Nesta sexta, um decreto de Vladimir Putin confirmou o ingresso da Crimeia na Federação da Rússia. As pessoas têm-me perguntando a respeito. Algumas reflexões, portanto:
1) Difícil dizer se Putin tem uma “grande estratégia” para a região, para o entorno soviét…, digo, russo, ou mesmo para uma política externa retrô, que reviva os tempos da Guerra Fria. Mas, o que posso dizer é que, indiscutivelmente, Putin e Levrov não são bobos ou ingênuos nesse jogo, e não agem movidos por emoções ou achismos. Sabem que estão em um jogo, um grande jogo, e calculam seus movimentos…
2) Com o referendo de 16 de março, do qual participaram 1,2 milhão de eleitores (de um total de 1,5 milhão aptos a votar), 96,8% dos votantes decidiram pela incorporação à Rússia. Apesar da presença de tropas russas disfarçadas de russas e das críticas ocidentais, parece pouco crível que o povo da Crimeia não quisesse essa opção. Afinal, 58% dos habitantes são russos, a região sempre pertenceu à Rússia e é área de interesse estratégico do Kremlin. Vejo aí uma iniciativa brilhante de Moscou, pois o valioso princípio da autodeterminação dos povos, tão caro dos ocidentais, imperou nas urnas. O que pode ser dito contra 96,8% de eleitores? Valeria a pena afrontar os russos por algo que a população da península decidiu?
3) A Crimeia volta, portanto, à Rússia, onde sempre esteve e de onde nunca deveria ter sido tirada (o que ocorreu por uma decisão de Krushev, em 1954). E, em que pesem os protestos de Kiev, parece fato consumado. Afinal, já foi dada a ordem para as tropas ucranianas deixarem o território da Crimeia e os ocidentais, apesar dos protestos, não ousaram movimentos mais firmes.
4) Moscou ganha a Crimeia, mas perde a Ucrânia. Nesse sentido, Kiev deve migrar para a esfera de influência da União Européia. Resta saber se os russos vão deixar isso acontecer, pois pareceria uma derrota da política externa de Putin.
5) Diante da reação tísica do Governo Obama, e da resposta firme de Moscou, parece que essa jogada foi vencida pelo Kremlin. Daí para imaginar um abalo mais profundo nas relações entre russos e estadunidenses, creio que isso não ocorrerá… As forças agregadoras são maiores.
6) As tropas da OTAN já estão em alerta na Polônia e nos Países Bálticos. Tudo indica que os russos pararão na Crimeia (ao menos por enquanto). De toda maneira, se fosse da OTAN estaria com as barbas de molho… E não me surpreenderia se Moscou começasse a reorganizar um novo Pacto de Varsóvia (o que faria tremer todo mundo a Oeste do Dnieper – menos os bielorrussos, que serão sempre aliados dos russos).
Continuamos atentos aos desdobramentos nas terras eslavas… Ainda não acabou…

Putin Signs Final Crimea Reunification Decree
Russian president Vladimir Putin signed a decree Friday on the ratification of the treaty providing for the reunification of the Crimean Peninsula with Russia.
MOSCOW, March 21 (RIA Novosti) – Russian President Vladimir Putin signed a decree Friday on the ratification of the treaty providing for the reunification of the Crimean Peninsula with Russia.
The treaty had been already ratified by both houses of the Russian parliament.
Under the decree, the Russian Federation will have 85 regions, up from the previous 83. The Republic of Crimea and the city of Sevastopol, which has a special status within the region, were added as subjects of the Russian Federation following a referendum Sunday in the Black Sea region, which saw over 96 percent of voters in the region back the motion to leave Ukraine and rejoin Russia.
Putin also signed a decree making Simferopol the capital of Russia’s new federal district of Crimea, the Kremlin said.
Oleg Belaventsev, who previously headed a Defense Ministry affiliate, Slavyanka, was appointed presidential envoy in the district.
Russian President Vladimir Putin along with Crimean Prime Minister Sergei Aksyonov and other leaders of the region signed an agreement Tuesday in the Kremlin stating the Republic of Crimea was now to be considered Russian territory.
Leaders in the predominantly Russian-ethnic republic refused to recognize the legitimacyof the government in Kiev that came to power amid often violent protests last month, instead seeking reunification with Russia.
Obrigada pelo excelente comentário que nos brinda! podemos ter uma visão mais clara ! sempre atenta aos novos ! para leigos, assim como eu, fica mais delineada a situação em foco, com suas
observações fudamentadas!
grata, Lucia Mazzeu