimir, que também tem conversado bem com Obama…

Portanto, parece que o espírito de Munique deve imperar na crise da Ucrânia. Os russos ficam com a Crimeia, os ocidentais saem eufóricos após conseguirem garantir a integridade do território ucraniano (tá, porque a Crimeia, repita-se, não é território ucraniano) e a manutenção dos exércitos russos do outro lado da fronteira, e o mundo suspira aliviado porque não chegamos a um conflito direto entre as grandes potências (exatamente como em Munique, em 1938).

Mas falta um ator nesse cenário… Ah, sim! A Ucrânia! E como ficam os ucranianos? Ficam na sala ao lado, esperando o resultado da negociação em que os ocidentais os salvarão dos russos. Simples assim. E que os ucranianos possam se contentar em manter sua independência e, de fato, a existência de seu país (exatamente como aconteceu com os tchecos, em 1938).

Exatamente como aconteceu em 1938, tudo ficará bem! Claro que, depois de perder os Sudetos, a Tchecoslováquia entrou em colapso, seu território foi dilacerado, com outros países tomando seus nacos ao norte, ao sul e ao leste, a economia entrou em crise e, alguns meses depois, os alemães “marchavam pacificamente” sobre as ruas da belíssima Praga, que seria a capital do Protetorado (alemão) da Boêmia e Morávia. Sim, alguns meses após a Conferência de Munique, a Tchecoslováquia sucumbiu… Mas o mundo estava em paz… Até que, um ano depois, começou a II Guerra Mundial.

Na crise da Ucrânia, portanto, esperemos que tudo acabe de maneira pacífica, e que seja restabelecida a harmonia entre os povos. Exatamente como aconteceu em Munique, em 1938.

2nsa-monitored-world-leaders.si

Mobilização e “Atos de Guerra”

ukranian presidentHá muito não vivíamos momentos de tamanha tensão… O Primeiro-Ministro ucraniano declarou mobilização total de suas (frágeis) forças armadas. Disse, ainda, que considera as ações de Moscou uma “declaração de guerra” – termos fortes, ainda mais em um momento de tamanha crise… 

A Crimeia já está ocupada pelos russos, e as lideranças locais declaram-se sob a proteção de Moscou (isso lembrou-me muito a situação em Dantzig, em agosto de 1939). Para complicar mais, o novo comandante da força naval ucraniana, empossado há dois dias, acabou de manifestar lealdade à Rússia e criou-se a “frota da Crimeia” com as naus que estavam em Sebastopol (ao lado da frota russa do Mar Negro) – ontem, eu disse aqui que isso logo poderia acontecer.

_73313166_76e8d616-6be8-4613-9a31-741d2fd20c38No Ocidente, a OTAN repudia a ofensiva russa… mas, por enquanto, fica só em palavras. O problema é que logo a Aliança Atlântica pode-se ver obrigada a agir, com fundamento no acordo de segurança firmado com Kiev há alguns anos. Situação muito parecida com a de Grã-Bretanha e França com relação à Polônia às vésperas da II Guerra Mundial. O apaziguamento tem limites…

Da parte de Washington, John Kerry também usou termos fortes, sobretudo quando vindos de um Secretário de Estado: falou em “atos de agressão” dos russos, dando sinal de que os norte-americanos já estariam considerando a tradicional justificativa “moral” para agir ou para pressionar Moscou mais ainda. O Kremlin, por sua vez, permanece inabalável na defesa dos interesses russos em sua natural área de influência. Parecem tempos de Guerra Fria… Só que Obama não é Kennedy, e tampouco Putin é Krushev. As próximas horas serão decisivas.

ukraine-crisisMobilização, ameaças, segurança coletiva, alianças militares, intervenções militares, atos de guerra, declaração de guerra. Na condição de historiador, fica difícil saber em que época estamos.

Segue matéria muito interessante da Reuters sobre o desenrolar da crise…

Ukraine mobilizes after Putin’s ‘declaration of war’

Photo
4:36pm EST
Reuters – By Natalia Zinets and Alissa de Carbonnel

KIEV/BALACLAVA, Ukraine (Reuters) – Ukraine mobilized for war on Sunday and Washington threatened to isolate Russia economically, after President Vladimir Putin declared he had the right to invade his neighbor in Moscow’s biggest confrontation with the West since the Cold War.

