Quem matou Santiago?

cinegrafista-band-santiagoPrenderam Caio de Souza, acusado de lançar o rojão contra Santiago Andrade. Fábio Raposo, que teria fornecido o artefato a Caio, também está detido. Agora os dois responderão pelo homicídio, terão direito a um julgamento no qual buscarão provar sua inocência… Se não conseguirem, serão condenados e passarão parte da vida na cadeia… Santiago, a vítima, não teve a sorte de permanecer vivo. E as autoridades públicas já deram uma resposta à população e à imprensa, pois foi encontrado quem matou Santiago. O problema é que não foram só Caio e Fábio que mataram Santiago…

Mataram Santiago todos aqueles que voluntariamente participam de manifestações públicas com o objetivo de promover a violência, causar tumulto e gerar a desordem. Mataram Santiago pessoas que vão a esses protestos deliberadamente para agredir e promover o caos, usando táticas ardilosamente arquitetadas, moldadas sob orientação de quem foi treinado em cartilhas políticas de violência. Sim! Existem grupos e até de partidos políticos no Brasil que ainda defendem a promoção do caos, da desordem e da violência como forma de alcançar seus objetivos. Para essas organizações, o grande inimigo é a democracia.

O direito à reunião é assegurado pela Constituição brasileira, mas à reunião para fins pacíficos. É mais que evidente que há determinados grupos que participam desses protestos e manifestações para causar tumulto. Nada diferente do que faziam as SA (Sturmabteilung ou Seções de Assalto), tropas de choque do Partido Nazista na Alemanha dos anos 1920 e 1930. Ou alguém tem dúvida de que uma pessoa que vai “armada” com rojões para uma manifestação busca outra coisa além da violência? Essas ações são orquestradas, repita-se, e têm objetivos, muitas vezes objetivos políticos.

Também mataram Santiago aqueles governantes ineptos que permitiram que a situação chegasse a esse ponto. Claro que há responsabilidade por parte de quem deve garantir a segurança do cidadão! Sim, o desgoverno, a despreocupação com a ordem pública, a falta de investimento em setores básicos (e não em estádios de futebol), o desvio de recursos que deveriam ir para a segurança, a saúde, a educação, obras infraestrutura e planejamento urbano, e a condescendência com práticas criminosas de grupos insurgentes (companheiros, muitas vezes são eles assim chamados), tudo isso faz com que os governantes sejam responsáveis pela morte de Santiago. Onde há bom governo há ordem, segurança e paz.

Mataram Santiago todos os que buscam desvirtuar o trágico para algo diferente de uma agressão contra um cidadão comum. Quando se diz que o cinegrafista foi morto porque era da imprensa, e que algo precisa ser feito para proteger a imprensa, o que se está pregando é que a morte de outros cidadãos seria menos importante. E o discurso contra a indiferença diante da violência torna-se um discurso corporativista em defesa de uma determinada categoria profissional. Santiago não foi morto porque era cinegrafista. Santiago foi morto porque virou alvo de criminosos, de irresponsáveis que não mediam esforços em gerar baderna e violência. Foi um cinegrafista, mas poderia ser um policial, um comerciante ou qualquer outro trabalhador que estivesse passando por ali, exercendo sua profissão, ou mesmo um morador de rua que fosse pego na onda de violência.

Santiago está morto. Se o País continuar nesse torvelinho de incompetência política e administrativa, de violência descontrolada, de indiferença para com preceitos básicos de civilidade e cidadania, outros Santiagos serão mortos, e cada vez mais.

blackboc

 

Alguns são mais humanos que os outros

Parentes-pFinados. Enquanto muitos brasileiros velam e lembram de seus entes queridos que já deixaram este vale de lágrimas, fiquei pensando em um grupo vitimado pela violência de nossas ruas, mas que comumente é esquecido: as dezenas de policiais que todos os anos tombam no cumprimento do dever. E o que me levou a refletir sobre isso foi a cobertura feita pela imprensa (sobretudo a televisiva) da tentativa de resgate de criminosos no Fórum de Bangu (RJ) e que culminou, segundo alguns meios, “na morte de um garotinho de 8 anos, Kayo da Silva Costa… e de um policial militar”…

