Quem já acompanha Frumentarius há algum tempo, sabe que, desde o início deste blog, faço referência, no dia 25/12, a um dos acontecimentos mais inusitados e marcantes da I Guerra Mundial, apesar de pouco conhecido: a Trégua do Natal de 1914. O evento, ocorrido no primeiro ano daquele sangrento conflito, completa em 2014 cem anos.
O que se viu nas trincheiras da Grande Guerra naquele dezembro de 1914 poderia, indubitavelmente, inserir-se entre os mais belos contos de Natal. E, como toda bela história, aconteceria apenas naquele ano, mas marcaria todas as gerações de combatentes a partir de então.
A guerra já seguia por quatro meses (mais do que esperado quando soaram os primeiros canhões de agosto). Após movimentos iniciais, como a invasão da Bélgica e a entrada em território francês, o conflito na frente ocidental estagnara-se, tornando-se uma guerra de trincheiras.
Já comentei aqui o que era uma guerra trincheiras, e por isso apenas assinalo que os soldados permaneciam a maior parte do tempo enfiados naquelas valas de cerca de 2,5 a 5 metros de profundidade e 2 de largura, em um complexo defensivo de túneis que se estendia da costa do Atlântico até a fronteira com a Suíça. Enfrentavam as intempéries, as péssimas condições sanitárias e os ataques do inimigo, aí incluído o fogo da artilharia, que lançava projéteis convencionais e bombas com gás sobre os combatentes entrincheirados. A vida ali, portanto, não era fácil.
Periodicamente, cada lado conduzia ataques com o objetivo de tomar a trincheira adversária. Para isso, a tropa tinha que, literalmente, desentocar-se e enfrentar a metralha inimiga, passando pela temível “terra de ninguém” (o espaço de cerca de 200 metros entre as trincheiras, cheio de crateras, lama, arame farpado e corpos de combatentes). Claro que os resultados dessas ações eram pouco efetivos para a vitória, embora custassem uma grande quantidade de vidas. E a guerra permaneceria estática, com as linhas de trincheira quase imutáveis, por quatro longos anos.
Mas voltemos ao Natal de 1914. O inverno castigava. Os homens se agrupavam como podiam naquelas valas congelantes. Uma cabeça levantada para olhar para as linhas adversárias poderia custar a vida. A paz parecia bem distante. E o Natal, diferente de qualquer outro pelo qual já haviam passado todos aqueles combatentes, mostrar-se-ia ainda mais inusitado.
Naquele 24 de dezembro, em alguns pontos da frente ocidental, o milagre começou. Um soldado inglês relatou que, enquanto estavam entocados em sua trincheira, ele e seus companheiros começaram a ouvir canções de Natal do outro lado da terra de ninguém. Alemães celebravam o nascimento do Cristo. Logo veio a resposta: os soldados britânicos também começaram a cantar… Mais algum tempo e as primeiras palavras de feliz natal vinham do lado inimigo, cordialmente respondidas. Logo alguns corajosos colocaram o rosto para fora da trincheira. O inimigo não atirava de volta. Então, soldados de ambos os lados começaram a sair de seus abrigos, atravessando a terra de ninguém para cumprimentar os oponentes do outro lado – afinal, tinham muito mais em comum do que imaginavam!
A confraternização nas trincheiras provocou uma reação em cadeia, que se estendeu por praticamente toda a frente ocidental. Combatentes de ambos os lados se abraçavam, cantavam juntos, trocavam cumprimentos de Feliz Natal e até presentes (como cigarros). Fotos da família na carteira eram mostradas ao inimigo. Em alguns lugares, partidas de futebol ocorreram. Os mortos foram enterrados. E, durante alguns dias, nenhum tiro foi disparado.
Claro que a situação inusitada deixou perplexos e preocupados os comandantes. Logo vieram ordens para por fim à “confraternização com o inimigo”. Soldados foram substituídos e oficiais punidos. E, em.pouco tempo, tiros voltaram a ser disparados. A guerra deveria continuar… e o seria por mais penosos quatro anos e milhões de mortos.
Nunca mais aconteceu uma confraternização como a do Natal de 1914. Passados 100 anos, aquele evento deve continuar a ser lembrado. Afinal, constatou-se ali o poder do Espírito de Natal, que fez inimigos se darem as mãos e celebrarem o nascimento Daquele que veio para pregar o amor e a união entre os povos.
Feliz Natal a todos! E que a Paz do Cristo preencha todos os corações!
Segue um texto bem detalhado e interessante sobre o Milagre do Natal de 1914.

Guerra de Trincheiras
Publicado em 30/04/2013 Fatos Internacionais
http://tokdehistoria.com.br/tag/guerra-de-trincheiras/
OS INUSITADOS ACONTECIMENTOS DA CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA ENTRE INIMIGOS DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Tudo teve início quando foram assassinados em Sarajevo, na Sérvia, o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa Sofia. A ação foi realizada por um estudante, mas toda trama fora criada por um membro do governo sérvio. Em 28 de julho, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia. Grã-Bretanha, França e Rússia se aliaram aos sérvios; a Alemanha, aos austro-húngaros. Tinha início a Primeira Guerra Mundial, conhecida então como Grande Guerra.
Na sequência o mundo viu um ataque alemão inicial através da Bélgica em direção a França. Este avanço foi repelido no início de setembro de 1914, nos arredores de Paris pelas tropas francesas e britânicas, na chamada Primeira Batalha do Marne. Os aliados empurraram as forças alemãs para trás cerca de 50 km. Os germânicos seguem para o vale do Aisne, onde prepararam suas posições defensivas.

As forças aliadas não foram capazes de avançar contra a linha alemã e a luta rapidamente degenerou em um impasse. Nenhum dos lados estava disposto a ceder terreno e ambos começaram a desenvolver sistemas fortificados de trincheiras. Isso significou o fim da guerra móvel no oeste.
Continuar lendo →
Curtir isso:
Curtir Carregando...