Democracia, Participação e Representatividade no Brasil

Meus caros,

No próximo domingo, 29/06, às 17h, participaremos, juntamento com o Professor Creomar de Souza, de um bate-papo pela internet sobre “democracia, participação e representatividade no Brasil”. Mediando a conversa estará a jornalista Natália Borges. É a internet possibilitando mais uma forma de interação entre pessoas em pontos diferentes do globo  o debate de idéias que nos fazem mais próximos!

O link para o evento será fornecido no próprio dia, um pouco antes das 17h, aqui em Frumentarius e em nossa fanpage do Facebook. 

Será uma satisfação contar com nossos queridos leitores em mais uma iniciativa para tratar de temas importantes e do interesse de todos. Aguardo vocês e conto com sua divulgação!

Abraço!

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Um já foi… Qual será o próximo a cair de maduro?

world_01_temp-1385803778-5299b002-620x348 Tudo indica que Yanukovich está fora do jogo político da Ucrânia e que a oposição venceu. Vejo a notícia com ressalvas porque o inesperado pode acontecer naquela bela e rica parte do mundo… Moscou ainda não se manifestou sobre a queda do presidente ucraniano. Se estiver confirmado que foi deposto, podemos estar diante de grandes transformações naquele país, com algumas possibilidades não-necessariamente excludentes: 1) uma aproximação com o Ocidente e com a União Européia e mais liberdade e democracia; 2) um movimento de xeque russo, que pode ser surpreendente; 3) a fragmentação do país.

De toda maneira, parece que um ditador já foi. A milhares de quilômetros que Kiev, outra crise de governabilidade coloca milhares de pessoas contra um regime autoritário: apesar da proximidade com o Brasil, parece que chega menos notícia aqui da Venezuela que da Ucrânia… Será que é porque ali é o companheiro Maduro e o regime autoritário bolivariano (detesto esse termo, e acho que o grande Bolívar também odiaria) que estão na berlinda?

2014-02-16T194828Z-1110150863-GM1EA2H0ABH01-RTRMADP-3-VENEZUELA-PROTESTS-size-598Logo escreverei aqui sobre a Venezuela. A situação ali é muito preocupante também. E gente tem sido presa, tem desaparecido, tem sido ferida e morta. O governo brasileiro mantém seu apoio a Maduro. O Mercosul (quê?) também, apesar da cláusula democrática (ah, sim! haveria uma coisa assim no bloco). Nem vou falar da Unasul…

16fev2014---manifestante-participa-de-protesto-em-altamira-regiao-metropolitana-de-caracas-venezuela-exigindo-a-libertacao-dos-estudantes-presos-em-manifestacoes-anteriores-neste-domingo-16-1392613640A cobertura sobre os efeitos da crise venezuelana por aqui é ínfima. Parece que os brasileiros estamos completamente apáticos diante do que ocorre no país vizinho. Não estamos, ao menos alguns. Esta semana, por exemplo, um grupo de jovens e bravos estudantes fez um protesto diante da Embaixada da Venezuela contra as violações aos direitos humanos e o autoritarismo do regime de Caracas. Perguntei sobre a cobertura da mídia à manifestação. Resposta: inexistente. Meus parabéns ao grupo pela coragem e pelo exercício de um direito fundamental na democracia!

Ucrania4Bom, como estamos na América Latina, há sempre o risco do novo Caracazo acabar antes de qualquer resultado que não seja a contabilização das vítimas que terão caído em vão. Ao menos na Ucrânia, isso parece não ter acontecido. Agora em Kiev é hora de chorar os mortos e sonhar com um futuro de liberdade econômica, política e social. E é tempo de se planejar um país em que o discurso autoritário, as ideologias anacrônicas, a corrupção e a falta de compromisso com a coisa pública não devem prosperar. A lição está dada, em que pese o sangue que foi lamentavelmente derramado pela liberdade. Temos muito que apreender com os ucranianos.

