31. Tocada à direita, ponto à esquerda (28/11/2014)

Sans le duel, on ferait de l’escrime tranquillement.
Jules Renard

Dorival Caymmi morreu com 94 anos. As tartarugas, se não forem devoradas por predadores ou vitimadas pela poluição dos oceanos, costumam viver mais de um século. Os atletas, entretanto, antes dos 30 já estão a fazer cirurgia ou em recuperação por alguma lesão fruto de suas atividades. E o coelho, bicho hiperativo, morre com 5 ou 6 anos (anos felizes, de prole numerosa, mas 5 ou 6 apenas). Isso me leva a concluir que esporte é prejudicial à saúde. O corolário é que nunca fui afeito a práticas desportivas.

Houve, porém, um esporte que pratiquei com gosto. Não foi futebol, pois, como já disse, corro em linhas e ângulos retos e meu sentido de autopreservação me impediria de ficar no gol levando bolada, razão pela qual também evitei vôlei, basquete, handball e todas essas práticas violentas que, ainda por cima, exigiam coordenação com uma equipe de pessoas sempre mais competentes que eu e que acabavam irritadas pela minha inabilidade na quadra ou em campo. Sobravam-me, assim, os esportes individuais e de baixa probabilidade de lesão, nos quais só dependeria de mim mesmo: natação, tiro e esgrima!

fencing-6

Esporte fascinante é a esgrima. Prática aristocrática, elegante e exigente em termos físicos e mentais. De fato, além de carregar tradição, requer habilidade, concentração e preparo físico. Apesar de não ter preparo físico e habilidade, a concentração e a tradição levaram-me a procurar esse belíssimo esporte olímpico.

Eram meados da década de 1990. Não sei como, mas fui parar na Casa do Ceará, onde davam aulas de esgrima. O Mestre D’Armas, Evandro Oliveira, já havia passado pela Academia da Força Aérea, era um sujeito de grande talento e tentava trazer de volta o esporte tradicional, airoso e requintado para a capital federal. Além disso, Evandro era um sujeito de boa conversa e foi muito receptivo. Resultado: cheguei e fiquei.

Com poucos recursos, nosso grupo de esgrima se divertia bastante. Praticamente não tínhamos sala d’armas na Casa do Ceará. Montávamos as pistas e dividíamos o espaço com o pessoal da capoeira, que também praticava Jiu-Jitsu, e que chegava depois e devia achar no mínimo estranho aquele bando de malucos de branco batendo lâminas… Nosso tempo ia até eles precisarem do espaço para começar a aula. Éramos pontuais e disciplinados. E, claro, não era de bom alvitre contrariar o pessoal da capoeira, que também praticava Jiu-Jitsu.

O grupo da esgrima era bacana. Éramos poucos, mas nos divertíamos muito! Em média, tínhamos a mesma idade e gostávamos dos mesmos assuntos além da nobre arte. Alguns tinham um quê de “nerdismo” acima da média. Mas estava valendo! A maioria de nós não se preocupava em ganhar competições, tampouco em se profissionalizar. Queríamos nos divertir e jogar esgrima. Claro, grandes amizades também dali sairiam, algumas que perduram duas décadas depois.

escrimearmes

Não fiquei muito tempo na esgrima. Tive que me afastar por alguns meses, e acabei não voltando a praticar. O pessoal se mudou para a AABB, com uma boa sala d’armas, e depois tomou outros rumos. Evandro, merecidamente, alçou novos voos. Sua disciplina e extrema competência o levariam à posição de técnico de nossa seleção brasileira, o que nos orgulha a todos.

Também fazíamos bons churrascos, porque ninguém é de ferro. Seguem fotos do churrasco de 1997, em comemoração a nosso brassard amarelo. Foi na casa do Evandro. Sempre boas festas!

A 10 dias de meu aniversário, tomo consciência de que preciso praticar algum esporte por questão de saúde – é isso ou a morte lenta. Os coletivos estão fora de cogitação. Lutas, bem, não gosto de apanhar. Sobram a natação (está em meu planos), o tiro (que já pratiquei, mas que acaba sendo um pouco complicado neste país onde não deixam os cidadãos andarem armados, para a alegria dos vagabundos), e minha querida esgrima! Opa! Taí uma boa idéia!

Continuo fascinado pela esgrima. Continuo com bons amigos daqueles tempos. E tenho esperança de voltar a jogar – claro que apenas por diversão e para melhorar a saúde. Quem sabe em 2015, com 40 anos.