“This is not a threat: this is actually the declaration of war to my country,” Ukraine’s Prime Minister Arseny Yatseniuk said in English. Yatsenuik heads a pro-Western government that took power when the country’s Russia-backed president, Viktor Yanukovich, was ousted last week. Continuar lendo

A águia observa

Os EUA estão fazendo seu papel, instando a Moscou a retirar os soldados russos disfarçados de soldados russos da Crimeia e a buscar uma solução pacífica para a crise da Ucrânia. Poderia ser diferente? A alternativa é uma confrontação com o Urso, que não é a Líbia, a Síria ou mesmo o Iraque. De fato, a Rússia é a Rússia e, para os incautos, é governada por Vladimir Putin (gosto de Putin, Putin é KGB). Assim, Washington está em situação bastante delicada se considerar qualquer movimento mais incisivo… Não obstante, se não fizer nada, Obama passa a imagem de fraco e de incapaz de defender os interesses de aliados quando o adversário realmente importa.

Cedo demais para pensar em conflito? Naturalmente. Afinal, é a Administração Obama! São os democratas na Casa Branca (e pode ser com isso que o Kremlin esteja contanto e apostando suas fichas). Diante do quadro, não consigo deixar de lembrar que, se não estiver enganado (não fui conferir), nos últimos cem anos, das guerras em que os EUA participaram diretamente, ou acabaram envolvidos e tiveram que usar a força, à exceção das duas Guerras do Golfo, todas ocorreram em administrações democratas… Pois é…

Kerry, Hagel, Dempsey Testify on Use of Force in Syria

Crise da Ucrânia: EUA ameaçam Rússia

O secretário de Estado norte-americano John Kerry pediu a Rússia para retirar imediatamente suas tropas e a aceitar a intermediação internacional na Ucrânia. Continuar lendo

Tambores de guerra

soldier russian crimeaPrimeiro-ministro da Criméia solicita proteção a Moscou. Soldados russos disfarçados de soldados russos estão em território ucraniano e ocupam posições-chave. O Senado russo já autorizou Putin a uma ação militar na Ucrânia. Kiev decreta mobilização geral das Forças Armadas. Ocidentais esbravejam, criticam o Kremlin, instam Putin a conter-se, mas estão realmente preocupados em não atiçar tanto o Urso que se movimenta em seu território, buscando a presa em sua área de caça (ou, como diriam os internacionalistas, em sua zona de influência)….

ukranian troops

Não estou dizendo que haverá guerra. Afinal, em pleno século XXI, em território europeu e envolvendo grandes potências – inclusive potências nucleares -, um conflito assim poderia ser realmente de consequências extremamente desastrosas não só para europeus, russos ou estadunidenses… Não estou dizendo que haverá guerra, pois o que se vê agora são as peças dispostas em um grande tabuleiro, com jogadores/oponentes habilidosos, experientes e pragmáticos – como deve ser.

Não estou dizendo que haverá guerra. Essa não seria a saída racional da crise. Entretanto, a História ensina que em situações de significativa tensão – e a presente é uma delas – por mais racionalmente que se opere, podem acontecer variáveis inesperadas e eventos secundários, de menor importância no grande jogo, mas que funcionam como estopim para um conflito. Sim, há sempre os insignificantes acontecimentos que podem servir de estopins, de gatilhos para o pior. O deus da guerra é muito habilidoso nesses assuntos e vela por seus filhos…

bandeiras rasgadas ucrania russiaNão estou dizendo que haverá guerra. Porém, como já comentei aqui em Frumentarius, o clima está muito semelhante àquele das semanas que antecederam a invasão da Polônia pela Alemanha, em 1º de setembro de 1939: interesses de grandes potências em xeque, territórios ameaçados, um país menor no meio do jogo, feras mostrando os dentes, mobilização de tropas, trocas de advertências… E isso aconteceu há 75 anos… Ademais, com as coincidências que fazem do mundo um lugar fascinante, 2014 é o ano do centenário do início da I Guerra Mundial, a Grande Guerra – que começou, por sinal, com um evento secundário…

O clima no planeta está tenso. No Brasil, é Carnaval. Ziriguidum…

russia-ukraine-war-sevastopol-crimea-georgia

Autoridades da Crimeia pedem a Putin que garanta a paz

Voz da Rússia, 01MAR2014 – http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_03_01/autoridades-da-crimeia-pedem-a-putin-garantir-paz-7438/

Serguei Aksenov, primeiro-ministro da Crimeia, emitiu na manhã deste sábado uma declaração urgente. Ele apela ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, pedindo assistência para assegurar a paz e a estabilidade no território da república autônoma. Continuar lendo

