Melhor não…

kissingerNeste clima de antagonismo entre EUA e Rússia, fomos buscar um documento da década de 1970 a respeito da possibilidade de conflito entre Estados Unidos e União Soviética (para quem chegou há pouco, ou nasceu depois de 1991, a União Soviética era a Rússia com armadura vermelha do Homem de Ferro). Em um momento de grande tensão, o então assessor do Presidente Richard Nixon, o genial Henry Kissinger (ícone e patrono de todos nós realistas em Relações Internacionais) aconselhou o Governo redirecionar sua estratégia de guerra nuclear de uma política de retaliação massiva para ataques nucleares limitados, porém com efeitos militares decisivos para alcançar os objetivos políticos, ou seja, “fazer o inimigo parar”. Afinal, os soviéticos já dispunham de um poder de destruição total do planeta tão ou mais estupendo que o dos EUA, e um conflito direto entre os dois países sob uma perspectiva de um grande ataque em larga escala com os foguetões intercontinentais significaria um único resultado: a famosa destruição mútua assegurada (MAD em inglês).

Vale a pena conferir os documentos. A propósito, o memorando sobre a conversa com Kissinger pode ser acessado clicando aqui. Chamo atenção para os trechos que ainda permanecem protegidos pelo sigilo. Sempre falo sobre isso em minhas aulas. Vejam como eles são dispostos no texto. Só no Brasil que nós temos uma lei de acesso à informação que desclassifica tudo irresponsavelmente por decurso de prazo…

Nixon BreshnevAí você, meu caro leitor, me pergunta: e o que eu tenho a ver com isso? Se você for estudante ou estudioso de Relações Internacionais, História, Inteligência ou Estratégia, recomendo a leitura desses documentos, muitos deles desclassificados há pouco. Se você não liga para nada disso, ressalto que ao menos deveria estar atendo à situação do mundo e lendo nosso site (e curtindo nossa fanpage no Facebook, por favor), pois a notícia triste é que, apesar de estar sem a sua armadura de Homem de Ferro bolchevique, a Rússia continua com uma capacidade destrutiva espetacular e mantém seus arsenais nucleares… Se o mundo entrar em uma guerra nuclear, nós estamos nele (você, inclusive, caro leitor) e nossa batatinha literalmente irá assar… Melhor não brigar com a Rússia, porque senão sobra para o mundo. Ah, e quem governa o urso é Putin. Gosto de Putin. Putin é KGB.

“Ok, mas isso não me interessa!”, dirá você! Então não leia este blog, volte para dentro do formigueiro e vá se entreter com a Valeska Popozuda que você faz melhor…

Segue matéria da Federation of America Scientists sobre o tema, com um monte de links para documentos interessantes sobre Guerra Fria espionagem…

Ah! E curta nossa fanpage clicando aqui!

US President Barack Obama (R) listens to

SECRECY NEWS
from the FAS Project on Government Secrecy
Volume 2014, Issue No. 27
April 3, 2014
 

“TOO MILD A NUCLEAR OPTION”? NATIONAL SECURITY IN THE 1970s

U.S. nuclear weapons strategy evolved during the Nixon administration from a reflexive policy of massive retaliation against a Soviet attack to a diverse range of options for more limited nuclear strikes. The transition was not without some bumps.

A declassified 1974 memo recorded that National Security Adviser Henry
Kissinger at first needed some persuading about the efficacy of limited
strikes.

http://www.fas.org/man/eprint/frus-toomild.pdf

Kissinger “expressed concern that many of the options appeared to him as
too timid. He judged that nuclear use must have a decisive military effect
in order to achieve the desired political goal– convince enemy to stop.”

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EUA esperam que Rússia rompa com Assad… Esperem sentados, tá?!?

Matéria publicada pela Ria Novosti no último dia 30… Parece notícia da época da Guerra Fria… E deve ser mesmo! A negociação terá que ser muito boa para fazer os russos (e os chineses – o velho Kissinger tinha razão!) assumirem uma nova posição frente ao regime de Assad. Ademais, a Síria está perto demais da Rússia para simplesmente sair de sua esfera de influência. Até o momento, a única maneira que vejo de Assad cair por um acordo é encontrarem alguém de confiança de Moscou para substituí-lo. Ou seja, se Assad cair é porque o Kremlin o derrubou (e terá colocado um homem seu no lugar dele)… E, reitero, ainda têm que negociar com os chineses também!

RIA Novosti

United States Expects Russia to ‘Break with Assad’

02:37 30/08/2012

The United States would like Russia to clearly state that it will stop supplying Syrian President Bashar al-Assad’s regime with weapons, a spokeswoman for the U.S. State Department said in a statement on Wednesday. Continuar lendo

Kissinger e a China

E por falar em China, comecei, na última hora do ano que acabou, a ler o livro de Kissinger (dispensa apresentações) sobre aquele país (Kissinger, Henry. Sobre a China. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, 572 p.) – por sinal, indicação de meu amigo Humberto Netto. Recomendo efusivamente, tanto para meus alunos de Relações Internacionais quanto para qualquer um que queira entender o mundo atual! Leitura fascinante: a única questão é que o livro prende tanto que você não vai querer fazer muita coisa até acabar de lê-lo.

Só para dar um gostinho:

Quando os caracteres chineses surgiram, durante a dinastia Shang, no segundo milênio a.C., o antigo Egito se encontrava no auge de sua glória. As grandes cidades-Estado da Grécia clássica ainda não haviam surgido, e Roma estava a um milênio de distância. Contudo, um descendente direto do sistema de escrita Shang ainda é utilizado hoje por muito mais de um bilhão de pessoas. Chineses de hoje conseguem compreender inscrições do tempo de Confúcio; livros e conversas chinesas são enriquecidos por aforismos centenários que citam antigas batalhas e intrigas palacianas. (…)

e

A escala chinesa não era muito superior à dos Estados europeus apenas em população e território; até a Revolução Industrial, a China era muito mais rica. (…) foi por séculos a economia mais produtiva do mundo e a região de comércio mais populosa. (…) Na verdade, a China produzia uma parcela maior do PIB mundial total do que qualquer sociedade ocidental em 18 dos últimos vinte séculos. Ainda em 1820, ela produziu mais de 30% do PIB mundial – quantidade que ultrapassava o PIB da Europa Ocidental, da Europa Oriental e dos Estados Unidos combinados.

Segue resenha do New York Times sobre a obra de um ocidental que conhece o Império do Meio como poucos.

NY Times -May 13, 2011

Henry Kissinger on China

By MAX FRANKEL

(ON CHINA, By Henry Kissinger, Illustrated. 586 pp. The Penguin Press. $36.)

Henry Kissinger was not only the first official American emissary to Communist China, he persisted in his brokerage with more than 50 trips over four decades, spanning the careers of seven leaders on each side. Diplomatically speaking, he owns the franchise; and with “On China,” as he approaches 88, he reflects on his remarkable run. Continuar lendo