Começou!

interventionSeriam dois mil homens ocupando pontos estratégicos na Criméia: Simferopol, a capital regional e Sebastopol, onde está a frota ucraniana e a frota russa do Mar Negro. Obviamente são forças russas. Acompanhando ansiosamente a reação do Ocidente…

E, para quem quiser ver um trecho do discurso de Yanukovich, clique aqui. Interessante os termos que parecem vindos direto da União Soviética…

Armed men seize two airports in Ukraine’s Crimea, Yanukovich reappears

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4:13pm EST

Reuters, 28FEB2014 – By Alissa de Carbonnel and Alessandra Prentice

SIMFEROPOL, Ukraine (Reuters) – Armed men took control of two airports in the Crimea region on Friday in what the new Ukrainian leadership described as an invasion by Moscow’s forces, and ousted President Viktor Yanukovich surfaced in Russia after a week on the run.

Yanukovich said Russia should use all means at its disposal to stop the chaos in Ukraine as tension rose on the Black Sea peninsula of Crimea, the only region with an ethnic Russian majority and the last major bastion of resistance to the overthrow of the Moscow-backed leader.

Acting President Oleksander Turchinov accused Russia of open aggression and said Moscow was following a scenario simliar to the one before it went to war with fellow former Soviet republic Georgia in 2008. Continuar lendo

Ucrânia: o pior ainda não passou…

158772077Os amigos têm-me perguntado sobre minha percepção do que se passa na Ucrânia. Reitero minhas preocupações do post anterior. A crise ainda não acabou…

O país está cada vez mais dividido, pois parece que se organiza uma resistência ao novo governo no Leste do país, de maioria étnica russa. O próprio Yanukovich, abrigado na Rússia, continua se dizendo o legítimo governante da Ucrânia. “Sim”, alguns diriam, “mas é assim que faria qualquer líder deposto em semelhantes circunstâncias”. O problema é que ele fez esse pronunciamento a partir da Rússia. Daí vamos às reflexões:

yanukovich1) Yanucovich, apesar de caído, não está morto. E pode contar com apoio de parte da população e de grupos do Leste da Ucrânia em uma eventual resistência à nova ordem. Nesse caso, é de se esperar que Moscou não fique quieto assistindo…

2) Sim, Moscou pode intervir. Exercícios militares são feitos na fronteira. Tropas estão mobilizadas. E não se deve descartar a hipótese de intervenção militar à velha moda do que acontecia à época do Pacto de Varsóvia – mesmo porque, se a Ucrânia não é como a Geórgia, tampouco é como a Hungria ou a Tchecoslováquia. O país era parte do Império Soviético até 1991. O que estou tentando dizer é que, com a Ucrânia, a situação é mais sensível, os interesses russos são significativos e a coisa pode piorar.

3) Ainda que não haja intervenção militar direta de Moscou, naturalmente o Kremlin o fará não-oficialmente, seja usando seu pessoal de forças especiais, seu aparato de inteligência, sua capacidade de influência na região, ou tudo isso ao mesmo tempo agora! Repito, a Ucrânia era parte do Império Soviético até 1991 e, para algumas lideranças em Moscou (ou na própria Ucrânia), nunca deveria ter deixado de sê-lo.

Sleeve_Insignia_of_the_Russian_Black_Sea_Fleet.svg4) E tem a Criméia… alguém em sã consciência acredita realmente que os russos abririam mão da Criméia? É uma das áreas mais estratégicas para o país! A propósito, no momento em que escrevo, já há tropas russas ocupando Sebastopol e Simferopol… Isso para não falar da frota do Mar Negro… Um amigo que chegou recentemente da Ucrânia mostrou-me as fotos da disposição das frotas russa e ucraniana em Sebastopol – as duas ficam juntas, os navios são semelhantes, pertenciam à frota soviética até 1991… De fato, é só trocar a bandeira e ocupar os navios.

5) Um desfecho pacífico (digo, sem um conflito internacional envolvendo ocidentais e russos) pode ser a fragmentação da Ucrânia… o país pode acabar dividido… Só não creio que será tranquila essa secessão como foi a Revolução de Veludo na Tchecoslováquia, há duas décadas. Sangue correrá,  o país ficará ainda mais fragilizado e o futuro é tenebroso…

839-i7BBd.AuSt.556) Tenho lá minhas dúvidas sobre a reação ocidental quando a coisa esquentar mais e os russos entrarem definitivamente no jogo. Será que a União Européia e os Estados Unidos vão realmente intervir em favor da Ucrânia? Nesse jogo, Putin parece mais seguro e os ocidentais bem hesitantes…

Enquanto escrevo, a situação me faz lembrar o que aconteceu em setembro de 1939, na Europa Oriental… com a invasão da Polônia pelos alemães, em 1 de setembro, os ocidentais, que haviam procrastinado a reação à Alemanha mas empenharam seu apoio a Varsóvia, tiveram que entrar em guerra contra Hitler em socorro desesperado aos poloneses (ou, mais precisamente, à sua própria honra)… Inimaginável uma guerra nos moldes daquela de 1939-1945… Inimaginável europeus ocidentais (ou norte-americanos) entrando em conflito com os russos por causa de um povo e um território que (na visão de muita gente, pertence mesmo aos russos)… Inimaginável uma nova Guerra Fria… Inimaginável?

Bom, se a história realmente se repetir, lembro que em 2014 completa-se um século do desencadeamento do maior conflito armado até então: a I Guerra Mundial… Um século, duas guerras mundiais, uma Guerra Fria se passaram. Será que as lições foram aprendidas?

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