Pois é! Após resignar-se de maneira honrada com sua deposição n0 último sábado, Lugo resolveu voltar atrás e tentar retornar ao poder. Claro que só fez isso porque foi irresponsavelmente instigado por governos de países vizinhos, que entendem que o Paraguai não tem condições de se autogovernar. E o Brasil está entre esses países…
O que se vê na conduta do Mercosul e da Unasul é uma clara intervenção em assuntos internos de um Estado soberano. O julgamento de Lugo foi político e aconteceu sem quebra da ordem institucional (o próprio bispo-presidente havia reconhecido isso).
E, para aqueles que perguntam se não existe Poder Judiciário no Paraguai, a Corte Suprema daquele país e seu Tribunal Superior Eleitoral já reconheceram com legal e legítimo o processo de impeachment de Lugo.
É compreensível que Venezuela, Equador, Bolívia e até a Argentina se manifestem contra a mudança no governo paraguaio. Não se poderia esperar nada diferente da Casa Rosada ou de Miraflores. De toda maneira, só quem perde com essas inciativas dos vizinhos do Paraguai é a população e as instituições (inclusive as democráticas) daquele país…
Se de Cristina e Hugo já se sabia o que viria, a conduta fraca e equivocada das autoridades brasileiras é que surpreende e se mostra inaceitável.
O Brasil é o país mais influente da região. Sua manifestação sobre a crise paraguaia é esperada e serve de referência. Não dá simplesmente para aguardar e “seguir a decisão da Unasul”. Um país com pretensões de potência teria que ser o primeiro a tomar a frente e marcar posição diante da crise paraguaia, não importa que posição fosse essa.
Agora, sinceramente, pensando em termos de interesse nacional brasileiro, a decisão mais coerente de Brasília deveria ser no sentido de reconhecer logo o novo governo de Assunção e fazer de tudo para desestimular a instabilidade institucional, política e social no Paraguai. Afinal, só temos a perder com um Paraguai instável (e o processo de impeachement de Lugo ocorreu dentro da ordem democrática, repita-se!). Também deveríamos considerar os interesses dos milhares de brasiguaios que preferem o novo governo ao regime anterior que apoiava os sem-terra e estimulava o conflito agrário.
Mas não! O Brasil resolve questionar a deposição de Lugo e estabelecer punições ao governo de Assunção e ao povo paraguaio! Isso não vai acabar bem!
E, para finalizar, lembro o comentário de um colega de hoje sobre a maneira como os intelectuais e as autoridades brasileiras vêem a deposição de Lugo: “se for contra um presidente de direita, é impeachment; mas se o mandatário for de esquerda, é golpe!”…
Tenho paciência para isso não…
PS: Para a decisão da Suprema Corte sobre o recurso de Lugo e o caráter político do impeachment, clique em ID1-317_accion_de_inconstitucionalidad .

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