Conversando sobre Defesa…

amorim-hg-20090929Entrevista de Sua Excelência o Senhor Ministro de Estado da Defesa, Celso Amorim, à Folha de São Paulo. Para um Ministro da Defesa, Amorim é um ótimo diplomata. Sem maiores comentários…

Folha de São Paulo – 21/06/2013 – 03h00

País precisa investir em defesa cibernética, diz Amorim

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

A descoberta de um sistema de megaespionagem nos EUA preocupa o Brasil e é preciso investir em “defesa cibernética”. Quem faz o alerta é o ministro da Defesa Celso Amorim. Ele próprio desconfia que pode ter sido alvo de escutas telefônicas no passado.

O ministro advoga o desenvolvimento de um pensamento de defesa para a região, que priorize os recursos naturais. “O Brasil é um país muito rico, tem muitas reservas naturais. E esses recursos naturais podem ser objeto de cobiça”, afirma. Para ele, é necessário criar uma base industrial de defesa comum na América do Sul.

Nesta entrevista, concedida em São Paulo, Amorim, 71, trata da Comissão da Verdade e comenta as manifestações pelo país, que, na sua visão, refletem o distanciamento entre as estruturas de governo e a população. Continuar lendo

E agora, senhores dirigentes?

291260-970x600-1Um aspecto interessante nas manifestações dos últimos dias tem a ver com a resposta da classe política: não houve, praticamente, resposta da classe política. Só que se nossos políticos não acordarem, poderão viver um grande pesadelo…

Assim como analistas, politólogos, comentaristas e geral, os políticos brasileiros foram pegos de surpresa com a magnitude do movimento popular… Muitos ficaram surpresos com o caráter refratário da imensa maioria dos manifestantes a qualquer associação dos protestos com partidos políticos ou causas ideológicas tradicionais… Cresce a sensação de “crise de representatividade” da classe política. “Se aqueles que elegemos não nos ouvem, vamos às ruas gritar mais alto! Se nossos representantes nada fizerem, vamos nós tentar fazê-lo por nós mesmo!”, essa pode ser a mensagem que muitos cidadãos descontentes estão querendo passar…

291432-400x600-1Tudo é novo, tudo é diferente nesses protestos. Isso assustou à classe dirigente e a deixou sem reação. A instituição política é que está posta em xeque. O povo está dizendo que os políticos não mais o representam. Mas nossos dirigentes parecem ainda não ter acordado para o problema.

Surpreende a lentidão ou mesmo a falta de reação do Poder Executivo. Nos âmbitos estadual e municipal, nas principais metrópoles, de uma primeira resposta contrária ao movimento, logo prefeitos e governadores passaram a se dizer “apoiadores da causa” e tentaram resolver a crise de maneira simplista, reduzindo o preço das tarifas. Só que a resposta que a população quer não é essa…

Os brasileiros clamam por mudanças estruturais e fundamentais. E essas mudanças envolvem uma alteração na maneira como se conduz a política no Brasil e como se trata a coisa pública. Se esse movimento conseguir algo efetivo, bom seria que fosse uma mudança política no País.

protestos quinta presidente vargasNo Poder Legislativo, onde se encontram os representantes legitimamente eleitos do povo, a resposta ainda é muito efêmera, talvez devido à dificuldade de se entender o que está acontecendo. Mas, cedo ou tarde, o Congresso Nacional terá que se pronunciar e cumprir a sua missão de caixa de ressonância dos anseios populares. Nesse sentido, uma cena muito interessante foi vista esta noite de quinta-feira, no Senado. Na Câmara Alta, os Senadores decidiram manter a sessão plenária, em uma vigília que ainda permanecia enquanto escrevia este texto (já passava da meia-noite). Recomendo a leitura dos discursos da sessão. Gostei muito das palavras dos senadores Cristovam Buarque e Rodrigo Rollemberg: em síntese, fizeram um mea culpa da classe dirigente que é atualmente questionada e assinalaram problemas na condução da política no Brasil (registro que não tenho qualquer filiação partidária, apesar de ser declaradamente conservador na política, liberal na economia, defender de maneira ferrenha o direito do cidadão fazer o que quiser em sua vida privada, desde que não prejudique outros, e ver na monarquia constitucional o melhor regime político). O Parlamento, portanto, já dá sinais de que começa a entender a questão.

Mas, e no Executivo? Até o momento, tudo segue como se nada estivesse ocorrendo. A Presidente ainda não se pronunciou de maneira efetiva sobre o assunto. Ao contrário, foi a São Paulo se consultar com seu antecessor (muito experiente em termos de movimentos populares). Enquanto isso, milhões de brasileiros já cobram uma atitude de Sua Excelência. 