Começou!

interventionSeriam dois mil homens ocupando pontos estratégicos na Criméia: Simferopol, a capital regional e Sebastopol, onde está a frota ucraniana e a frota russa do Mar Negro. Obviamente são forças russas. Acompanhando ansiosamente a reação do Ocidente…

E, para quem quiser ver um trecho do discurso de Yanukovich, clique aqui. Interessante os termos que parecem vindos direto da União Soviética…

Armed men seize two airports in Ukraine’s Crimea, Yanukovich reappears

Photo
4:13pm EST

Reuters, 28FEB2014 – By Alissa de Carbonnel and Alessandra Prentice

SIMFEROPOL, Ukraine (Reuters) – Armed men took control of two airports in the Crimea region on Friday in what the new Ukrainian leadership described as an invasion by Moscow’s forces, and ousted President Viktor Yanukovich surfaced in Russia after a week on the run.

Yanukovich said Russia should use all means at its disposal to stop the chaos in Ukraine as tension rose on the Black Sea peninsula of Crimea, the only region with an ethnic Russian majority and the last major bastion of resistance to the overthrow of the Moscow-backed leader.

Acting President Oleksander Turchinov accused Russia of open aggression and said Moscow was following a scenario simliar to the one before it went to war with fellow former Soviet republic Georgia in 2008. Continuar lendo

Ucrânia: o pior ainda não passou…

158772077Os amigos têm-me perguntado sobre minha percepção do que se passa na Ucrânia. Reitero minhas preocupações do post anterior. A crise ainda não acabou…

O país está cada vez mais dividido, pois parece que se organiza uma resistência ao novo governo no Leste do país, de maioria étnica russa. O próprio Yanukovich, abrigado na Rússia, continua se dizendo o legítimo governante da Ucrânia. “Sim”, alguns diriam, “mas é assim que faria qualquer líder deposto em semelhantes circunstâncias”. O problema é que ele fez esse pronunciamento a partir da Rússia. Daí vamos às reflexões:

yanukovich1) Yanucovich, apesar de caído, não está morto. E pode contar com apoio de parte da população e de grupos do Leste da Ucrânia em uma eventual resistência à nova ordem. Nesse caso, é de se esperar que Moscou não fique quieto assistindo…

2) Sim, Moscou pode intervir. Exercícios militares são feitos na fronteira. Tropas estão mobilizadas. E não se deve descartar a hipótese de intervenção militar à velha moda do que acontecia à época do Pacto de Varsóvia – mesmo porque, se a Ucrânia não é como a Geórgia, tampouco é como a Hungria ou a Tchecoslováquia. O país era parte do Império Soviético até 1991. O que estou tentando dizer é que, com a Ucrânia, a situação é mais sensível, os interesses russos são significativos e a coisa pode piorar.

3) Ainda que não haja intervenção militar direta de Moscou, naturalmente o Kremlin o fará não-oficialmente, seja usando seu pessoal de forças especiais, seu aparato de inteligência, sua capacidade de influência na região, ou tudo isso ao mesmo tempo agora! Repito, a Ucrânia era parte do Império Soviético até 1991 e, para algumas lideranças em Moscou (ou na própria Ucrânia), nunca deveria ter deixado de sê-lo.

Sleeve_Insignia_of_the_Russian_Black_Sea_Fleet.svg4) E tem a Criméia… alguém em sã consciência acredita realmente que os russos abririam mão da Criméia? É uma das áreas mais estratégicas para o país! A propósito, no momento em que escrevo, já há tropas russas ocupando Sebastopol e Simferopol… Isso para não falar da frota do Mar Negro… Um amigo que chegou recentemente da Ucrânia mostrou-me as fotos da disposição das frotas russa e ucraniana em Sebastopol – as duas ficam juntas, os navios são semelhantes, pertenciam à frota soviética até 1991… De fato, é só trocar a bandeira e ocupar os navios.

