Ninguém gosta da cena aqui registrada

LADRO-~1

Ninguém gosta da cena aqui registrada. Esta não é uma imagem agradável de se ver. Denota humilhação, sofrimento, desamparo. Afinal, é um ser humano que ali está preso como algo não humano, e isso gera sentimentos de repulsa e solidariedade dos que testemunham a cena, sentimentos atávicos. “Não, não é um ser humano! É um bandido!”, logo alguém esclarece. E aí, em muita gente, o sentimento muda…

Ninguém gosta da cena aqui registrada. De fato, ainda que o indivíduo seja um criminoso, não é isso que deveria lhe acontecer em uma sociedade civilizada. Não, não em uma sociedade civilizada! Mas a imagem indica, não obstante, o quão distante estamos da civilização.

Ninguém gosta da cena aqui registrada! Explicações sociológicas virão aos montes! Grupos de direitos humanos (que não se manifestariam se a vítima fosse um policial ou outro trabalhador) vão partir em defesa do criminoso fazendo referência ao passado escravocrata brasileiro. Intelectuais se chocarão. Artistas falarão do problema da violência e da degradação dos valores (que muitos deles contribuem para destruir). Jornalistas registrarão, indignados, o absurdo da violência no Brasil (registro que renderá bons minutos de TV ou páginas de jornal)! Eu tenho minha explicação para esse fenômeno… é mais simplista, talvez porque eu seja simplista…

Ninguém gosta da cena aqui registrada. Além de deixar claro o quão distante estamos do que seriam patamares mínimos de civilização, a imagem também sinaliza outra coisa: que os brasileiros estão se cansando da inércia do Estado. Essa é minha explicação: devido às mazelas políticas, associadas à incompetência dos dirigentes e ao total colapso moral daqueles que governam este País, que perderam o respeito, o brasileiro se vê completamente desamparado diante da criminalidade e da violência. E começa a reagir. Reagir como pode…

Reagir como pode está relacionado, por exemplo, a tomar para si uso da violência com o objetivo de se defender dos criminosos. Afinal, muitos dos governantes que aí estão conseguiram se apropriar do Estado de tal maneira, com o único fim de se locupletar e saquear a coisa pública, que deixaram de se preocupar com aspectos essenciais como a Segurança Pública. Transformaram o Estado brasileiro em um grande balcão de negócios, fazendo da coisa pública algo privado. E têm conseguido fragilizar instituições, como a polícia, o Ministério Público e o Judiciário. Apenas os criminosos (comuns ou de colarinho branco) ganham com a fragilização do aparato policial e das instituições judiciais. Criminosos e aqueles que defendem um Estado anárquico.

Ninguém gosta da cena aqui registrada. Tenho dito que este País está chegando ao chamado “ponto sem retorno”. O Estado vem perdendo o monopólio da violência, o governo perdeu a capacidade de gerir adequadamente a coisa pública, e o cidadão não reconhece mais a legitimidade dos que se propuseram a representá-lo (?) e a dirigir o País – talvez porque, de fato, esse nunca tenha sido seu objetivo quando se propuseram a ocupar cargos públicos… E tudo isso em meio a um clima de colapso moral, com exemplos que chegam de muito alto, infelizmente…

Ninguém gosta da cena aqui registrada. Vivemos um momento perigoso para a democracia e, de fato, para nossa sobrevivência como sociedade: o Estado brasileiro está esfacelando-se pelas mãos de grupos sem compromisso com a coisa pública. Algo precisa ser feito, os brasileiros precisam acordar!

Ninguém gosta da cena aqui registrada. Mas, à medida que o Estado, por meio dos governantes, não consegue resolver o problema da insegurança pública, ela vai se repetir. E vai se repetir de maneira mais intensa. O cidadão de bem está cansado de ser vítima, vítima de criminosos, e vítima de um Estado inerte.

Ninguém gosta da cena aqui registrada. Mas, do jeito que a coisa vai, ela logo passará a ser o cartão postal do Brasil.

07/02 – 15:35 – Notícia da Cidade

Mesmo após a série de protestos contra os responsáveis por algemar um jovem pobre e preto, completamente nu, pelo pescoço, a um poste no bairro do Flamengo, a foto de um outro homem também sem roupas, amarrado a um cano na calçada em frente à sede da empresa norte-americana IBM, no bairro de Botafogo, também na Zona Sul do Rio, voltou a circular nas redes sociais. O fato ocorreu em 2010, mas a foto voltou a ser publicada em um site na internet, apócrifo, que presta algum tipo de homenagem ao filme Tropa de Elite, com o título Faca na Caveira Oficial. O Correio do Brasil não pode confirmar, com fontes oficiais ou independentes, a autenticidade da atual fotografia mas o fato teria sido publicado no diário popular carioca O Dia, à época. Continuar lendo