DilmaNão repetirei minhas considerações sobre o que está deixando a população descontente. Mas ficaria muito feliz se a Presidente Dilma reconhecesse que, em âmbito federal, há muita gente insatisfeita com a maneira como o atual Governo tem gerido a coisa pública. Parece que ainda não está claro a nossa dirigente que há significativas falhas políticas e administrativas neste Governo.

Espero que a Chefe de Estado faça alguma coisa. Caso contrário, a situação pode fugir realmente ao controle. E tudo o que este País não precisa no momento é de mais instabilidade política.protestos-brasil

Dos protestos pacíficos à violência descontrolada…

protestos quintaAlgumas mudanças já são perceptíveis entre os protestos de segunda-feira e os de hoje, quinta. A mais marcante delas é o fato de que, enquanto as primeiras foram majoritariamente pacíficas, as de hoje desembocaram em conflito entre policiais e manifestantes: mais de quarenta feridos no Rio de Janeiro; invasão do Palácio do Itamaraty em Brasília, com depredação do patrimônio público. Naturalmente, é isso que a imprensa (sobretudo a televisiva) passa a noticiar. 291261-970x600-1

Houve violência na segunda-feira, é óbvio. Difícil será esquecer de imagens como a da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) sendo covardemente atacada por bandidos da pior estirpe (alguns talvez até sob alguma orientação política), ou as tentativas de invasão da prefeitura de São Paulo. Porém, de maneira geral, o que se viu foram protestos pacíficos e ordeiros, sem cunho político-ideológico, apesar da TV buscar a todo custo mostrar e comentar os focos de violência…

Protesto-Recife-Foto-Bruno-Andrade_LANIMA20130620_0215_25Apenas a título de exemplo, a TV não mostrou o belíssimo ato de manifestantes que retornaram ao gramado em frente ao Congresso Nacional, já por volta de uma hora da madrugada de terça-feira, para recolher o lixo do protesto e limpar o local. Poucos segundos foram dedicados àqueles outros que foram no dia seguinte ao prédio do ALERJ para tentar limpar a sujeira feita pelos vândalos. Quero aqui registrar meus respeitos a esse grupo de brasileiros!

Mas, voltando às manifestações de hoje, o que se viu foram desfechos violentos. Policiais sendo agredidos por manifestantes e respondendo às agressões… patrimônio público e privado depredado… saques e vandalismo… bombas de efeito moral, balas de borracha, gás lacrimogênio… enfim, violência generalizada… O que explica isso?

O problema que vejo nessas manifestações é o que já havia assinalado anteriormente: não há foco definido. As pessoas estão insatisfeitas, e vão às ruas para protestar. Sem lideranças claras e foco definido, os clamores podem ter as mais diversas motivações e os mais distintos anseios. Tentou-se mesmo, após a redução do preço das tarifas de transporte (como se isso fosse a verdadeira razão), buscar causas como a PEC 37 (desconhecida da maioria), tipificação da corrupção como crime hediondo, ou o fim do foro privilegiado. Só que não é isso.

fogueira266_168899Repito, muita gente está nas ruas porque está insatisfeita. Chegou-se ao limite da indignação. Pode não se ter a ideia clara do que causa essa revolta, mas ela está aí. Pode ser o péssimo uso do dinheiro público, os serviços público deficientes, a falta de investimentos em educação, saúde, obras básicas… os gastos exorbitantes com coisas supérfluas, como as obras da Copa do Mundo. A violência desenfreada e a insegurança pública; a falta de respeito com que as lideranças (particularmente as políticas) tratam o povo; a miséria em meio à riqueza; a falta de crescimento e de perspectiva… a revolta com a classe política e contra a corrupção desenfreada… tudo isso e um sentimento de que o Brasil está em um caminho obscuro e sem rumo… tudo isso e nada disso…

291396-970x600-1Sem lideranças e sem foco, o movimento se dispersa. As alternativas não são boas: 1) violência, e resposta violenta por parte do Poder Público; ou 2) cansaço, e enfraquecimento do movimento – logo os protestos podem exaurir-se e as pessoas acabarão voltando para casa frustradas porque nada de fato aconteceu… e tudo continuará como dantes…

Sinceramente, espero que esse belíssimo levante popular surta bons efeitos. É uma grande oportunidade de mudanças… Só que precisamos saber o que queremos! Precisamos saber o que queremos que mude! E, como toda grande revolução, o povo precisa de líderes.291401-970x600-1