Lembrai-vos de 64!

2012_primeiro_de_abril_f_007Alguns de meus leitores certamente esperam minha manifestação na data de hoje, alusiva aos 50 anos do rompimento institucional de 31 de março 1964. Claro que não deixarei a data passar em branco! Afinal, foi um dos eventos mais importantes para a História do Brasil, independentemente de se aprovar ou não o que aconteceu a partir da ordem do General Olympio Mourão Filho de deslocar suas tropas de Juiz de Fora para o Rio de Janeiro. O Brasil passaria por grandes mudanças econômicas, políticas e sociais.

Não farei aqui qualquer apologia ao rompimento institucional de 31 de março de 1964 (não, não chamo, não chamarei e de forma alguma usarei o termo “golpe” que se consolidou no linguajar atual, totalmente submisso às ideias daqueles que se opuseram ao regime militar; tampouco chamarei de “revolução”, pois não há fundamentos teóricos para caracterizar o evento como uma revolução… talvez uma contrarrevolução…). Entretanto, ao contrário da maioria absoluta dos que comentam a efeméride, quero trazer uma percepção mais honesta e imparcial dos eventos.

marcha da familia 1964O Brasil vivia a crise mais grave de sua história desde a morte de Vargas (24/08/1954). Estávamos no meio da Guerra Fria, e a disputa bipolar por corações e mentes tinha no maior país da América Latina um palco importante. Naqueles dias, a divisão ideológica entre esquerda e direita era concreta e colocava amigos e familiares em lados opostos. No dia 19 de março, a primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu meio milhão de pessoas em São Paulo. 500 mil pessoas clamando pela queda de Jango e expressando seu temor de que o Brasil se tornasse um país comunista. Do outro lado, greves, mobilizações de organizações de esquerda no campo e nas cidades (como o comício da Central do Brasil, que reuniu 150 mil pessoas, em 30 de março), levantes de sargentos e cabos afrontando a hierarquia e a disciplina, valores sagrados para as Forças Armadas… Tudo com apoio, ou ao menos com a aquiescência, do Presidente da República… E tudo contribuía para um ambiente instável, em que qualquer faísca poderia ensejar uma grande explosão…

andec02Portanto, em março de 1964, havia um sentimento generalizado entre a classe média brasileira (e, por consequência, entre segmentos das Forças Armadas e das classes política e empresarial, entendidos hoje como grupos conservadores) de que a coisa não ia bem aqui em Pindorama. Tínhamos um presidente da república estancieiro, homem de grandes posses, mas que pregava reformas sociais de forte viés esquerdista, socialista… Greves, manifestações de trabalhadores, ligas camponesas propondo reformas radicais no campo, insurgências nos escalões inferiores das Forças Armadas, confusão, desordem, palavras de ordem a favor e contra o governo… Jango mostrava-se muito simpático à alternativa das esquerdas, e isso gerava preocupação entre aqueles que acreditavam que o país poderia tornar-se uma nação comunista. E essa preocupação, naquele momento, tinha muito fundamento, fazia sentido.

Hoje, os comentaristas de ocasião sobre os eventos de 1964 vão dizer que era uma grande besteira essa ideia de que o Brasil poderia se tornar uma nação comunista. Não, não era bobagem. Relembro que estávamos em meio à Guerra Fria, com a influência da União Soviética e de seus satélites muito significativa por aqui, particularmente para o estabelecimento das condições elementares para uma revolução proletária, e dos Estados Unidos fomentando o temor nos segmentos mais conservadores. “Ah! Mas isso não poderia acontecer em um país com as dimensões do Brasil!”… Por que não? Aconteceu em 1917 no maior país do globo e, mais recente, em 1949, no mais populoso, ambos com características semelhantes às nossas! Para piorar, o comunismo acabara de se consolidar no continente, com a guinada da Cuba revolucionária para esfera de influência de Moscou. O próprio Brasil já sofrera tentativas, civis e militares, de sovietização. O Partido Comunista (e agremiações similares) tinha vez e voz junto a certos segmentos de nossa sociedade, segmentos relevantes. E, para piorar as coisas, o Supremo Mandatário mostrava-se demasiadamente simpático às ideias “revolucionárias”.

manchete-jb-64_0A crise institucional precipitou a queda de Jango, é certo. Mas ele caiu porque não conseguia mais se sustentar… Não teve apoio significativo para resistir, pelo visto, não quis permanecer no poder (ao contrário de Allende, em 1973, que lutou até o fim): rapidamente, tudo estava consumado. Jango caiu. E parte da população, dos políticos e dos formadores de opinião apoiou os militares, que não poderiam realizar uma ação como aquela sem a aquiescência civil…

O governo que se seguiu à queda de Jango promoveu reformas relevantes para o Brasil. A economia cresceu três vezes e meia em duas décadas. Saímos de vez da condição de país agrário para nos tornarmos uma nação industrializada e urbana. Grandes obras de infraestrutura foram executadas (cito, apenas a título de exemplo, Itaipu e a Ponte Rio-Niterói). Índices sociais melhoraram de forma significativa, como a redução de analfabetismo e da mortalidade infantil, em que pese o acirramento das desigualdades. Havia civismo. E havia segurança, com a criminalidade contida. Enfim, o Brasil realmente despontou como um gigante, e essa herança do período militar não pode ser esquecida.

