28. Gente Feliz! (25/11/2014)

Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira.
Johann Wolfgang von Goethe

Não existe coisa melhor do que partilhar felicidade e estar em um ambiente de gente feliz. E nunca conheci gente mais alegre e animada que os colegas de meu primeiro emprego como assalariado: o de professor de francês no Centro Interescolar de Línguas de Sobradinho, o CIL! Inesquecíveis os momentos ali passados e a gente singular que lá conheci!

Fui convidado para lecionar no CIL por minha primeira professora de francês, Neusa, que se tornara diretora da escola. Apesar de pertencer à Fundação Educacional do Distrito Federal, no CIL havia professores sob contrato temporário, em razão da escassez de docentes qualificados. Isso, juntamente com uma estrutura moderna e equipamentos de idiomas adequados (graças às contribuições da Associação de Pais e Mestres, às mensalidades pagas pela comunidade que ali cursava inglês, francês e espanhol, e a uma excelente gestão desses recursos), fazia do CIL de Sobradinho um centro de excelência no ensino de idiomas na região (eu mesmo comecei ali meus estudos de francês). Foi minha primeira experiência, portanto, em sala de aula. E realmente adorava aquilo!

Mas o que mais encantava no CIL era o ambiente de trabalho! Alunos interessados (pois se tratava de atividade optativa para a maioria dos provenientes de escola pública e para todos da comunidade que se matriculavam), funcionários simpáticos e atenciosos. E, o melhor de tudo, colegas divertidíssimos! Era gente inteligente e com afinidade de interesses – afinal, todos gostavam de estudar idiomas estrangeiros e de viajar e conhecer o mundo. Se professor costuma ser criatura animada, professor de idiomas supera qualquer coisa! Ao menos no CIL era assim!

Gente Feliz

Tivemos momentos hilários dentro e fora da escola. A sala dos professores era uma festa só! E a hora do intervalo sempre com piadas, brincadeiras, distribuição de sorrisos. Tínhamos uma escala para o lanche do dia. Então, todo dia alguém trazia algo diferente (mesmo que fosse pão com requeijão e refrigerante, já era muito bom pela oportunidade de partilhar a refeição). Brincadeira o tempo todo em um ambiente saudável e harmonioso! Diversão garantida, sem se perder o profissionalismo e a dedicação à docência!

Felizmente, acabei me enturmando rápido! Não tinha como ser diferente. Éramos quatro os professores de francês: Neusa, a diretora, Sheila, que havia sido minha professora (excelente, por sinal) de Português na 5ª série, Eric, profissional extremamente competente e com quem estudara quando aluno de francês, e eu! Assim, com todos os colegas da área tinha vínculos anteriores. E o restante do pessoal, totalmente acolhedor! Lembro-me de que uma das práticas que instituí foi escrever “a frase do dia”, sempre uma mensagem que colocava no quadro para animar o povo. Coloquei hoje uma foto de minha despedida, onde está escrito no canto superior direito a última frase que deixei: “Eu voltarei!” – vejam quem é o autor!

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A festa continuava fora da escola. Final de ano, fazíamos uma confraternização. E era divertidíssimo! Boa comida, excelentes conversas, gaiatice, troca de presentes, e muita, muita alegria e descontração! Até o mais rabugento se tornava divertido! Lembro, ainda, que Eric pegava o violão (aprendeu sozinho a tocar) e sempre nos brindava com belas canções! Éramos um grupo integrado e unido (claro que, naturalmente, havia um ou outro ponto fora da curva, mas isso faz parte da vida em sociedade…)! No final das contas, éramos uma grande família.

Tive que deixar o CIL porque a Fundação Educacional passou a exigir que os docentes tivessem cursado disciplinas de didática na faculdade. Recordo-me de duas delas, cujas siglas me chamaram a atenção: FUDA (Fundamentos da Didática ou algo assim) e ESTRUFUNC (Estrutura e Funcionamento do Ensino). Assim, uma vez que não tinha FUDA nem ESTRUFUNC, não estava mais habilitado para lecionar nas escolas públicas do DF! Paciência! Foi ótimo enquanto durou e “o importante é que emoções eu vivi!”.

Em meu período no Centro de Línguas, fiz bons amigos entre alunos, funcionários e professores. E confirmei minha convicção de que alegria e felicidade são duas coisas que, quanto mais distribuímos, mais temos!

