6. Minha primeira foto (03/11/2014)

O homem faz de si a imagem de seus sonhos.
Helena Petrovna Blavastky

Com a modernidade de nossos dias (não me venham com reflexões de pós-modernidade que minha mente limitada não alcança essas coisas!), a fotografia tornou-se absolutamente comum entre as pessoas das mais distintas origens e classes. Isso, associado ao fenômeno das redes sociais, gerou a banalização da fotografia. Do daguerreótipo de 1839 às câmeras digitais da atualidade, o que se pode perceber é uma revolução comportamental na sociedade: todo mundo fotografa de tudo… e posta no Face, no Instagram (não mais no Orkut) e em outras tantas redes sociais internet afora!

Com a epidemia da fotografia digital e a proliferação de selfies e das redes sociais, é verdade que há muita imagem bacana sendo divulgada, mas há também imagens catastróficas! E não vou nem falar daquelas com objetivos políticos, ideológicos ou comerciais! Refiro-me à fotografia privada, feita pelas pessoas comuns dispostas a registrar e difundir imagens do quotidiano… Como tudo que é demasiadamente popularizado, o mundo virtual acaba infestado de coisa ruim: selfies que nunca deveriam ter sido tirados, imagens de prato de comida (ou, pior, de meio prato de comida), de momentos desagradáveis e muito mais. As pessoas parecem ter perdido a noção de que melhor seria privar o mundo dessas coisas! Fazer o quê?! Deixemos o povo fotografar! Assim caminha (e fotografa) a humanidade!

Gosto de fotografia. Sempre gostei. Gosto de captar a imagem de lugares e pessoas. Quando viajo, por exemplo, faço uma média de trezentas fotos por dia (que, naturalmente, só eu tenho a esperança e a paciência de ver). Mas cada uma das fotos que faço tem uma razão de ser e um significado (ainda que eu nunca vá descobrir qual). Cada foto é única, pensada e apreciada – por isso que geralmente sou eu mesmo que as tiro, inclusive quando estou sozinho… Como? Carrego sempre comigo meu precioso e estimado tripé (assim não preciso incomodar ninguém pedindo para me fotografar e faço as fotos como bem entendo, sem depender da habilidade de outrem)! Sim, recomendo efusivamente um tripé para todo viajante solitário.

Vejo a foto como algo sagrado, que deixa registrado para sempre um momento, uma situação, congelando no tempo um acontecimento. Daí que já houve época que me ofendi um pouco com a banalização da fotografia… Hoje, porém, mudei minha perspectiva. “Cidadãos do mundo, fotografai-vos uns aos outros!” Com isso, talvez se consiga mais derrubar barreiras e aproximar os homens, diminuindo-se as diferenças e fazendo com que se perceba que, no final das contas, temos mais pontos em comum que divergências e que fazemos parte de uma mesma humanidade (humanidade esta que adora fotografar).

Nos últimos quarenta anos, portanto, sempre tive um caso de amor com a fotografia. Da minha primeira foto no colo de papai, ao selfie que fiz hoje com o João (meu filho), são quatro décadas dos dois lados dessa caixinha mágica que capta uma parte de nossa existência! Ainda arranjarei um tempo para montar meu próprio estúdio e para me especializar nesse hobby. Enquanto essa hora não chega, sigo com minhas câmeras bem simples (se cair, quebrar ou roubarem, não terei grandes prejuízos), sempre duas, além da do celular, clicando sistematicamente e registrando, para a posteridade, esta modesta e fascinante vida…

Duas fotos hoje para este 35º dia antes de meu aniversário: a minha primeira fotografia, com alguns dias de vida, junto com meu pai; e a mais recente, um selfie bem espontâneo com meu pequeno João (disfarçados de portugueses, claro!). Um Joanisval e dois João, o João pai e o João filho…

PS: A foto com meu pai está um pouco danificada porque, quando criança, minha irmã Joanicy (papai também não perdoou minhas irmãs com sua implacável criatividade para dar nome aos filhos, hehehe!), com raiva e inveja de minha beleza desde a mais tenra infância, antecipando-se aos talibãs que destruíram imagens sagradas, tentou riscá-la com caneta…

Pai eu e o Joao

5. A Importância e o Significado do Nome (02/11/2014)

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
João 1:01

Não existe nada mais indicador da individualidade do ser humano que seu nome. Graças ao nome, a pessoa deixa de ser um “não ser” e passa à condição de “alguém” (ok, estou filosofando, e nunca fui bom nisso). Nosso nome não define só quem nós somos, mas como somos percebidos e nos fazemos perceber em uma comunidade.