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O protesto do povo nas ruas e a resposta autoritária… Em Berlim, há 60 anos.

berlin_17june1953Os acontecimentos dos últimos dias por todo o Brasil e os protestos de ontem, 15 de junho de 2013, têm-me levado a algumas reflexões, as quais pretendo partilhar com meus leitores nos próximos dias. Pensando sobre o levante nas ruas de Brasília, com protestos, em sua maioria pacíficos, sendo reprimidos pelas autoridades públicas, lembrei de algo que aconteceu em Berlim, exatamente no dia 16 de junho de 1953 (portanto, há exatos sessenta anos).

Berlim 1953_2Sim, foi naquele 16 de junho, na Berlim do imediato pós-Guerra, ocupada pelas potências aliadas, que, no setor soviético, o mundo viu uma multidão de 2.000 pessoas se dirigindo à sede do Governo da Alemanha Oriental, para protestar contra o regime e as condições de trabalho impostas à população sob o Estado comunista. Cartazes, palavras de ordem e uma grande insatisfação entre trabalhadores e demais cidadãos… logo o movimento conclamou o povo a se levantar e sua revolta contagiou milhares de alemães, que ansiavam por mais liberdade, melhores condições de vida e democracia… Uma greve geral foi marcada para o dia seguinte. Naquela época não havia internet nem redes sociais, mas a notícia conseguiu espalhar-se de tal maneira que, em 17 de junho, milhares de pessoas foram às ruas protestar em diversas cidades e vilas alemãs.

Em Berlim, por volta das 9:00 do dia 17/06, 25 mil pessoas já se aglomeravam em frente à sede do Governo da República Democrática Alemã (RDA). Outras milhares seguiam rumo ao centro da cidade para se juntar aos manifestantes. E os protestos, que haviam se iniciado em reação a um aumento na carga de trabalho do pessoal da construção civil (como seria o aumento nos preços das passagens de ônibus nas cidades de outro país sessenta anos depois), em pouco tempo assumiram conotação política. O levante agora era contra o regime comunista ali estabelecido sob a égide dos soviéticos. “Morte ao comunismo!” e “Abaixo o regime autoritário!”, eram palavras de ordem. Isso o Governo não poderia tolerar.

Berlim 1953A decisão das autoridades da RDA foi de usar a força para conter o levante. E solicitaram ajuda de seus “aliados” soviéticos. Em pouco tempo, o distrito governamental de Berlim já estava cercado por 20 mil soldados do Exército Vermelho e cerca de 8 mil policiais militares alemães. Para dispersar a multidão, as forças do Governo usaram blindados, cães e atiraram contra os manifestantes. Não havia bombas de efeito moral ou balas de borracha. A munição era real. E a multidão realmente foi dispersada. Isso custou mais de 500 vidas entre os manifestantes (na estimativa mais modesta). E pôs fim ao sonho de liberdade naquele país.

Depois das manifestações de junho de 1953, o regime endureceu. O governo buscou razões para o estabelecimento de uma ditadura da pior espécie sob um modelo que alcançava o totalitarismo. Milhares foram presos, torturados, executados sob o argumento da garantia da ordem. A fuga para o Oeste intensificou-se. Até a construção do Muro de Berlim, em agosto de 1961, mais de 3 milhões de alemães orientais (de um total de 19 milhões de pessoas) fugiriam para a Alemanha Ocidental. E o terror estatal perduraria até 1990, quando se dissolveu em suas próprias contradições.

Para os alemães, o dia de 17 de junho de 1953 é uma data marcante. Durante anos, o 17 de junho foi celebrado como o Dia da Unidade Alemã (alterado para o 3 de outubro, data oficial da reunificação em 1990). E será sempre lembrado como a ocasião em que um protesto algumas dezenas de trabalhadores tornou-se um levante das massas pela democracia e pela mudança, levante duramente reprimido por um regime que se dizia representar os trabalhadores.

No ano da Alemanha no Brasil, difícil não comparar os acontecimentos de 1953 com os eventos de 2013 por aqui. Preocupa como tem sido e será a reação do governo que também se diz representar os trabalhadores. A democracia é uma planta muito frágil e precisa ser cuidada. A solução autoritária pode ser muito sedutora…

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