37. A mulher da minha vida (04/12/2014)

Eu tenho tanto pra lhe falar
Mas com palavras não sei dizer
Como é grande o meu amor por você.

Roberto Carlos

Este e o próximo texto são os mais difíceis de escrever. Afinal, como expressar em palavras o que sinto por duas pessoas que são a razão da minha existência? Vou começar com ela, a pequena notável, aquela que, em questões de segundos, fez minha vida nesta encarnação mudar para sempre.

Lembro, como se fosse hoje, do dia em que ela nasceu. Havíamos passado o sábado resolvendo coisas em Brasília, passeando com a sogra. Algumas reclamações de dor. A mãe queria tomar um Buscopan. Não deixei. Continuamos passeando. À noite, as dores tornaram-se mais intensas e fomos para o hospital. O trabalho de parto prosseguiria até a manhã de domingo.

Fomos para o centro cirúrgico. O parto seria normal – e realmente foi. E eu junto – não perderia aquele momento por nada. Pude, assim, testemunhar o milagre do nascimento: dor, choro, grito, esforço, alívio, alegria… imensa alegria! Experiência única e universal pela qual todos já passamos. Continuidade da espécie. Linhagem que se mantém. E, naquele instante em que ela chegava para a Luz, tudo mudou em nossa vida!

O nascimento dela foi marcante. Quando a vi, a emoção preencheu todo meu ser. Segurei as lágrimas – tinha que ser forte (só viria a chorar e a voltar a dormir dois dias depois, quando as levei para casa – aí desabaria e poderia me entregar ao caleidoscópio de emoções que só um filho recém-nascido pode causar em um pai). O médico me concedeu uma grande honra: cortei o cordão umbilical. Naquele momento, eu a separava fisicamente de sua mãe e a apresentava ao mundo. E ela passava para meus braços: frágil, doce, bela. Felicidade é a palavra!

Desde então, minha vida realmente mudou. Só quem é pai sabe o que é amar incondicionalmente alguém a ponto de não pensar, nem por um segundo, se tiver que dar a vida pela pessoa amada. Minha pequena, minha menina, meu tesouro precioso. Impossível expressar em palavras o amor paterno.

E cresce a cada dia. Como todo filho, consegue me tirar do sério em vários momentos. Mas também consegue me fazer imensamente alegre com um simples sorriso, um gesto, uma palavra. Orgulham-me sua genialidade e suas conquistas. Em 2014, tenho que compartilhar, foram uma Medalha de Ouro na Olimpíada Nacional de Robótica e uma de bronze na Olimpíada Nacional de Astronomia. E aí o pai desaba!

Claro que há as conquistas do dia a dia! As primeiras palavras (não pararia mais de falar), os primeiros passos… A fralda suja no quadradinho com cocô espalhado – e eu sozinho, dando banho, trocando a fralda e limpado o estrago. O primeiro dia na escola – pais tensos, preocupados, e a criatura vira e diz, com ar soberano: “Podem me deixar aqui que sigo sozinha, tá?” – independência aos 3, 4 anos… Momentos únicos que nos fazem entender o sentido da vida…

Ela me lembra muito a Mafalda, de Quino. Extremamente crítica, gosta de, desde os 8, 9 anos, discutir política, protestar contra abusos do governo, defender os oprimidos. Lê intensamente e gosta de conhecer sobre tudo. Sua paixão, expressa já na mais tenra infância, são os animais – conhece tudo sobre eles, inclusive sobre os extintos há milênios. Quer ser bióloga, isso já dizia desde muito cedo. Mas acho que poderia ser uma ótima advogada, pelo senso crítico, conduta contestadora e vontade de defender os necessitados. No final das contas, a decisão será dela.

Às vezes, é difícil percebê-la como uma criança, dada à maneira crítica e escorreita como se expressa. Parece uma pequena adulta nos gestos, no palavreado e nas reflexões. Aí tenho que estar atento para me lembrar que é apenas uma menina, uma pré-adolescente, uma flor ainda por desabrochar. Claro que é, e sempre será, para este pai, uma menina, a minha menina.

Não escreverei mais nada sobre ela. Faltando 4 dias para completar 40 anos, o que posso dizer é que ela, junto com o irmão, são o grande motivo para meus esforços por um futuro melhor, em casa, no trabalho e na vida pública. Digo, ainda, que ela chegou e, sem a mínima noção disso, arrebatou meu coração, conquistou-me de imediato, e é, e será sempre, a grande mulher da minha vida. Obrigado, filha, por ser o que você é, e por me fazer pai!

 

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