Alguns são mais humanos que os outros

Parentes-pFinados. Enquanto muitos brasileiros velam e lembram de seus entes queridos que já deixaram este vale de lágrimas, fiquei pensando em um grupo vitimado pela violência de nossas ruas, mas que comumente é esquecido: as dezenas de policiais que todos os anos tombam no cumprimento do dever. E o que me levou a refletir sobre isso foi a cobertura feita pela imprensa (sobretudo a televisiva) da tentativa de resgate de criminosos no Fórum de Bangu (RJ) e que culminou, segundo alguns meios, “na morte de um garotinho de 8 anos, Kayo da Silva Costa… e de um policial militar”…

Certamente, a morte do garoto, ainda na doçura da infância, é algo para se lamentar e deixar a sociedade indignada. Revela a violência a que milhões de brasileiros são submetidos, a incapacidade do Estado de garantir a segurança, a banalização do crime e do mal, e a necessidade de mudança. Nesse sentido, não tenho mais paciência para o discurso “do criminoso como vítima das desigualdades”. Criminoso tem que ser tratado como criminoso, não como vítima! Acho que a grande maioria da população não aguenta mais essa conversa de intelectuais de classe média que tratam o problema da violência das ruas sob o prisma de “considerações sociológicas acerca da desigualdade histórica brasileira”.

Policial morto forum banguMais voltemos ao policial executado. Muito pouco se falou dele. Praticamente, nenhuma imagem divulgada, salvo aquela que circula em algumas redes sociais (nem sei se é realmente dele). Nada sobre o tempo na Polícia Militar, sobre sua família, seus sonhos e esperanças. Nada além daqueles chavões como “o pai disse que era um homem bom” ou “sua morte causou indignação entre os colegas”… Afinal, era apenas “mais um policial”. Aí é que está o problema!

Alexandre Rodrigues de Oliveira, 40 anos, sargento da PMRJ por 18 anos, segundo filho de três irmãos, casado, servia no Fórum há cerca de um ano. Para a surpresa de muita gente, era um cidadão e um trabalhador, como tantos milhões de brasileiros. Ah, sim! E era um ser humano. Policiais também são seres humanos!

Os brasileiros nos acostumamos tanto com a violência, e a morte de policiais se tornou algo tão corriqueiro (o que não deveria ser), que a notícia passa despercebida, aparecendo apenas como uma pequena nota na grande imprensa… Policiais mortos não rendem matéria, não mais! São baixas pouco sentidas! Isso é inaceitável!

pm2Sim, policiais também são seres humanos! Têm tanto direito à vida, à liberdade, à segurança e à dignidade quanto qualquer outro ser humano. No Brasil, porém, os formadores de opinião desprezam policiais… são, na opinião de muitos, “lacaios do aparato repressor do Estado, e que devem ser apenas tolerados como um mal necessário à garantia da ordem pública”. Quando são agredidos, ficam incapacitados ou morrem, há filhos que ficam sem pai, pais que perdem o filho, esposas que acabam sem marido,lares que são destroçados. Muita gente perde com a morte de um policial: familiares, amigos, colegas… Mas também a sociedade perde.

mulher-policial-2Quando um policial é morto, fica evidente o colapso do sistema de segurança pública. Afinal, é ele o agente do Estado legitimamente constituído para garantir a segurança de todos. Uma agressão a um policial é um atentado contra o Estado e a sociedade. Mas, infelizmente, não é assim que muitos formadores de opinião no Brasil o percebem! Comumente, mais digno de nota é o relato da morte de um criminoso, de um facínora assassino, de um traficante, de um crápula… E se for “injustamente executado” em uma troca de tiros com a polícia, o mundo desaba! Até passeata se faz em defesa dos direitos humanos desses canalhas! Claro que eles também têm direitos humanos a serem defendidos e preservados, disso não discordo (desde que sejam humanos, certo?!?). Porém, entre os direitos humanos dos criminosos e os das vítimas desses bandidos em geral, e os dos policiais que tombam combatendo o crime em particular, fico com os dois últimos grupos. Tudo mais é inversão de valores.

policia-civil-mulher-370x290O sargento Alexandre foi mais um entre tantos policiais que morrem diariamente vítimas da criminalidade no Brasil… centenas de homens e mulheres esquecidos… Isso não pode continuar assim. Algo precisa ser feito para que a morte de um agente da lei seja inaceitável e passível de severa punição. A sociedade brasileira não pode continuar encarando com naturalidade a execução de policiais. Os formadores de opinião não devem aclamar criminosos em detrimento de homens e mulheres da lei.

