“Por que invadir a Polônia?” já no YouTube

Informo que nossa live do domingo passado (30/08) já está disponível em nosso canal no YouTube (joanisvalbsb). Para acessá-la, clique aqui.

Conhece nosso canal? É só entrar no YouTube e digitar joanisvalbsb (ou clicar aqui). Muito me ajudará se você acessar o canal, curti-lo e se inscrever nele. E, claro, se divulgar também! Agradeço encarecidamente! Abraço!

Por que invadir a Polônia?

Próximo domingo, 30/08, às 17h, faremos mais uma live em nosso perfil público do Instagram (@joanisvalgoncalves). O tema será a invasão da Polônia e o início da Segunda Guerra Mundial. Estão todos convidados e agradeço pela divulgação. Até lá!

O início da Guerra, pela ótica dos soldados alemães

Ainda por ocasião dos 80 anos do início da Segunda Guerra Mundial, publico aqui um vídeo que achei bem interessante. Trata da Campanha da Polônia, sob a ótica de soldados alemães. Não darei maiores informações acerca do vídeo (não gosto de “spoilers”), mas registro que, para o jovem soldado que cruzava a fronteira para combater pela Pátria (Vaterland), numa vitoriosa campanha de guerra relâmpago nunca antes vista, a sensação deveria ser extraordinária!

Imagine-se como parte de uma força de combate sem precedentes, atravessando a fronteira “inimiga” e “tratorando” tudo que estivesse à frente, em sucessivas vitórias! Com milhares de Panzers na vanguarda, Stukas com suas sirenes pelo ar, e uma tropa orgulhosa de que estava fazendo História, você seria parte de um dos grandes feitos militares do século! A Blitzkrieg de Guderian estava em ação!

Por favor, não me venha com comentários politicamente corretos, do tipo “Ain! Ele chama guerra de extraordinária!”. Vejo a guerra como algo inerente à natureza humana e, naquela época, ir à guerra era um ato nobre, sentimento do dever, e que envolvia a noção de masculinidade.

Recordo-me de um cartaz inglês da Grande Guerra (1914-1918), em que um garotinho está a brincar no chão da sala, enquanto seu pai senta-se em uma poltrona a ler o jornal. Então o pequeno pergunta, “Papai, onde você estava durante a guerra?”, e fica evidente o constrangimento do homem, que não estivera nos campos de batalha…

Sim! Homens fazem a guerra – e muitos gostam disso!

Talvez muito da debilidade de nossa sociedade pós-moderna se deva ao fato de termos perdido nossa capacidade de ir à guerra. Sabe aquela história de “tempos difíceis fazem homens fortes”? Pois é…

Se não gostou de minhas palavras aqui, paciência. Meus 16 leitores me entenderão…

E foram abertas as portas do Inferno…

Há exatos 80 anos, o mundo começava o mês de setembro com a mais tenebrosa de todas as notícias: às 4h45 (hora de Berlim) de 1º de setembro de 1939, o couraçado Schleswig-Holstein, da Kriegsmarine, abria fogo contra as defesas polonesas na cidade-livre de Dantzig (atual Gdansk), de população germânica desejosa de ser incorporada ao Terceiro Reich. Simultaneamente, e sem declaração formal de guerra, tropas alemãs atravessavam a fronteira, tendo à frente os 2.500 Panzer que varreriam as forças polonesas por onde passassem, abrindo caminho para a infantaria que logo chegaria para ocupar o terreno. Pelo ar, a Luftwaffe se encarregaria dos bombardeios de cidades importantes e da destruição da força aérea inimiga no solo. O conceito de Blitzkrieg, a guerra relâmpago (que teve como idealizador o general Heinz Guderian, um dos mais brilhantes militares de seu tempo,) era posto em prática. Tinha início o maior conflito que os seres humanos jamais vivenciaram. Tinha início a Segunda Guerra Mundial.

Algumas palavras sobre esse começo da Segunda Guerra Mundial… Primeiramente, cabe assinalar que o ataque à Polônia só foi possível, naquelas condições, em razão da “Política do Apaziguamento”, promovida por britânicos e franceses (com apoio da Itália Fascista), e da aliança entre o Terceiro Reich e a União Soviética de Stálin, consubstanciada em 23 de agosto (uma semana antes, portanto), por meio do Pacto Ribbentrop-Molotov. Sem essas duas situações, Hitler não teria ousado dar ensejo ao “Caso Branco” (codinome do plano para invasão e conquista da Polônia). 

