Inteligência para quê?

O ano de 2023 tem sido de grande discussão sobre um assunto ainda muito pouco conhecido da maioria dos brasileiros: a Inteligência. Pululam na mídia “especialistas” opinando sobre os problemas dos nossos serviços secretos e sobre o que fazer com nossas agências de inteligência. Há mesmo quem defenda o fim dessas organizações, as quais não seriam compatíveis com o regime democrático. E não são poucos os que se perguntam, inclusive entre tomadores de decisão de alto escalão, se realmente se precisa de serviços de inteligência. Mas, efetivamente, para que serve a Inteligência?

Um primeiro aspecto que deve estar claro é que inteligência e democracia são plenamente compatíveis. As grandes democracias do mundo têm serviços de inteligência, que operam reunindo dados e informações (inclusive aqueles cujo acesso é negado por seus detentores) e produzindo conhecimentos sobre fatos e situações que representem ameaças ou oportunidades ao Estado e à sociedade. Assim, os serviços secretos têm um papel essencial na defesa de interesses fundamentais de uma nação ao informar os tomadores de decisão com conhecimentos especializados que serão úteis, por exemplo, no planejamento de políticas públicas.

Desde que o mundo é mundo, há alguém interessado em obter conhecimentos protegidos de pessoas, organizações e países, bem como em influenciar o processo decisório em diferentes níveis. Nesse sentido, a segunda missão dos serviços de inteligência é a proteção desse conhecimento sensível contra a espionagem adversa. Isso se encontra na esfera da contrainteligência.

Diante dessa realidade, serviços de inteligência são imprescindíveis a toda nação que ocupe um papel de destaque entre seus pares. Com o Brasil não pode ser diferente, até porque o país é alvo de serviços estrangeiros que por aqui empregam seus agentes para espionar e influenciar processos. No caso brasileiro, entretanto, se não se pode abrir mão da Inteligência, é fundamental que se defina com clareza as tarefas dos distintos órgãos de nossa comunidade de inteligência.

Um último aspecto que deve estar claro sobre a Inteligência é que ela é função de Estado, devendo atuar em prol dos interesses nacionais e não a serviço deste ou daquele governo. Agência de inteligência que atue a serviço de um governo específico, ainda mais operando no âmbito doméstico de um país, tem grandes chances de virar polícia política e de envolver-se com atividades que cruzem a linha da legalidade.

Inteligência é, portanto, de extrema relevância para qualquer nação. Ingênuo é acreditar que, enquanto o leitor conclui estas linhas, não há serviços de inteligência estrangeiros operando no território brasileiro, tentando obter conhecimentos sensíveis e influenciar pessoas e organizações. Mais ingênuo ainda é achar que o Brasil não precisa de estruturas funcionais voltadas à produção de inteligência, assinalando aos tomadores de decisão oportunidades e ameaças.

Visto que inteligência é imprescindível, cabe agora definir o que se deseja dos serviços secretos brasileiros. Também é fundamental que suas tarefas sejam explicitadas e que haja diretrizes claras para a comunidade de inteligência. Por último, um controle eficiente, eficaz e efetivo da Inteligência constitui a base do bom funcionamento desses órgãos no Estado democrático. Só assim as agências de inteligência no Brasil terão razão de existir e a sociedade e o Estado brasileiros ficarão menos vulneráveis.

Nas próximas semanas, publicarei aqui alguns breves textos sobre reformas na área de inteligência. A ideia é discutir os destinos desse setor tão essencial à segurança da sociedade e à defesa do Estado democrático.

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*Joanisval Brito Gonçalves, Consultor Legislativo do Senado Federal para Relações Exteriores, Defesa Nacional e Inteligência, é Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília, com tese sobre o controle da atividade de inteligência. Professor e conferencista, atua há mais de vinte anos em Inteligência, com inúmeras publicações no Brasil e no exterior a respeito, com destaque para os livros Políticos e Espiões: o controle da atividade de inteligência (Niterói: Impetus, 2ª edição, 2019) e Atividade de Inteligência e Legislação Correlata (Niterói: Impetus, 6ª edição, 2018). É vice-presidente da Associação Internacional para Estudos de Segurança e Inteligência (INASIS). A opiniões neste artigo são pessoais e não representam necessariamente a percepção de quaisquer organizações às quais o autor esteja vinculado. Texto publicado originalmente em http://www.frumentarius.com.

Evento sobre Inteligência no Maranhão

Estaremos com os amigos nas terras ludovicenses nos próximos dias. Começa nesta quinta, 20/11, o I Seminário de Segurança Institucional do Poder Judicário do Maranhão, a realizar-se entre 20 e 22/11, no Auditório Madalena Serejo, do Fórum Desembargador Sarney Costa, na belíssima capital maranhense. No evento, farei uma palestra sobre Controle da Atividade de Inteligência. Haverá alguns livros nossos para quem desejar adquiri-los.

O evento contará com conferencistas renomados e profundos conhecedores do tema, com destaque para o professor Raimundo Teixeira de Araújo e para Maurício Viegas Pinto (ambos dispensam apresentações).

Seguem maiores informações sobre o Seminário.

Seminario_Intel_MA_2014

TJMA discutirá segurança em seminário sobre a atividade de inteligência no Judiciário

 13 NOV 2014

As atividades desenvolvidas pelo serviço de Inteligência e o plano de segurança institucional do Poder Judiciário do Maranhão serão discutidos por magistrados, servidores e autoridades ligados à área durante o seminário promovido pela Diretoria de Segurança com o apoio da Escola Superior da Magistratura (ESMAM), de 20 a 22 de novembro, no Fórum Desembargador Sarney Costa (no auditório Madalena Serejo). As inscrições estão abertas até o dia 17, no sistema acadêmico Tutor, na plataforma “Sentinela“, disponível no site do Tribunal de Justiça.

“O objetivo é conscientizar acerca das atividades desenvolvidas pela Inteligência, com ênfase na busca da excelência dos procedimentos já estabelecidos e visando à proteção individual e patrimonial de todos os que compõem a instituição”, explica o diretor de Segurança Institucional do TJMA, major Alexandre Magno de Souza.

Inteligência Estratégica e Atividade Jurisdicional, O Papel da Atividade de Inteligência no Poder Judiciário, Inteligência Digital e Inteligência de Sinais, são alguns dos temas que compõem o  treinamento, constituído por parte teórica (palestras e debates) e prática – com visita ao Núcleo de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP-MA).

O seminário será ministrado por renomados profissionais e especialistas ligados à área, tais como: José Nilton Souza (delegado e gestor de Inteligência da Secretaria Adjunta de Inteligência e Assuntos Estratégicos do Maranhão), Maurício Viégas Pinto (supervisor substituto do Serviço de Inteligência do TJDFT e especialista em Inteligência Estratégica), Joanisval Gonçalves (consultor legislativo do Senado Federal, conferencista e autor de livros nas áreas de Inteligência, Segurança e Defesa, Relações Internacionais e Direito) entre outros.

Para mais informações, entrar em contato com a Esmam, pelo telefone (98) 3235-3231.

 Confira AQUI a programação completa do evento.

 Amanda Campos
Assessoria de Comunicação do TJMA
asscom@tjma.jus.br
(98) 3198 4370

http://www.tjma.jus.br/tj/visualiza/sessao/19/publicacao/407301