Ou repensamos nossos valores ou teremos um Brasil que se desagregará mais e mais, corrompido pela violência e degradado por um discurso que transforma o criminoso em vítima, a vítima em culpado, e o herói em estatística.FUNERAL DE PM

ESTADO INERTE, CIDADÃO ACUADO, CRIMINOSO FELIZ

brasao_feiraAbril de 2013. Na vitrine do Brasil, um casal de turistas estrangeiros é brutalizado ao pegar um suposto transporte público. A moça foi violentada por três criminosos que já haviam estuprado outra mulher, em condições semelhantes, há alguns dias (só que, naquele caso, não houve qualquer repercussão). No Distrito Federal, em fevereiro foi alcançada a marca dos 100 homicídios desde o início do ano. Em São Paulo, policiais são alvejados por bandidos que atuam pagando dívidas de a organizações criminosas. Nas cidades brasileiras, grandes e pequenas, pessoas são executadas pelas razões mais fúteis, trabalhadores saem para sua lide diária sem a certeza de que voltarão para casa. A violência e a insegurança pública alcançam índices que fazem com que conflitos como o da Síria pareçam briga de criança. E o pior disso tudo é que o Estado se mostra cada vez mais inerte, e as autoridades públicas começam a adotar a política de recomendar ao cidadão que, simplesmente, fique em casa. Então, trancado em casa, esse cidadão só tem como opção rezar para que o criminoso não chegue a sua porta. Logo chegará.

Enquanto a onda de violência assola o País, cada vez mais nos acostumamos a “viver perigosamente”, em um ambiente onde a insegurança começa a ser percebida como algo natural. Não é. Alguma coisa precisa ser feita. Entretanto, no Brasil de 2013, a Segurança Pública não é tratada de forma profissional e racional, mas sim sob os efeitos de paixões, ideologias e utopias. E o discurso dominante inverte os valores, trata policiais como criminosos, cidadãos como culpados pela violência que sofrem, e criminosos como vítima da exclusão social. Ou mudamos essa percepção, ou a situação ficará insustentável.

Fala-se muito em Educação para resolver o problema da violência. Certamente, investimento em educação é de suma importância para fazer um Brasil mais seguro. Porém, investimento em Educação garantirá um amanhã melhor para Brasil. Mas, e hoje? O que fazer quando temos criminosos invadindo nossas casas, nos atacando nas ruas, cometendo todas as formas de violência contra o cidadão de bem? Não é com Educação (que forma os futuros cidadãos) que se solucionará o problema da criminalidade hoje. Medidas enérgicas devem se tomadas para neutralizar aqueles que promovem a violência.

grc3a1fico-da-violc3aanciaTambém não é possível que a sociedade brasileira continue se orientando por um discurso que defende o criminoso como vítima. As vítimas são outras. As vítimas são o chefe de família que sai de madrugada para o trabalho e é assaltado, agredido, assassinado; é o pai ou a mãe que vê seu filho sendo executado friamente por alguns reais; é a mulher ou a criança violentada por monstros que não podem ser chamados de humanos; é o policial morto no cumprimento do dever por bandidos que saem impunes. Essas são as verdadeiras vítimas.

Passa da hora de se pôr abaixo o discurso da “culpa social e da vitimização do delinquente” e tratar o criminoso como criminoso: aqueles que puderem ser reabilitados devem sê-lo. Para isso, uma ampla reforma prisional se faz necessária. Os criminosos devem ser colocados sob condições dignas no cárcere, mas sem os benefícios que negaram a suas vítimas. Devem ser obrigados a trabalhar no cumprimento de sua pena, tanto para ressarcir as vítimas, quanto para pagar o Estado pelo custo de seu confinamento e, ainda, para que, por meio do trabalho, possam ser reabilitados. É inaceitável que os criminosos passem o dia em nossas prisões sem absolutamente nada para fazer a não ser a se organizarem para cometer novos crimes, inclusive a partir da própria penitenciária. O trabalho árduo durante o dia deve servir para fazer com que o criminoso use suas noites para pensar no erro que cometeu.

a-crime-organizado-violencia-rioHá, entretanto, aqueles delinqüentes cuja reabilitação é impossível. Esses devem ser considerados inimigos da sociedade, e tratados como tal. Alguém realmente acredita na recuperação de criminosos de alta monta, de homicidas seqüenciais, de bandidos com inúmeras passagens pelo crime? Monstros são irrecuperáveis. Devem ser confinados, alijados do convívio social e obrigados, mais que qualquer um, a passar o resto de seus dias sob o mais rígido regime carcerário e, naturalmente, a trabalhar para pagar suas dívidas.

Precisamos, enfim, de uma mudança de paradigma. Temos um problema a ser resolvido, e já. A sociedade brasileira precisa se mobilizar para cobrar dos governantes medidas enérgicas e realistas para resolver o problema da violência. Caso contrário, a coisa só vai piorar, e o Estado se mostrará cada vez mais inerte, o cidadão mais e mais acuado, e o criminoso mais livre e feliz.

Joanisval Gonçalves