Thatcher e as Falklands

"Ela tem a boca de Marilyn Monroe e os olhos de Calígula". François Mitterand

“Ela tem a boca de Marilyn Monroe e os olhos de Calígula”. François Mitterand

Interessante a liberação de parte dos arquivos britânicos sobre a Guerra das Malvinas/Falklands. Bom para os que estudam processos decisórios das Grandes Potências.

Sobre a matéria aqui postada, algumas observações:

1) Lady Thatcher não foi “pega de surpresa” com a invasão argentina das Falklands”. A própria matéria registra que a inteligência (e sempre a inteligência) já vinha informando dos planos de Buenos Aires.

2) O comentário de Lady Thatcher ilustra bem a insanidade que foi a iniciativa de se atacar as ilhas: “I again stress, I thought that they would be so absurd and ridiculous to invade the Falklands that I did not think it would happen.” Nesse sentido, por melhor que fossem as informações fornecidas pela inteligência, a razão levaria o tomador de decisões a não conceber uma campanha tão “absurda e ridícula”.

malvinasO episódio das Malvinas/Falklands foi fundamental para o colapso da ditadura na Argentina. Também serviu para consolidar a imagem de Thatcher como Dama de Ferro. E os argentinos, que acharam que iriam anexar facilmente as ilhas, acabaram contribuindo para que não ocorressem cortes no orçamento de Defesa do Reino Unido e para implodir definitivamente a imagem dos militares na Argentina, com conseqüências, inclusive orçamentárias, que alcançam nossos dias.

Nesta segunda década do século XXI, as relações entre os dois países continuam delicadas. Para piorar, no aniversário do Conflito, Cristina (sempre Cristina!) começou a provocar Londres com um discurso nacionalista pela e retomada das Malvinas (que, desde o início do século XIX, não são argentinas… e são Falklands!)… Claro que se tem que dar um desconto para demagogia latino-americana, mas…

Em tempo: há pouco, no Jornal da Globo News, Ariel Palacios deu uma aula de História e Jornalismo (pela capacidade de síntese e clareza na exposição) ao falar daqueles acontecimentos de 1982. Considero Palacios um dos grandes correspondentes que temos.

Gosto muito de Lady Thatcher… Aquela foi uma grande mulher na política. Thatcher é coerente. Thatcher é decidida. Thatcher é sexy.

BlogMalvinasBelgrano_sinking

BBC UK 28 December 2012
 By Peter Biles BBC World Affairs Correspondent
Argentine soldiers in the Falkland Islands

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The 1982 invasion of the Falkland Islands by Argentina took Margaret Thatcher by surprise, newly released government papers have shown.

The then-prime minister only saw it was likely after getting “raw intelligence” two days before the Argentines landed.

Papers released under the 30-year rule show Mrs Thatcher was acutely worried about retaking the islands. Continuar lendo

Muffins, brigadeiros e uma lição de brasilidade

Estava em casa vendo TV e coloquei na Globonews, onde passava o Globonews em Pauta… Em meio à conversa entre os jornalistas sobre assuntos corriqueiros, que acabou chegando à “nacionalidade” de alguns doces como o quindim e o doce-de-leite, a conversa alcançou o brigadeiro, esse típico petisco de nossa terra… Foi aqui que o jornalista Arieal Palacios deu uma lição de brasilidade: Palacios, que é argentino criado no Brasil e conhece este País como poucos, disse que gosta muito de brigadeiro. E comentou sua decepção quando, ultimamente, ao chegar a aeroportos como Congonhas, Guarulhos e Salgado Filho, louco de vontade de provar um brigadeiro, só encontra nas lanchonetes desses aeroportos muffins, cookies e outras guloseimas que, apesar de deliciosas (ele mesmo o reconhece) nada têm de doces brasileiros. E o jornalista argentino conclui com o seguinte e lúcido comentário: “é assim que vamos receber os estrangeiros que por aqui chegarem para a Copa e as Olimpíadas?”.

A impressão que tive é que ninguém no estúdio percebeu a profundidade e a perspicácia do comentário de Ariel… Ninguém notou o problema que se configura com a ausência dos simples e discretos brigadeiros nas lanchonetes dos aeroportos! Os jornalistas brasileiros mostraram-se desatentos, assim como a maioria absoluta de nossos “formadores de opinião”, para a perda de alguns bens e valores culturais tão tradicionais, como a música, a língua e, agora, a gastronomia! Estaríamos perdendo nossa brasilidade?

Concordo plenamente com Palacios! Estranheza e absurdo que na porta de nossa casa encontremos uma recepção que pouco tem de brasileira! Não estou falando de escola de samba ou pessoas vestidas de verde-amarelo e fazendo embaixadinhas nos aeroportos para turista ver! Estou falando de se mostrar um pouco do verdadeiro Brasil, de nossas raízes (e a gastronomia certamente tem seu papel de destaque nisso!)!

Não temos que ficar com ufanismos ou discursos nacionalistas exacerbados. Entretanto, a história contata pelo jornalista deveria nos causar vergonha como brasileiros. A ignorância e a necessidade de parecer atual faz com que muitos brasileiros coloquem de lado nossas tradições e importem de tudo… afinal, tudo que vem de fora é bom (ainda que os muffins e cookies realmente o sejam)! Continuamos colônia, é que ficou muito evidente. Continuamos muitas vezes como macacos reproduzindo o que gente de outras terras fazem porque parece chic (galicismo) ou fashion (anglicismo). E ficamos contentes se ganhamos uns espelhinhos em troca de nossas macaquices.

Claro que as lanchonetes devem vender muffins e cookies! Entretanto, têm que deixar um lugar de destaque para o bom e velho brigadeiro, para o bolinho de fubá, o de mandioca e para o bolo-de-rolo! Por que não mostrar aos estrangeiros que aqui chegarão o quanto essas guloseimas são singulares e tão típicas nossas, assim como é o pão-de-queijo, o guaraná e a coxinha de galinha (vi coxinha em Portugal, mas não era esse o nome que davam a ela por lá… daí que a “a coxinha também é nossa!”)!!!

O Brasil é um país riquíssimo de recursos naturais… mas também é muito, muito rico em termos de tradição e cultura, de Norte a Sul e de Leste a Oeste. Conhecer e vivenciar outras culturas é muito bom (ninguém mais que eu para reconhecer isso!)! Entretanto, isso não pode ser pretexto para desvalorizarmos a nossa própria tradição e colocarmos preciosidades tão autenticamente brasileiras como o brigadeiro em segundo plano. Se o fizermos, voltaremos a ser colônia (e o pior é que a maioria estará very happy com isso)…