Alguém na OTAN descobriu que a organização é uma aliança militar! Pois é, na cúpula realizada no País de Gales (com direito a show de aviõezinhos sobrevoando palanque e soltando fumaça colorida – quero ver fazer isso nos céus da Estônia, da Polônia ou próximo a Kaliningrado), os líderes decidiram pelo envio de uma “força de ação rápida” para garantir a defesa e a integridade territorial dos países-membros do Leste Europeu contra uma agressão externa (leia-se, da Rússia).
Há quem comemore essa atitude da Aliança Atlântica como um “ato de força que conterá o expansionismo de Moscou” e restabelecerá as boas relações no continente. Afinal, é a OTAN, né? Quem ousar se meter com ela terá uma resposta de 28 nações, com um potencial bélico significativo. Ok, só que não consigo acreditar nessa disposição de endurecer com a Rússia – será que Putin acredita? Será que os próprios líderes da OTAN acreditam?
A iniciativa aprovada hoje mais parece uma tentativa de se dissimular a incapacidade de ação. Entendi dois recados aí. O primeiro, para os países do Leste, particularmente os estados bálticos e a Polônia (sempre a Polônia), é uma mensagem para acalmar os nervos daquela gente (afinal, os líderes dali devem estar à base de Rivotril com o risco de “intervenção humanitária” russa): “Não se preocupem! Estamos juntos! Não vão atacar vocês porque sabem que estão sob nosso guarda-chuva! Acalmem-se!” – só que os poloneses já ouviram isso antes, há exatos 75 anos… e estonianos, letões e lituanos sabem o que são quatro décadas de ocupação russa.
O segundo recado foi para a Rússia: “A OTAN garantirá a defesa e integridade de seus países-membros! Temos garras (apesar de garras com unhas pintadas há algum tempo)! Não mexa conosco!” Só que o outro lado disso é que… a Ucrânia não é membro da OTAN. Portanto, para meio entendedor, fica claro que a Organização não vai dar passos mais largos do que esses contra o Urso. Seria temerário fazer alguma coisa mais incisiva…
Haveria um terceiro recado, este para a Ucrânia: “Vejam bem, a coisa não está boa para vocês. Damos apoio total a seu pleito… exceto apoio militar. Não esperem que encaremos a Rússia para defender russos (tá, ucranianos… mas vocês não são todos soviéticos?!?!?). E tratem logo de negociar a paz e aceitar os termos de Moscou. Tudo vai ficar bem!”.
Enfim, a incapacidade da OTAN para gerenciar essa crise me faz lembrar a habilidade da Liga das Nações nos momentos tensos dos anos 1930. E vai acabar com o mesmo destino: virar uma organização só para sustentar sua própria burocracia e com pouca ou nenhuma influência real no mundo. Não dá para desaparecer como o Pacto de Varsóvia. Será portanto, um morto-vivo errante pela política mundial…
É assim que vejo a crise da Ucrânia. Não há líderes ocidentais que tenham coragem de (juntos ou isoladamente) encarar Putin e conter suas pretensões… a não ser, claro, Frau Merkel. Aprendam com essa mulher. Ela é durona e uma boa interlocutora junto aos russos (que conhece bem). Gosto de Frau Merkel. Mas também gosto de Putin. Putin é KGB.
Otan aprova presença militar contínua no Leste Europeu
Deutsche Welle, 05/09/2014 – Link permanente http://dw.de/p/1D7mQDiante da atual ameaça representada pela Rússia, líderes acertam criação de nova força de reação rápida e manutenção de tropas nos países orientais da aliança.
Os líderes da Otan aprovaram nesta sexta-feira (05/09), durante cúpula no País de Gales, a criação de chamada força de reação rápida e a manutenção de uma presença contínua no Leste Europeu, onde alguns países-membros estão preocupados com os movimentos russos na Ucrânia. A nova “ponta de lança”, como também é chamada a força de reação rápida, deverá ser formada por milhares de soldados, prontos para entrar em ação em poucos dias.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a nova unidade enviará uma mensagem clara para potenciais agressores, como a Rússia. “Se você pensar em atacar um aliado, estará de frente com toda a aliança”, declarou ele durante o encerrameno do encontro de dois dias.
Rasmussen disse que a força de reação rápida dará à Otan uma presença contínua nos territórios mais a leste da aliança, com os países membros contribuindo com tropas em base rotativa. Não houve definição de onde as forças vão ficar baseadas, mas Rasmussen disse que Polônia, Romênia e países bálticos manifestaram interesse em sediar as instalações.
Reino Unido quer contribuir com 3.500 soldados
O premiê britânico, David Cameron, disse que seu país está disposto a contribuir com 3.500 soldados para a força de resposta rápida. Ele afirmou que a sede pode ser na Polônia, com unidades avançadas nos países-membros mais orientais e equipamentos estocados lá com antecedência.
Os 28 líderes da Otan adotaram um Plano de Ação de Prontidão para reforçar a defesa coletiva. “Esta é uma demonstração da nossa solidariedade e nossa determinação”, disse Rasmussen.
A Otan já tem tropas rotativas nos Estados-membros mais recentes, como a Polônia e os países bálticos, os quais estiveram sob a esfera de influência de Moscou e que agora pediram ajuda diante do comportamento da Rússia em relação à Ucrânia.
As relações da Otan com a Rússia são baseadas no chamado Ato Fundador entre a Otan e a Rússia de 1997, que fixa as fronteiras pós-Guerra Fria na Europa Oriental e proíbe ambas as partes de estacionar suas tropas lá permanentemente. O texto também determina que essas fronteiras não podem ser mudadas pela força.
A Otan e Rasmussen acusaram repetidamente a intervenção da Rússia na Ucrânia de representar uma violação desse tratado que a aliança, por seu lado, afirma continuar a respeitar. Houve especulações de que a Otan revogaria o Ato Fundador. Mas países como a Alemanha são contra por considerarem que as consequências podem ser graves e piorar a incerteza na região.
A Otan já tem uma força de reação rápida, mas esta nunca foi ativada e precisa atualmente de semanas para entrar em operação, segundo analistas.
“Otan está pronta para ajudar o Iraque”
Rasmussen também garantiu que a Otan está pronta para ajudar o Iraque a lutar contra os jihadistas do “Estado Islâmico” (EI), mas observou que o governo iraquiano não fez qualquer pedido nesse sentido. O secretário-geral afirmou também ser improvável que a Otan participe de ações militares contra os extremistas, mas disse ser possível que a aliança se engaje numa “missão de capacitação defensiva”.
O presidente dos EUA, Barack Obama, e o premiê britânico, David Cameron, têm pressionado os seus homólogos da Otan para participar de uma coalizão de nações para combater o EI. À margem da cúpula, eles se reuniram com os demais líderes para tentar obter apoio para o combate ao grupo radical através de poderio militar, esforços diplomáticos e sanções econômicas. Ambos os líderes agendaram, ainda, reuniões nesta sexta-feira com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, um parceiro regional importante, cujo apoio pode ser fundamental.
MD/afp/ap