Tenha em mente que tudo que você aprende na escola é trabalho de muitas gerações. Tudo isso é posto em sua mão como sua herança para que você a receba, honre-a, acrescente a ela e, um dia, fielmente, deposite-a nas mãos de seus filhos.
Albert Einstein
Agradeço muito ao Criador pela oportunidade de ter ingressado muito cedo na escola. Quando penso nas dificuldades de meu pai, que só conseguiu começar sua alfabetização aos 25 anos (e, digo isso com imenso orgulho) e, mesmo assim, concluiu, vitoriosamente e com muito esforço, dois cursos superiores, (Administração e Direito), e nas de mamãe, que conta como era complicado dispor de caderno, lápis e borracha em sua infância pobre no Nordeste (tendo ela também concluído Pedagogia, Estudos Sociais e Letras), vejo que a vida sempre foi muito complacente para comigo, que já com quatro, cinco anos, adentrava as portas do Instituto São José de Sobradinho e começava minha formação escolar.
Diante da história de vida de meus pais, e considerando que há milhões de pessoas neste imenso Brasil que não têm acesso a uma educação de qualidade, como crianças que tentam estudar em condições absolutamente precárias, sempre busquei valorizar ao máximo a oportunidade que me era dada pela Providência Divina de estudar e aprender. Vejo a escola como um lugar sagrado e os professores como sacerdotes que têm o mais nobre ofício de levar o conhecimento a outras pessoas. Daí meu entendimento de que a melhor forma de retribuir esta benção seria exatamente tornando-me o melhor aluno que minhas capacidades cognitivas permitissem. Minha forma de agradecer, portanto, era sendo um bom aluno.
Sim, sempre fui um bom aluno. Gostava de estudar. Tinha prazer em aprender coisas novas, em descobrir sobre o mundo. E, à medida que crescia, consolidava-se em minha mente e em meu coração a ideia de que só por meio do estudo e do conhecimento é que conseguiria alcançar os objetivos na vida. Junto com o exemplo de Seu Jacob e Dona Conceição (que sempre vi trabalhando e estudando), quando cheguei à terrível fase da adolescência, mais uma situação mostrava-se imperativa para me levar a estudar com esmero e tentar fazer o melhor que pudesse… Contarei aqui, pela primeira vez, nas próximas linhas, a outra grande razão que me impulsionava a estudar muito…
Sou o filho mais velho de uma família de classe média-baixa, que dependia basicamente do salário de meus pais, sem ajuda de mais ninguém. Quando nasci, papai tinha 42 anos. Cedo tomei consciência (e isso se me mostrava muito claro) de que talvez não o tivesse conosco por muito tempo. Portanto, tinha que crescer logo, arranjar um emprego, e garantir meu sustento próprio e, se necessário, o de minha mãe e irmãs mais novas. Não tinha padrinhos ricos ou influentes. Só podia contar comigo mesmo na adversidade (assim como ocorrera com meu pai). E me esforçaria sobremaneira para vencer e estar pronto, caso meu pai faltasse! Felizmente, Seu Jacob continua forte como um touro!
Nunca fiquei de recuperação, tampouco fui reprovado. Naturalmente, meus conceitos mais baixos no boletim eram em Educação Física. Em compensação era bom em Português, gostava de Geografia e era completamente fascinado por História. Como nunca compreendi Matemática (apesar de ter sobrevivido a ela), no Ensino Médio (que à época era chamado Segundo Grau ou Científico), fiz um teste vocacional, que comprovou o que eu já sabia: meu caminho era o das Ciências Humanas! Ótimo, as Humanidades estavam em meu futuro! E por aí seguiria!
Aos 16 anos, concluí o Ensino Médio. Ato contínuo, prestei o temível vestibular da Universidade de Brasília (naquela época durava quatro dias, não havia PAS, ENEM, nem formas de diluir o desespero dos estudantes de Segundo Grau em seu rito de passagem) para o então segundo curso mais concorrido da área de Humanas: Relações Internacionais. Era difícil, visto por muitos como um curso de elite, mas era o que queria.
Lembro como se fosse hoje quando lá em casa abrimos o jornal (não havia internet, e o resultado era divulgado cedo nos jornais impressos de Brasília), e vimos o meu nome entre os aprovados: mamãe chorava e, com um terço na mão, agradecia a D’us, e eu, aliviado, não conseguia acreditar que tivera êxito no primeiro vestibular, apenas com meu estudo doméstico (a velha fórmula horas/bunda/cadeira), pois meus pais não tinham como pagar cursinho pré-vestibular (nunca fiz pré-vestibular). Como prêmio pela vitória, fomos almoçar fora, em um restaurante self-service ali perto de casa (e, confesso, a comida estava especialmente saborosa!)!
Relações Internacionais era o que eu queria desde cedo! Futuramente, contarei um pouco da minha vida na universidade. Na mesma ocasião em que fui aprovado para Relações Internacionais, também passei para Jornalismo, no CEUB, hoje UniCeub (onde meus pais estudaram e onde eu próprio viria a me formar em Direito), mas acabei não me matriculando no curso, pois achei que ficaria muito pesado para um garoto de recém-completos 17 anos, morando longe e dependendo de ônibus, estudar o dia inteiro Relações Internacionais e à noite Jornalismo – ademais, meus pais enfrentariam dificuldades para pagar a faculdade particular. O interesse pelo Jornalismo permanece… quem sabe um dia…
Faltando 26 dias para celebrar meus 40 anos, gostaria de deixar minha homenagem aos responsáveis pelas minhas vitórias: meus professores. Da primeira professora primária a meu orientador no Doutorado, cada um dos meus mestres teve um papel único e relevante em minha formação. A eles serei eternamente grato e, lecionando, tento continuar portando a chama sagrada. Sim, porque no templo sagrado da sala de aula, a chama do conhecimento deve permanecer sempre acesa, pois é a transmissão do saber que nos faz mais singulares e humanos.
Hoje coloco duas fotos de 1980, quando de minha “formatura” do Jardim da Infância. Costumo dizer que, dentre os mestres, os primeiros professores costumam ter maior importância, pois se hoje sei ler e escrever, é porque tive uma professora primária que me ensinou a fazê-lo. Meu agradecimento especial a todas as “tias” do Primário!