O nome também é revelador, muitas vezes, de ideias defendidas pelos pais, de pessoas por eles admiradas ou mesmo de momentos ou lugares importantes para os genitores. Napoleão, César, Pedro, Apolinário, Cícero, Alexandre, Victoria, Catarina, Maria de Jesus, Brasília… O problema é quando a criança acaba sendo vítima do devaneio dos pais… Quem nunca procurou na internet uma relação de nomes esquisitos? (Se você nunca fez isso, tenho certeza de que está fazendo agora! – Peraí! Termine de ler meu texto!).

Nomes estranhos pululam nos cartórios, registros do INSS e cadastros bancários aqui em Pindorama. Lembro, por exemplo, do ex-Diretor-Geral da Polícia Civil de Goiás, já falecido, o Dr. Hitler Mussolini (sim, existiu, e, mesmo sem conhecê-lo, tenho certeza de que não deveria ser muito agradável vê-lo com raiva). Mas há, também, o Amado Amoroso, o Antônio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado, o Arquiteclínio Petrocoquínio de Andrade, o Brasil Washington C. A. Júnior, o Chevrolet da Silva Ford, o Disney Chaplin Milhomem de Souza, a Izabel Rainha de Portugal, a Magnésia Bisurada do Patrocínio, a Maria Felicidade, o Último Vaqueiro, e, naturalmente, a Madeinusa (que certamente não foi feita nos Estados Unidos), o Bráulio Pinto Grande, e a senhora Ava Gina (em homenagem a Ava Gardner e Gina Lolobrigida) – todos nomes reais. Os pais têm a ideia que parece brilhante e sobra à pobre criatura carregar pelo resto da vida a escolha inglória.

Não conheço povo mais criativo para botar nome em filho que o brasileiro. Escolha usual costuma ser o de alguma personalidade estrangeira (claro que, muitas vezes, transcrito para nosso vernáculo com primor que deixaria os imortais da Academia Brasileira de Letras abismados): Maicon Jakisson, Uóshiton Rusevelte e Valdisney (em homenagem ao astro pop, aos presidentes dos EUA, e ao criador do Mickey, respectivamente)… Entre os casos que podem ser encontrados nos cadastros diversos deste Brasil estão: Anjo Gabriel Rodrigues Santos, Charles Chaplin Ribeiro, Elvis Presley da Silva, Hericlapiton (sim, isso que você leu) da Silva, Ludwig van Beethoven Silva, Marili Monrói (esse é horrível), Marlon Brando Benedito da Silva, Sherlock Holmes da Silva, Bill Clinton de Souza… Estou absolutamente seguro de que o funcionário do cartório era um gaiato…

Lá no meu Nordeste, é comum também se juntar o nome do pai com o da mãe, com consequências, geralmente, fatais: Valdirene, Marivaldo, Marcélio, Vanderly, Josecleide, Ivanildes, Marivan, Marinelson… todo mundo conhece um desses… E essa é sempre uma pergunta que me é feita sobre o nome que carrego! Primeira informação mais que relevante: Joanisval não é junção de nome do meu pai com o da minha mãe!!!

Há, ainda, os que foram na onda dos movimentos “nova era” e botaram nomes esotéricos (sei…) nos rebentos. Veio-me à mente a prole de Pepeu Gomes e Baby Consuelo (ou Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, que mudou seu nome artístico para Baby do Brasil): Riroca (que viria a trocar seu nome para Sarah Sheeva – ajudou muito! Mas temos de convir que Riroca sofreu muito no colégio), Zabelê, Nana Shara, Pedro Baby, Krishna Baby, e Kriptus Baby. Preciso dizer mais alguma coisa?