20110310-140364Claro que houve abusos e arbitrariedades. Afinal, eram anos turbulentos. “Não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos”, diriam os mais cínicos. E aqui também alguns ovos foram quebrados, mas poucos, se comparados com os regimes autoritários de direita da América Latina da segunda metade do século XX, ou com os de esquerda, dos quais ainda há remanescentes (e que continuam quebrando ovos…). Poderia ter sido diferente? Sim, poderia. Poderia ter sido bem pior se a esquerda tivesse tomado o poder. Mas isso deixo para reflexão futura.

Ah, sim! E não havia democracia nos anos que se seguiram à queda de Jango… É verdade. Ainda bem que hoje vivemos em uma democracia plena, e não em uma ditadura de uns poucos que se dizem falar em nome do povo. Ainda bem que me sinto representado pelos governantes, que a corrupção foi banida de vez da estrutura do Estado, que vivemos em um Brasil onde o Legislativo e o Judiciário não são submissos ao Executivo. Ainda bem que todos têm voz nesta nossa atual democracia, que há liberdade de expressão, que a oposição existe, que ideias divergentes das do grupo que está no poder são toleradas. Ainda bem que temos liberdade econômica, com a livre iniciativa e os empreendedores tento total apoio público, sem conchavos de companheiros para dar ganho nas concorrências às empresas de companheiros. Ainda bem que, nesta atual democracia, o Estado não controla o cidadão… Ainda bem que em nossa atual democracia a carga tributária é mínima, e não vemos o dinheiro de nossos impostos escorrendo pelos ralos da corrupção, de programas assistencialistas, e do péssimo gerenciamento da máquina pública. Ainda bem que temos a democracia que nos permite ver com transparência como o dinheiro público é gerido pela Administração direta, indireta e pelas empresas públicas – e, por falar nisso, bacana ver como nossa democracia propiciou a uma empresa orgulho dos brasileiros, a Petrobrás (com acento no “á” mesmo, pois foi assim que aprendi a escrever durante o período militar) alcançar a 120ª posição entre as maiores do mundo (apesar de ter sido, há alguns poucos anos, a 12ª). Ainda bem que temos democracia hoje, com direito de ir e vir, sistemas de transporte eficientes, desenvolvimento urbano e, naturalmente, segurança pública! Sinto-me seguro em nossa democracia, pois é muito baixo o risco de um trabalhador que sai cedo para ganhar o dia não voltar para casa ao fim de sua jornada, por ser vítima de criminosos! Sinto-me seguro, já que não há aparato repressor do Estado, ninguém morre por violência em nossas prisões, e a justiça é garantida a todos, indistintamente! 

cm_1964_01Os eventos de 31 de março de 1964, transcorridos cinquenta anos, devem ser lembrados como a vitória de um grupo sobre outro na disputa pelo poder em um Brasil de crise. Não condenarei os militares e civis que aderiram à derrubada de Jango, como também não condenarei os militares e civis que resolveram combater o novo regime, pegar em armas, promover o terrorismo, muitos desejosos de ver o Brasil transformado em uma grande Cuba. Eles viveram seu momento, combateram seu combate, fizeram sacrifícios pelas ideias em que acreditavam. 

Transcorridos cinquenta anos daquele 31 de março em que o General Mourão mobilizou suas tropas, penso que já passa da hora de ficarmos remoendo o passado e olhar para o Brasil de hoje, e para a frente. Deixem os mortos descansarem! Vamos olhar para o momento em que vivemos e para a crise que nos alcança. Que 1964 só sirva para lembrar que aquilo é passado, aquele era outro Brasil, e que muita coisa mudou nesses últimos cinquenta anos. Lembremos de 1964, e pensemos que as conquistas alcançadas nas duas décadas que se seguiram, em termos de segurança e desenvolvimento, foram valiosas, e que aquele não foi só um período de violência, repressão e atraso.

Miremos, portanto, o futuro! Daqui a oito anos celebraremos o bicentenário de nossa independência. Onde e como estaremos em 2022, será uma decisão nossa, a ser tomada agora. Não deixemos que nos tirem o futuro por ficarmos olhando apenas para o passado.