Assim, de um lado havia a aquiescência de Lord Chamberlain (que, para ir à Alemanha, pela primeira vez entrara em um avião) e do Primeiro-Ministro francês Daladier (que liderava a coalizão de esquerda a qual governava a França naquela época). Clássica é a cena de Chamberlain que, ao retornar da Conferência de Munique (setembro de 1938), declara a seus concidadãos que “a paz estava salva!” – às custas da Tchecoslováquia, claro, que foi entregue a Hitler por decisão das grandes potências europeias. Veja as imagens a que me refiro:

Do outro lado, estava a aproximação entre os dois gigantes totalitários, a Alemanha nazista e a União Soviética stalinista. Em ambos os países, chegara-se ao ápice do totalitarismo (de direita e de esquerda), e muitos analistas da época acreditavam que o conflito entre as duas ditaduras era iminente, ocorrendo caso Hitler invadisse a última nação que separa o Reich do território soviético: a Polônia. Nesse sentido, defendo que havia mesmo o interesse de Reino Unido e França de que esse passo fosse dado pela Alemanha. Afinal, se a Polônia fosse invadida, certamente as duas Potências totalitárias se digladiariam, e as democracias ocidentais só precisariam assistir “de camarote” e esperar o enfraquecimento de ambas e a derrota, pelo menos, de uma delas…

A habilidade política dos alemães pôs termo às expectativas de Paris e Londres quando, para a surpresa de todos, o Ministro das Relações exteriores da Alemanha, Joachim von Ribbentrop, foi, na última semana de agosto, a Moscou. Lá celebrou, com seu colega soviético, Vyacheslav Molotov, o Tratado de Não Agressão entre a Alemanha e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Na parte secreta daquele Tratado havia um acordo de partilha do território da Polônia entre soviéticos e alemães. Também era assegurado o reparte de outras regiões da Europa Oriental (garantindo-se que a Alemanha não entraria em conflito com a URSS, caso Moscou decidisse “recuperar” territórios que lhe seriam “de direito”, com herança da Rússia Czarista, ou seja, o que então constituía os Estados independentes da Estônia, Letônia e Lituânia, a Finlândia e partes da Romênia, além da própria Polônia). O Pacto Ribbentrop-Molotov selava, assim, o destino de várias nações europeias e, por que não, de toda a humanidade…

Não entrarei em detalhes táticos da invasão, nem de como a Polônia capitulou em menos de seis semanas. Tampouco cuidarei do fato de que, no dia 17 de setembro de 1939, foi a vez dos soviéticos adentrarem o território polonês (para “libertar” aquelas populações que ali viviam de uma invasão fascista que ainda não ocorrera), encontrando-se com seus “camaradas” alemães em Brest-Litovsk (em lembrança do tratado de 1918), onde apertaram as mãos. Tratarei menos ainda do “apoio” (pífio) dado aos poloneses por Reino Unido e França, que declararam guerra ao Reich três dias depois dos primeiros movimentos alemães, mas permaneceram praticamente inertes durante os meses seguintes (até a campanha alemã da primavera de 1940, voltada à Europa Ocidental), e silentes quando Stálin mandou o Exército Vermelho cruzar a fronteira com a Polônia…

Com a invasão de seu território pelos dois lados, e a derrota na campanha de setembro, a Polônia deixou de existir como Estado independente. Aquela nação, gloriosa de sua identidade e de suas tradições, viu-se subjugada, humilhada e forçada a servir aos dois senhores que repartiram o botim, e mostraram ao mundo seu poder. A seguir um documentário sobre o início da guerra.

Na Polônia ocupada pelos soviéticos, rapidamente o NKVD (antecessor do temido KGB) de Laurenti Beria tratou de executar cerca 7.000 civis e 15.000 oficiais poloneses, numa carnificina que teve no massacre de Katyn seu maior símbolo. A intelligentsia do país foi exterminada. Do lado alemão, além de perseguir a intelectualidade polonesa, a sanha nazista se voltou contra os 3,2 milhões de judeus que viviam plenamente integrados àquela sociedade: logo, professores universitários, profissionais liberais, comerciantes, funcionários públicos e trabalhadores das mais distintas áreas foram proibidos de exercer suas funções e obrigados a usar no peito ou no braço a Estrela de Davi. Depois viriam os guetos, os campos de concentração, as câmaras de gás, os crematórios, o extermínio.

 A Segunda Guerra Mundial começou, portanto, oficialmente, com o fim da Polônia como nação independente. Seis anos se passariam até que aquele povo fosse libertado do jugo alemão, para cair sob o controle soviético e o regime comunista. Foram seis anos de dor, sofrimento e morte, oitenta milhões de vidas perdidas, destruição total, perdas materiais e imateriais incalculáveis.