[Em tempo: em 2019, Evandro mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde prepara novas gerações para o tradicional esporte. Eu, bem, ainda não voltei a praticar esgrima…]

20141102_155125-1

20141102_155109-1

7. Esportes? Desculpe, não é aqui não… (04/11/2014)

Les sports ont fait fleurir toutes les qualités qui servent a la guerre : insouciance, belle-humeur, accoutumance à l’imprévu, notion exacte de l’effort à faire sans dépenser des forces inutiles.
Pierre de Coubertin

Nunca fui muito afeito a esportes… de fato, não tenho o menor jeito para atividades desportivas, tampouco para exercícios físicos de repetição, e muito menos paciência para academias com gente cultuando o corpo ao passo que o cérebro desfalece à míngua (há exceções, claro!)… Esportes coletivos, nem pensar! Afinal, se já tenho dificuldade de me coordenar os movimentos sozinho, ainda mais com uma equipe correndo atrás de uma bola ou dando pancada nela!

Definitivamente, estou fora de esportes coletivos. Futebol nunca me atraiu: corro em linhas e ângulos retos. Aí você diria “fique no gol, então!”, ao que logo respondo que meu instinto de autopreservação me impede de permanecer estanque sob uma pequena trave como alvo de boladas… Não, de jeito nenhum…

E, por falar em instinto de autopreservação, foi ele que evitou que eu praticasse esportes como futebol, vôlei, basquete, ou qualquer outro que pudesse culminar em escoriações ou ossos quebrados (nunca coloquei um gesso na vida!). Violento demais para mim esse tipo de atividade. Por isso, sempre preferi esgrima e tiro…

Artes marciais? Nem pensar! Mas aí é por causa de um trauma de infância. Quando tinha uns cinco ou seis anos, meus pais me colocaram na aula de judô. “Ótimo!”, dirá você, “excelente idade para começar!”. O problema é que me colocaram no final do ano na academia de judô e numa turma de garotos maiores/mais velhos. Chego e vejo a molecada praticando aulas de rolamento que haviam sido treinadas durante o ano inteiro, golpes com nomes que para mim eram japonês, e a turma com sangue na boca se preparando para o exame de faixa! E eu, o menor, mais novo, e sem nenhuma experiência em defesa pessoal… Prevaleceram a razão e, novamente, meu instinto de autopreservação: fiquei umas duas semanas só e nunca mais voltei… A experiência foi tão marcante que decidi que, diante da seleção natural, não seria por meio da força física que conseguiria vencer! Fui malhar o cérebro.

Conheço muita gente que tem uma disposição inacreditável! A pessoa acorda às cinco da manhã, toma uma vitamina e vai toda sorridente para a academia “malhar para começar bem o dia!” Aí, depois de uma hora “pegando ferro”, está continua toda disposição para a lida. Isso para mim é absolutamente inconcebível! Pertenço à parcela da humanidade conhecida como “notívagos”, durmo geralmente às 2h da madrugada (feliz da vida!), e tenho grandes dificuldades de acordar cedo. De fato, acho que esse negócio de acordar de madrugada para malhar não é de D’us não. Esse pessoal só pode ter pacto com o Capiroto!

Esporte é tão importante para mim que tenho que confessar que não me lembro de ter aberto alguma vez o caderno de esportes em um jornal… Tampouco fiquei mais que alguns segundos diante de um desses canais de esporte da TV a cabo… Houve, somente, duas exceções ao referido comportamento: na última Copa, quando acompanhava o futebol da seleção canarinho (a dos 7×1) com meu filho João (por causa dele, naturalmente), e comentava os jogos nas redes sociais; e ano passado, quando, na Europa, assisti algumas vezes ao mundial de esgrima – esse sim um esporte que aprecio!

O menino e a bolaTá bom! Não sou “completamente avesso” a práticas desportivas. Gosto de caminhar (correr não) e de nadar (preciso voltar a fazer isso). Também já pratiquei tiro (ué, é esporte sim!) e, o esporte que realmente aprecio, esgrima (dedicarei a ela uma das crônicas de meus 40 anos)! Esgrima me fascina e já ensaio há algum tempo voltar à pista. Quem sabe depois dos 40!

Neste 34º dia que antecede as comemorações das minhas 

quarenta primaveras, resolvi partilhar com meus amigos o apreço que tenho por esportes (nada contra os esportes em si, o problema é comigo, estou ciente!) e postar aqui um retrato do início de minha vida quando, já dando meus primeiros passos, demonstrava completa habilidade para atividades físicas e familiaridade com a bola…