Faltam 13 dias para meu aniversário de 40 anos. Nesta data, quero deixar meu fraterno abraço a todos os amigos do Centro Interescolar de Línguas de Sobradinho e desejar-lhes muita alegria e felicidade! Vocês também foram muito importantes nestas primeiras 4 décadas!

PS: Aproveito para registrar que 25/11 é a data de nascimento de Harvey Spencer Lewis, um dos grandes místicos da primeira metade do século XX, e primeiro Imperator da Ordem Rosacruz, AMORC, para seu segundo ciclo nas Américas. Minha saudação calorosa a todos os fratres e sorores da R+C!

23. Idiomas (20/11/2014)

Manejar sabiamente uma língua é praticar uma espécie de feitiçaria evocatória.
Charles Baudelaire

Ser é comunicar-se. Ou, como diria o filósofo, “quem não se comunica, se trumbica”! Apesar da Matemática, juntamente com a Música, serem consideradas as formas mais universais de linguagem, nunca aprendi a última e não tenho qualquer pendor para os números (sou um disléxico matemático – eu me atrapalho até contando de 1 a 10). Entretanto, o que me faltava de domínio da linguagem de Pitágoras, foi-me compensado pela Providência com a afinidade com idiomas.

Primeiramente, nosso vernáculo! Sou um apaixonado pela Língua Portuguesa, com sua sonoridade encantadora, mais dura na terra de Pessoa e mais doce e suave na de Machado. A última flor do Lácio é de uma riqueza que seduz e seus meandros encantam a todo aquele que dela desfruta. Sim, porque falar português é um privilégio! Orgulho-me de ser nativo desse idioma presente em todos os continentes, que une povos e culturas das mais distintas sob a herança da linguagem lusitana. “Minha pátria é minha língua”, dizia Pessoa (por sinal, um frater rosacruz), e estou plenamente de acordo. Viva a Língua Portuguesa!

Claro que minha paixão pela cidadania universal e pelo contato com outros povos e culturas só poderia ser plenamente vivida com o conhecimento dos idiomas dessas gentes! Quando se aprende uma nova língua, mergulha-se em nova cultura e se conhece outras sociedades. E, ao longo de minha vida, como autodidata ou na escola, dediquei-me a aprender sobre outros povos por meio do estudo de idiomas. Já fiz incursões, mais ou menos aprofundadas, por inglês, francês, espanhol, alemão, russo, árabe, hebraico e italiano. E o melhor de tudo é que, quanto mais línguas se aprende, mais fácil se torna o aprendizado de outras novas!

A língua de Shakespeare e a de Cervantes aprendi praticamente por conta própria, como autodidata. Considero o conhecimento delas fundamental para qualquer um que queira ampliar seus horizontes. São idiomas de trabalho, essenciais para a sobrevivência no mundo moderno.

Já o apaixonante idioma de Molière, comecei a estudá-lo no meu querido Centro Interescolar de Línguas de Sobradinho, o CIL (exemplo de escola pública de excelência), no qual viria a ser professor de francês em meu primeiro emprego com carteira assinada. Segui então para a Aliança Francesa, onde concluí os últimos graus de estudos de língua e civilização francesas, tendo prestado exames e obtido os diplomas de terceiro ciclo fornecidos pela Universidade de Nancy.

A língua alemã acho belíssima. Comecei a estudá-la na universidade, parei um tempo, e depois voltei com aulas particulares. A afinidade com o idioma de Goethe está além de qualquer explicação materialista – alemão, sempre aprendi com o coração! Também idioma fascinante é o de Tolstói e Dostoievski! Minhas primeiras lições de russo, ao final da Guerra Fria, foram na própria Embaixada da Rússia. Oxalá possa algum dia ler esses clássicos no original.

Já estudei árabe e hebraico (línguas arcanas, que devem ser compreendidas), e tenho conhecimentos de italiano (que sempre achei belo, particularmente por suas reminiscências do Latim). Ainda me aprofundarei nesses e em outros idiomas, para poder falar com um maior número de pessoas em sua língua natal. Realizo-me chegando a um lugar e conseguindo conversar com os locais em seu próprio vernáculo. Alguns chamariam isso de “complexo de Indiana Jones”.

Não me prolongarei mais tratando de meu fascínio pelas distintas maneiras pelas quais as pessoas se comunicam em todo o globo. Faltando 18 dias para meu aniversário de 40 anos, o que posso dizer é que minhas primeiras quatro décadas de vida foram muito mais divertidas graças ao aprendizado de línguas estrangeiras e, por meio destas, à vivência de outras culturas e ao conhecimento de pessoas e histórias fascinantes!

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