 O mundo realmente seria outro quando a Alemanha assinou a capitulação, em 8 de maio de 1945. A Guerra, que começara com a “questão polonesa”, tomara rumos inimagináveis. Para os poloneses, porém, sempre me lembrarei da história daqueles que, no dia que findaram as hostilidades na Europa, combatiam na Itália junto dos aliados e se desesperaram temendo retornar à pátria e cair nas mãos dos soviéticos, que ainda massacrariam centenas de milhares de poloneses étnicos no imediato pós-guerra. A sensação deveria ser de que os seis anos de guerra teriam sido em vão…

Indubitavelmente, a Polônia foi muito mais uma peça no jogo das grandes potências. Um jogo nocivo e caro, que custou milhões de vidas. Impossível esquecer das palavras de um judeu polonês, que conheci em Auschwitz, e que externou seu ressentimento com os “aliados” de Varsóvia por ocasião da guerra de 1939-1945: “O pior é que a guerra começou para nos libertar dos alemães e de Hitler”, disse ele, “mas nossos ‘salvadores’ acabaram a guerra nos entregando nas mãos dos soviéticos e de Stálin… Quem perdeu nisso tudo?”…

 Em tempo: fui o terceiro estudante de Relações Internacionais no Brasil a produzir uma monografia de final de curso, e isso lá em meados da década de 1990. O tema foi inusitado para aquele momento: “A Política Exterior do III Reich, 1933-1939”. Pretendo um dia trabalhar no arquivo e transformá-lo em livro. Pensei que poderia ser para os setenta anos do início da Guerra, depois para os oitenta… Quem sabe em comemoração aos 75 anos do fim do conflito, ou aos 85 do começo… Uma hora sai!

As primeiras gotas da Grande Tormenta

hitler_stalin_same2014 é um ano de grandes efemérides nos campos político e militar: 150 anos do início da Guerra do Paraguai e da Primeira Convenção de Genebra, 60 anos da morte de Getúlio Vargas, 50 anos do movimento de 31 de março de 1964, 100 anos do começo da Grande Guerra, 70 anos do Dia D (6 de junho) e da Conferência de Bretton Woods, só para lembrar alguns…

Não obstante, o dia 1 de setembro jamais será esquecido, em razão de um evento que em 2014 completa 75 anos: o início da II Guerra Mundial. Naturalmente, essa data não poderia ser esquecida em Frumentarius.

As origens do maior conflito por que já passou a humanidade podem ser encontradas no fim da guerra anterior, a Grande Guerra de 1914 a 1918: o Tratado de Versalhes e a responsabilização da Alemanha, que levariam à revolta dos alemães contra o que lhes fora imposto pelos vencedores; a inabilidade das Potências europeias em garantir a segurança coletiva por meio da Liga das Nações; o apaziguamento de britânicos e franceses diante dos anseios expansionistas de Adolf Hitler que, por sua vez, conseguira reerguer o país e recuperar o moral da população e desejava, a todo custo, o espaço vital para construir o império de mil anos… Tudo isso culminaria nos acontecimentos de 1 de setembro de 1939.

De fato, em 1939, a Política Exterior do III Reich parecia que conduziria a Alemanha a uma guerra avassaladora e definitiva contra seu maior rival, a União Soviética. Era o que esperavam franceses e britânicos, que sob a égide do discurso apaziguador, aguardavam ansiosos o momento em que, com seus movimentos expansionistas rumo ao Leste, Adolf Hitler entraria diretamente em choque com o outro grande ditador de seu tempo, Josef Stálin. Então aconteceria o tão esperado confronto entre os dois gigantes totalitários, o III Reich e a União Soviética, que culminaria na destruição de um e no enfraquecimento do outro, ou no colapso de ambos, o que beneficiaria sobremaneira as Potências ocidentais.

soviet_nazi_pact_1Mas Londres e Paris não contavam com o improvável: em 23 de agosto daquele ano, era assinado o Pacto Molotov-Ribbentrop, a aliança entre a Alemanha nazista e a União Soviética comunista, a inconcebível aproximação entre os dois inimigos tradicionais, o aperto de mãos (simbólico) entre os tiranos Hitler e Stálin. Aquele Tratado permitiria a expansão alemã para o Leste, a invasão, ocupação e partilha da Polônia. Aquele acordo deixaria atônitos britânicos e franceses.

a74ccf7c57b9858192d4630c18f8531dE foi exatamente o que aconteceu: um semana depois, diante dos olhares perplexos do mundo, na madrugada de 1 de setembro, tropas alemãs cruzavam a fronteira da Polônia. Apesar da bravura e do empenho em conter o inimigo, os poloneses não resistiriam mais que seis semanas à máquina de guerra germânica, associada ao ataque maciço do Exército Vermelho, que cruzou a fronteira vindo do Leste alguns dias depois. Alemães e soviéticos se encontrariam em Brest-Litovskyi, exatamente onde fora celebrado o tratado de paz entre o Reich Alemão e o governo bolchequive, em março de 1918 (tratado que, verdadeiramente, era a humilhante capitulação da Rússia na I Guerra Mundial).

A partir daquele primeiro dia de setembro, os sinos seriam silenciados por longos seis anos nas igrejas da Europa. Dor, sofrimento, destruição e morte seriam infligidos a outros povos como nunca se vira. E o conflito iniciado em solo polonês se expandiria pelo continente e por todo o planeta, culminando na perda de algo como cem milhões de vidas humanas. O acontecimento de 75 anos passados seria o começo da maior e mais trágica tormenta da História…

Polen, Schlagbaum, deutsche Soldaten