10154956_478108918983003_1035109568_n

 

Comissão da Verdade e crise na caserna

Não havia comentado nada sobre o assunto até o momento, apesar de acompanhar a questão muito de perto. Entretanto, como alguns seguimentos da mídia parecem estar dispostos a patrocinar perseguições em nome da suposta “necessidade de revisar o passado”, resolvi apresentar aqui algumas reflexões.

1) Fiquei decepcionado (para não dizer coisa pior) com a parcialidade e o manejo de informações do programa de Miriam Leitão na Globonews sobre a morte de Marcelo Rubens Paiva. Aquilo não foi uma reportagem, mas um libelo ideologicamente orientado contra os militares brasileiros. Toda minha solidariedade a Rubens Paiva e seus familiares. Registro que o que aconteceu com ele é inaceitável – apesar de continuar ocorrendo em regimes ditatoriais como Cuba. Entretanto, o programa não contou a história do desaparecimento. Esta foi só a deixa para começar uma série de acusações aos militares e apresentar uma visão deturpada do período iniciado em 31 de março de 1964. A impressão passada pelo programa é que a luta armada no Brasil foi promovida por jovens combatentes da liberdade que pegavam em armas pela democracia contra os trogloditas sanguinários da ditadura… Não foi.

2) Com as últimas ações de representantes do primeiro escalão do governo, o que se vê é um revisionismo revanchista, que busca apurar meias verdades. Particularmente no que concerne à tal “Comissão da Verdade”, não sejamos cínicos, tem-se um movimento para perseguir, identificar e punir agentes estatais acusados de cometerem arbitrariedades durante o período militar. Só que ninguém fala em punir os terroristas, guerrilheiros e criminosos que mataram, roubaram e sequestraram sob o argumento de que “resistiam ao regime”. A situação é parecida com as famosa indústria das indenizações no Brasil: muitos dos que combateram o regime militar estão bem, obrigado, por gordas indenizações. Quem foi vítima da luta armada continua sem receber nada pelos danos causado pelos “combatentes da liberdade”.

3) Absurda é a contestação da Lei da Anistia. Não se pode comparar o processo de abertura brasileiro a qualquer outro pelo mundo. E a anistia, mais que um instrumento jurídico, foi mecanismo político que permitiu a conciliação e a abertura de forma pacífica e democrática, marcando um momento histórico e homologando um acordo pela abertura. A Lei de Anistia possibilitou, de fato, a redemocratização.

4) A ministra Maria do Rosário deixou claro, no programa de Míriam Leitão, que, ainda que não comece com o objetivo expresso de punir pessoas, essa será a conseqüência da Comissão da Verdade.

5) Surpreendeu a incompetência da assessoria da senhora Presidenta da República, ao não informá-la que ela não teria como punir os militares da reserva pelo exercício de seu direito de manifestar livremente o pensamento. Deixaram, assim, a Presidenta em situação desconcertante. Afinal, a não ser que fosse “membra” de algum dos clubes militares ou de suas diretorias, é que Sua Excelência ou o Ministro da Defesa teriam como questionar a manifestação dessas organizações. Era isso que os assessores deveriam ter explicado à Senhora Russeff.

6) A idéia de punir os militares da reserva só instigou a discórdia, pois gerou revolta no pessoal da ativa, em uma crise sem precedentes e a qual ainda não foi compreendida com clareza pelas autoridades brasileiras e pela sociedade.

7) Sinceramente, não vi nada de absurdo no Manifesto (reproduzido a  seguir para que os leitores tirem suas próprias conclusões), tampouco afronta à autoridade da Presidenta ou de seu Ministro da Defesa.

8) A crise ainda não acabou. Novos capítulos dessa novela virão. E tudo porque alguém, movido por interesses revanchistas, resolveu proceder à exumação de esqueletos de mais de quarenta anos e perseguir pessoas…

MANIFESTO INTERCLUBES MILITARES

COMPROMISSOS…

“Dirijo-me também aos partidos de oposição e aos setores da sociedade que não estiveram conosco nesta caminhada. Estendo minha mão a eles. De minha parte, não haverá discriminação, privilégios ou compadrio. A partir da minha posse, serei presidenta de todos os brasileiros e brasileiras, respeitando as diferenças de opinião, de crença e de orientação política.”

No dia 31 de outubro de 2010, após ter confirmada a vitória na disputa presidencial, a Sra Dilma Roussef proferiu um discurso, do qual destacamos o parágrafo acima transcrito. Era uma proposta de conduzir os destinos da nação como uma verdadeira estadista. Continuar lendo