5) Um desfecho pacífico (digo, sem um conflito internacional envolvendo ocidentais e russos) pode ser a fragmentação da Ucrânia… o país pode acabar dividido… Só não creio que será tranquila essa secessão como foi a Revolução de Veludo na Tchecoslováquia, há duas décadas. Sangue correrá,  o país ficará ainda mais fragilizado e o futuro é tenebroso…

839-i7BBd.AuSt.556) Tenho lá minhas dúvidas sobre a reação ocidental quando a coisa esquentar mais e os russos entrarem definitivamente no jogo. Será que a União Européia e os Estados Unidos vão realmente intervir em favor da Ucrânia? Nesse jogo, Putin parece mais seguro e os ocidentais bem hesitantes…

Enquanto escrevo, a situação me faz lembrar o que aconteceu em setembro de 1939, na Europa Oriental… com a invasão da Polônia pelos alemães, em 1 de setembro, os ocidentais, que haviam procrastinado a reação à Alemanha mas empenharam seu apoio a Varsóvia, tiveram que entrar em guerra contra Hitler em socorro desesperado aos poloneses (ou, mais precisamente, à sua própria honra)… Inimaginável uma guerra nos moldes daquela de 1939-1945… Inimaginável europeus ocidentais (ou norte-americanos) entrando em conflito com os russos por causa de um povo e um território que (na visão de muita gente, pertence mesmo aos russos)… Inimaginável uma nova Guerra Fria… Inimaginável?

Bom, se a história realmente se repetir, lembro que em 2014 completa-se um século do desencadeamento do maior conflito armado até então: a I Guerra Mundial… Um século, duas guerras mundiais, uma Guerra Fria se passaram. Será que as lições foram aprendidas?

3124636E-E977-4986-8ED5-964DD4CA9644_mw1024_n_s

Um já foi… Qual será o próximo a cair de maduro?

world_01_temp-1385803778-5299b002-620x348 Tudo indica que Yanukovich está fora do jogo político da Ucrânia e que a oposição venceu. Vejo a notícia com ressalvas porque o inesperado pode acontecer naquela bela e rica parte do mundo… Moscou ainda não se manifestou sobre a queda do presidente ucraniano. Se estiver confirmado que foi deposto, podemos estar diante de grandes transformações naquele país, com algumas possibilidades não-necessariamente excludentes: 1) uma aproximação com o Ocidente e com a União Européia e mais liberdade e democracia; 2) um movimento de xeque russo, que pode ser surpreendente; 3) a fragmentação do país.

De toda maneira, parece que um ditador já foi. A milhares de quilômetros que Kiev, outra crise de governabilidade coloca milhares de pessoas contra um regime autoritário: apesar da proximidade com o Brasil, parece que chega menos notícia aqui da Venezuela que da Ucrânia… Será que é porque ali é o companheiro Maduro e o regime autoritário bolivariano (detesto esse termo, e acho que o grande Bolívar também odiaria) que estão na berlinda?

2014-02-16T194828Z-1110150863-GM1EA2H0ABH01-RTRMADP-3-VENEZUELA-PROTESTS-size-598Logo escreverei aqui sobre a Venezuela. A situação ali é muito preocupante também. E gente tem sido presa, tem desaparecido, tem sido ferida e morta. O governo brasileiro mantém seu apoio a Maduro. O Mercosul (quê?) também, apesar da cláusula democrática (ah, sim! haveria uma coisa assim no bloco). Nem vou falar da Unasul…

16fev2014---manifestante-participa-de-protesto-em-altamira-regiao-metropolitana-de-caracas-venezuela-exigindo-a-libertacao-dos-estudantes-presos-em-manifestacoes-anteriores-neste-domingo-16-1392613640A cobertura sobre os efeitos da crise venezuelana por aqui é ínfima. Parece que os brasileiros estamos completamente apáticos diante do que ocorre no país vizinho. Não estamos, ao menos alguns. Esta semana, por exemplo, um grupo de jovens e bravos estudantes fez um protesto diante da Embaixada da Venezuela contra as violações aos direitos humanos e o autoritarismo do regime de Caracas. Perguntei sobre a cobertura da mídia à manifestação. Resposta: inexistente. Meus parabéns ao grupo pela coragem e pelo exercício de um direito fundamental na democracia!

Ucrania4Bom, como estamos na América Latina, há sempre o risco do novo Caracazo acabar antes de qualquer resultado que não seja a contabilização das vítimas que terão caído em vão. Ao menos na Ucrânia, isso parece não ter acontecido. Agora em Kiev é hora de chorar os mortos e sonhar com um futuro de liberdade econômica, política e social. E é tempo de se planejar um país em que o discurso autoritário, as ideologias anacrônicas, a corrupção e a falta de compromisso com a coisa pública não devem prosperar. A lição está dada, em que pese o sangue que foi lamentavelmente derramado pela liberdade. Temos muito que apreender com os ucranianos.

rtx199bb.si