Como prejudicar a Política Externa, a Indústria de Defesa e a Economia nacional de um só golpe

presidente indonesiaSei que o título ficou longo, mas é exatamente isso. Dias desses, um mui prezado amigo perguntou-me sobre a importância econômica da Indonésia para o Brasil (foi uma pergunta sincera, nada de ironia ou ridicularização do caso). Respondi-lhe que iria verificar como eram as relações bilaterais com a maior nação muçulmana. Antes que encontrasse tais informações, chegou a notícia da perspectiva do Governo da Indonésia de cancelar parte da compra de 16 aviões EMB-314 Super Tucano, fabricados pela empresa brasileira  (privada) orgulho de todos nós na produção de aeronaves. Até a hora em que escrevi este post, não havia notícia sobre a decisão de cancelamento por parte  de Jacarta, mas o simples fato de se considerar o cancelamento já fez com que as ações da Embraer despencassem na bolsa e afundassem a Bovespa! Mais uma brilhante manobra de autoridades brasileiras em prol da indústria nacional de Defesa e de nossa robusta e estabilizada Economia!

As relações entre Brasil e Indonésia sofreram forte abalo em razão de certas condutas da senhora presidente da república para com o Governo de Jacarta, todos disso sabemos. O que mais incomoda nessa história toda é que a justificativa do Governo brasileiro seria o estopim da crise seria o transtorno causado pela execução (legal e legítima) de dois traficantes que saíram daqui para vender cocaína na Indonésia e lá foram descobertos e presos pelas autoridades locais, julgados e condenados à morte. Dois traficantes!!!

Sempre digo a meus alunos que Política Externa não é para amadores. A tradição brasileira é de pragmatismo e eficiência em nossas relações exteriores, conduzidas por um corpo diplomático de altíssimo nível e, até alguns anos atrás, não-ideológico e orientado por interesses de Estado (e não de governo). Isso mudou nos últimos tempos, graças a arroubos de humor de certas autoridades na cúpula do governo e (des)orientações que chegam de fora do Itamaraty (existiria uma Eminência Parda em certo palácio que deseja ser o protagonista, de fato, de nossa Política Externa). O Brasil caminha então para ser realmente um anão diplomático e as pachouchadas de Política Externa prejudicam cada vez mais a imagem e, pior, as relações (políticas, mas também econômicas) do País com seus pares da comunidade internacional.

1024px-Embraer_logo.svg-e1422981442447No que concerne à indústria de nacional de Defesa, a medida tomada por Jacarta representa prejuízo para uma empresa brasileira (privada) de renome no plano internacional. Os efeitos podem ser nefastos em um momento em que se precisa alavancar o setor. Lembro que o Brasil é o único país do Hemisfério Sul a produzir aviões do porte dos jatos e aviões de combate da Embraer e que, com o início da produção do KC-390 (nosso avião cargueiro de grande porte e que rivalizará com o C-130, o velho Hércules), pode alcançar níveis de competitividade que rivalizem com a Boeing e a Airbus (a Embraer já é a terceira empresa de construção de aviões civis no mundo). Mas isso não deve ser objeto de preocupação de certas pessoas do governo brasileiro, que já não têm problemas em lidar com a crise econômica (para quem não sabe, estamos em crise).

A Economia? “A Economia, estúpido!”, diria Bill Clinton. Pois é… A simples notícia da possibilidade de cancelamento da compra de aviões da Embraer já gera impacto em outros setores da Economia brasileira além da indústria de Defesa. Bolsa, repito, cai. E tem-se mais um fato para abalar nossa sustentabilidade, que já está trêmula com escândalos de corrupção, greve, e crise na outra grande empresa brasileira, a Petrobrás (continuo usando o acento no “á”). Mas não há motivo para pânico. Os próceres que nos lideram resolverão nossos problemas. Os brasileiros temos que continuar, como bons ovinos, calmos, (c)ordeiros e sem reclamar.

Evidentemente que se não houvesse a Embraer, nada disso teria acontecido. A culpa desses males todos é, portanto, do Brigadeiro Osires Lopes Silva, responsável pela criação da Embraer, e dos executivos e funcionários daquela empresa que fazem dela um primor de excelência e orgulho nacional. Sim, a culpa só pode ser deles. Se não for deles, é do FHC…

supertucano

Indonésia reconsidera compra de aviões Embraer por tensão

Exame.com – 24/02/2015

Jacarta – A Indonésia está reconsiderando a compra de aviões militares e lança-foguetes do Brasil, em meio a uma tensão entre os dois países sobre a execução de brasileiros por tráfico de drogas, disse o vice-presidente indonésio, Jusuf Kalla, de acordo com o jornal Jakarta Post.

Os dois países chamaram de volta seus embaixadores para consultas em uma disputa que começou quando a Indonésia executou o cidadão brasileiro Marco Archer e outras cinco pessoas de diferentes países, no mês passado. Continuar lendo

Diplomacia e Realpolitik

Bom artigo encaminhado pelo amigo Angelo Freire… Recomendo, em especial, a meus alunos e amigos de Relações Internacionais e aos que se preparam para a carreira de diplomata…

A diplomacia está morta

22 de janeiro de 2013, em Análise, Conflitos em andamento, Diplomacia, Geopolítica, Relações Internacionais, por Nicholle Murmel

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ROGER COHEN – THE NEW YORK TIMES – O Estado de S.Paulo

vinheta-clipping-forte1A diplomacia eficaz – do tipo que produziu o reatamento por Richard Nixon das relações com a China, o fim da Guerra Fria em termos americanos, ou o acordo de paz Dayton, na Bósnia – requer paciência, persistência, empatia, discrição, ousadia e uma disposição de conversar com o inimigo. Estamos numa uma era de impaciência, mutabilidade, tagarelice, indigência mental e uma falta de vontade de falar com os maus sujeitos.

Os direitos humanos estão na moda, uma coisa boa, é claro, mas o espaço para uma condução realista do tipo que produziu a paz bósnia em 1995 diminuiu. A realpolitik de Richard Holbrooke não era para melindrosos. Continuar lendo