Com os avanços da medicina, hoje já se sabe muito cedo o sexo do bebê. Isso é bom, pois dá tempo aos pais para meditar e fazer uma escolha refletida e razoável (nem sempre). Há, porém, os tradicionalistas, que preferem esperar a criança nascer para olhar para ela e lhe dar o nome. O problema é quando demoram a escolher. Tenho um amigo muito querido que passou nove dias para decidir que nome daria a seu terceiro filho… nove dias depois que o menino nasceu! E a questão só foi resolvida quando a esposa dele decidiu ir ao tabelião e, unilateralmente, registrar o menino. Quando fiquei sabendo da história, não consegui deixar de pensar no romance magistral de Graciliano Ramos, “Vidas Secas”, no qual só tinham nome o personagem principal da obra (Fabiano), e sua cachorra (Baleia). No sentido contrário, há aqueles que querem escolher logo o nome do pequeno(a), antes mesmo de saber o sexo! (“Ah, esse negócio de sexo ele resolve quando crescer!” – dizia um amigo comediante). Como fazer? Os portugueses têm uma boa solução para o problema: “Dá-lhe o nome de João Maria, ou Maria João! Resolvido, ora pois!” Claro que, no Brasil, se não souber o sexo da criança, pode-se recorrer a um nome neutro, indígena geralmente: Guaraci, Iraci, Jaci, Juraci… todos nomes que nos levam ao desespero ao fazer uma primeira ligação telefônica para essas pessoas!

Muito bem! Poderia passar horas divagando sobre o tema. Tenham certeza de que já fiz isso – e sem qualquer ajuda de terapia! Mas vou poupá-los desse sofrimento. Vamos, então, à explicação para meu nome! Reitero que não se trata de junção dos nomes de meus pais.

Antes, porém, breve explicação sobre os motivos alegados por Seu Jacob (sim, porque Dona Conceição não teve culpa alguma, estava de resguardo em casa) para escolher chamar o filho de Joanisval (e quando termino de escrever, aparece a marquinha vermelha embaixo de meu nome – obrigado, Dicionário do Word)! Papai alega que, simplesmente, queria evitar “problema com homônimos” para o filho! Muito bem, pai! Evitou sim! Mas, em compensação, criou um trauma na criança ainda não resolvido: ninguém fala (tampouco escreve!) meu nome corretamente! Jonisval, Jonisvaldo, Joanisvaldo, Josivaldo (por que as pessoas insistem em acrescentar um “do” ao final de meu nome!?!?!?), Jonesval, Joanesval, ou, como diz a Dona Rosa que trabalha aqui comigo há alguns anos, “Seu Lourisval” – sim, em casa sou o “Seu Lourisval”… De toda maneira, justiça seja feita, problema com homônimos nunca tive…

Então, vocês devem estar se perguntando, de onde veio esse nome? Qual o seu significado? Respondo agora: quando indagado por pessoas com quem não tenho grande intimidade, digo que meu nome vem do sânscrito antigo e significa “aquele que foi iluminado pelos gloriosos raios do Sol ao nascer”… se fizer cara de sério, geralmente cola…

Mas vamos à verdade (que rufem os tambores!), muito mais simples (como toda verdade) do que os mais imaginativos poderiam conceber! Meu pai, em sua sábia simplicidade sertaneja, vê os filhos como seres que são “derivados” seus! Sim, sou uma derivação de meu pai (o que não deixa de ter lógica). Daí, como seu primeiro nome é João, resolveu “derivar” de João o Joanisval!!!! Não disse que era simples!?! Cai o véu deste mistério! (Claro que esta é a explicação exotérica… sobre a esotérica não tratarei aqui).

Nunca vi seu João Jacob com um copo de cerveja na mão. Nunca o vi nem perto de um estado mais etílico. Entretanto, tenho muita convicção de que meu pai resolveu tomar umazinha para celebrar o meu nascimento… e aí me registrou com esse nome! Brincadeira. Hoje vejo que meu nome é como uma marca, e graças a ele sou facilmente identificável e conhecido. Obrigado por isso, papai! Mesmo!

E, para provar que não tenho ressentimentos, e que, apesar do nome, era um bebê bonitinho, publico uma de minhas primeiras fotos, sorridente como sempre, e outra no colo de Seu Jacob, o autor da façanha de me dar este nome! E faço tudo isso no 36º dia que antecede meu aniversário de 40 anos!

Nome