Não provoquem o Urso…

putin_medvedev_0229Apenas para corroborar o que disse sobre o papel de Moscou na crise síria. Se os EUA realmente decidirem por derrubar o regime de Assad, terão que contar, no mínimo, com a simpatia russa… Porém, ao dizer que pretende consultar o Congresso, Obama poderia estar demonstrando que não tivera grandes êxitos em um contato de bastidores com o Kremlin… Será que Washington ousaria desencadear uma ação militar contra Damasco à revelia de Moscou? Sempre bom lembrar quem governa a Rússia…

RIA Novosti

US Strike on Syria Inadmissible, Even if ‘Limited’ – Moscow

03:39 31/08/2013
A military strike on Syria not sanctioned by the UN Security Council would be inadmissible no matter how “limited” it is, the Russian Foreign Ministry said on Friday.

 MOSCOW, August 31 (RIA Novosti) – A military strike on Syria not sanctioned by the UN Security Council would be inadmissible no matter how “limited” it is, the Russian Foreign Ministry said on Friday.

US President Barack Obama said earlier in the day that a potential military strike on Syria would be a “limited” operation aimed at punishing the Syrian government for achemical weapons attack it allegedly carried out last week.

“Any unilateral military sanction bypassing the UN Security Council, no matter how “limited” it is, will be a direct violation of the international law, [it will] undermine the possibility to solve the conflict in Syria by political and diplomatic means, [and] bring about a new round of confrontation and casualties,” Russian Foreign Ministry Spokesman Alexander Lukashevich said in a statement late on Friday. Continuar lendo

Apocalipse Now… in Syria

assad_obamaMuita gente tem-me perguntado sobre a crise na Síria e a provável intervenção estadunidense no país do Oriente Médio. Desde que começou o Levante (como sempre chamei a tal da “Primavera Árabe”), há dois anos, tenho dito que a Síria é muito distinta dos demais Estados que passaram pelas revoltas populares, seja a Líbia de Kadafi, seja o Egito de Mubarack… Tanto por sua posição geográfica, quanto pelas características do regime e de seu líder, ou ainda pelos seus estreitos vínculos com grandes potências como Rússia e China e aliados como o Irã e o Hesbollah, o caso sírio é bem mais complexo do que muitos “experts” têm dito.

Assad_quadroNestes dois anos tenho assinalado que Bashar Hafez-al-Assad não é um simples ditadorzinho de país em desenvolvimento, e que dificilmente deixaria a Presidência da Síria pelas manifestações da oposição. Assad estaria mais para déspota esclarecido.  Seu pai assumiu o poder na Síria quanto ele tinha cinco anos de idade – natural que desde cedo já houvesse a possibilidade de ser preparado para uma sucessão. Estudou em Londres, conhece o Ocidente, e muito distante está de um líder beduíno que ocupa o palácio de dia e à noite vai para sua tenda, ou de um coronel que herda o poder de outros coronéis. É, verdadeiramente, uma liderança em seu país e conta com apoio de parte da população.

Ademais, contra Assad se rebelaram grupos distintos, inclusive alguns associados à Al-Qaeda. Ou seja, ele é, ao menos, a opção conhecida no governo do país. Difícil identificar quem poderia assumir o poder em seu lugar ou mesmo se os rebeldes não continuariam a luta fratricida, permanecendo a instabilidade.

assad putin Também desde cedo assinalo que qualquer investida militar contra a Síria teria que contar com a aquiescência de Moscou. O país é área de influência russa – vale lembra que a maior base naval russa em águas quentes é na Síria – e está muito próximo do território da antiga União Soviética para que Putin deixe de acompanhar muito de perto e com grande interesse os acontecimentos e muito menos uma ação militar ocidental. Tenho comentado, ainda, que Assad cairá quando perder o apoio de Moscou.

Falando ainda da Rússia, interessante tem sido a orientação do Kremlin na crise. Sempre manteve o apoio a Damasco, apoio esse que se evidenciou nas últimas declarações sobre os ataques com armas químicas e nas intervenções no Conselho de Segurança da ONU. Nesse ponto, conta com o apoio de Pequim que, no mínimo, não tem interesse em ver aumentada a influência ocidental na região.

Note-se, além disso, que a relação entre Washington e Moscou tem-se mostrado mais tensa nos últimos meses. Algumas vezes se falou sobre uma nova Guerra Fria (ao menos em certos discursos do Governo russo isso foi expressado). O caso Snowden contribuiu para o aumento da tensão, inclusive com o cancelamento de reuniões de cúpula entre Obama e Putin. Os russos aumentaram a presença na Síria e continuam fornecendo armas a Assad. O recado de Moscou, claro desde sempre, mas somente agora percebido por muitos “especialistas” é: “não brinquem no meu quintal sem me consultar”.

syria protest1Entretanto, apesar dos avisos, Obama parece particularmente interessado em uma ação militar contra a Síria e em tirar Assad do poder – ou isso, ou tem-se aí um grande blefe por parte de Washington! E o pior é que encontra resistência em casa, e também entre seus aliados tradicionais. David Cameron, por exemplo, já retrocedeu na ideia de tomar parte diretamente na intervenção na Síria. Até mesmo Israel não se mostra entusiasmado com os tambores de guerra – claro! além do primeiro alvo de contra-ataques, os israelenses já conhecem (e bem) o atual governo Sírio e seu líder, e temem quem poderia sucedê-lo (no Egito, como também já havia assinalado aqui neste site, a experiência não foi das mais felizes).

Bom, alguns diriam, a intervenção militar conta com o apoio de Hollande… Do social-democrata Hollande? Do líder forte e altivo Hollande? Alguém pode me dizer quantas guerras a França venceu nos últimos 150 anos?

Mas, e se os EUA, contrariando seus principais aliados, desafiando Moscou e Pequim, e provocando Teerã, resolverem atacar a Síria? Bom, um conflito tradicional, como na invasão do Iraque, acho improvável. O país sofrerá ataques aéreos e aumentar-se-á o apoio aos rebeldes, mas não acho que Obama arriscaria mandar soldados estadunidenses para este novo teatro de operações. Se, contra todas as expectativas, assim o fizer, pode correr o risco de encarar o que dois democratas que o antecederam tiveram que enfrentar quando decidiram por incursões militares na Ásia – a total surpresa e o desgaste com um conflito prolongado. Falo de Truman na Coréia e Lindon Johnson no Vietnã.

Uma característica da guerra – e qualquer polemólogo iniciante sabe disso – é que se conhece muito bem como ela começa, mas como terminará é sempre uma incógnita. No caso da Síria, se os russos mantiverem o apoio a Assad, o conflito pode se prorrogar… E, havendo a intervenção por terra, será que poderia ocorrer uma nova Coréia (com soldados iranianos e libaneses combatendo ao lado dos sírios) ou um novo Vietnã? Interrompo aqui minhas reflexões para pensar um pouco mais…

Diante de todo esse cenário, a única certeza é que uma intervenção militar estadunidense na Síria será a pior das possibilidades. Mas Obama deve saber disso. Truman e Lindon Johnson também deviam sabê-lo, não?

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