Certamente, a morte do garoto, ainda na doçura da infância, é algo para se lamentar e deixar a sociedade indignada. Revela a violência a que milhões de brasileiros são submetidos, a incapacidade do Estado de garantir a segurança, a banalização do crime e do mal, e a necessidade de mudança. Nesse sentido, não tenho mais paciência para o discurso “do criminoso como vítima das desigualdades”. Criminoso tem que ser tratado como criminoso, não como vítima! Acho que a grande maioria da população não aguenta mais essa conversa de intelectuais de classe média que tratam o problema da violência das ruas sob o prisma de “considerações sociológicas acerca da desigualdade histórica brasileira”.

Policial morto forum banguMais voltemos ao policial executado. Muito pouco se falou dele. Praticamente, nenhuma imagem divulgada, salvo aquela que circula em algumas redes sociais (nem sei se é realmente dele). Nada sobre o tempo na Polícia Militar, sobre sua família, seus sonhos e esperanças. Nada além daqueles chavões como “o pai disse que era um homem bom” ou “sua morte causou indignação entre os colegas”… Afinal, era apenas “mais um policial”. Aí é que está o problema!

Alexandre Rodrigues de Oliveira, 40 anos, sargento da PMRJ por 18 anos, segundo filho de três irmãos, casado, servia no Fórum há cerca de um ano. Para a surpresa de muita gente, era um cidadão e um trabalhador, como tantos milhões de brasileiros. Ah, sim! E era um ser humano. Policiais também são seres humanos!

Os brasileiros nos acostumamos tanto com a violência, e a morte de policiais se tornou algo tão corriqueiro (o que não deveria ser), que a notícia passa despercebida, aparecendo apenas como uma pequena nota na grande imprensa… Policiais mortos não rendem matéria, não mais! São baixas pouco sentidas! Isso é inaceitável!

pm2Sim, policiais também são seres humanos! Têm tanto direito à vida, à liberdade, à segurança e à dignidade quanto qualquer outro ser humano. No Brasil, porém, os formadores de opinião desprezam policiais… são, na opinião de muitos, “lacaios do aparato repressor do Estado, e que devem ser apenas tolerados como um mal necessário à garantia da ordem pública”. Quando são agredidos, ficam incapacitados ou morrem, há filhos que ficam sem pai, pais que perdem o filho, esposas que acabam sem marido,lares que são destroçados. Muita gente perde com a morte de um policial: familiares, amigos, colegas… Mas também a sociedade perde.

mulher-policial-2Quando um policial é morto, fica evidente o colapso do sistema de segurança pública. Afinal, é ele o agente do Estado legitimamente constituído para garantir a segurança de todos. Uma agressão a um policial é um atentado contra o Estado e a sociedade. Mas, infelizmente, não é assim que muitos formadores de opinião no Brasil o percebem! Comumente, mais digno de nota é o relato da morte de um criminoso, de um facínora assassino, de um traficante, de um crápula… E se for “injustamente executado” em uma troca de tiros com a polícia, o mundo desaba! Até passeata se faz em defesa dos direitos humanos desses canalhas! Claro que eles também têm direitos humanos a serem defendidos e preservados, disso não discordo (desde que sejam humanos, certo?!?). Porém, entre os direitos humanos dos criminosos e os das vítimas desses bandidos em geral, e os dos policiais que tombam combatendo o crime em particular, fico com os dois últimos grupos. Tudo mais é inversão de valores.

policia-civil-mulher-370x290O sargento Alexandre foi mais um entre tantos policiais que morrem diariamente vítimas da criminalidade no Brasil… centenas de homens e mulheres esquecidos… Isso não pode continuar assim. Algo precisa ser feito para que a morte de um agente da lei seja inaceitável e passível de severa punição. A sociedade brasileira não pode continuar encarando com naturalidade a execução de policiais. Os formadores de opinião não devem aclamar criminosos em detrimento de homens e mulheres da lei.

Ou repensamos nossos valores ou teremos um Brasil que se desagregará mais e mais, corrompido pela violência e degradado por um discurso que transforma o criminoso em vítima, a vítima em culpado, e o herói em estatística.FUNERAL DE PM