Nosso Primeiro Imperador

Continuo a indicar livros por aqui e pelo meu perfil do Instagram. E aproveitando a semana da pátria, minha recomendação de hoje é uma excelente biografia de nosso primeiro Imperador: “Dom Pedro, a história não contada”, de Paulo Rezzutti.

Com um texto claro e leve, Rezzutti conta a vida daquele que é, indubitavelmente, um dos grandes homens de nossa História. E derruba muitas inverdades sobre Sua Majestade, concebidas por seus detratores, alimentadas pelo regime republicano e que encontraram campo fértil na ignorância de um povo que pouco conhece de seu passado e nenhum valor atribui a seus verdadeiros heróis.

Dom Pedro I do Brasil (Dom Pedro IV, de Portugal) é uma figura fascinante. Nascido na Europa, criado na América, amava o Brasil acima de tudo, lutou por nossa emancipação, condenou a escravidão (foram dele e de José Bonifácio os primeiros escritos por aqui a criticar a perversa prática), mostrou-se liberal diante de um mundo absolutista. Governou este País com o pulso firme que era necessário para estabelecer esta jovem nação, e essa firmeza produziu grandes inimigos, que acabaram por obrigar o monarca a abdicar e deixar a terra e a gente que amava.

De toda maneira, ao partir, Dom Pedro I aqui nos deixou seu maior tesouro: aquele garotinho, órfão de mãe, que se tornaria o maior estadista de nossa História. E, com isso, demonstrava mais uma vez o quanto seu coração (que hoje está no Porto), era brasileiro. Sim, porque Dom Pedro e sua esposa austríaca, Dona Leopoldina de Habsburgo, eram mais brasileiros que a absoluta maioria dos governantes que os sucederam no período republicano.

Ele próprio, Pedro I, foi um grande estadista (nos limites dos poucos anos de experiência que consegiu reunir). Apesar de muito jovem, proclamou nossa independência, organizou e uniu vários “Brasis” em um único Estado, outorgou-nos a Constituição mais legítima e duradoura. Impetuoso, galanteador, obstinado, seu legado entendeu-se pelas gerações seguintes. E tudo isso alcançado em pouco mais de três décadas de vida!

Tenho muita admiração por Dom Pedro I, e o livro de Rezzuti contribuiu para que ela aumentasse mais ainda. Precisamos conhecer mais sobre nosso primeiro monarca, cujo título que mais amou foi o de “Defensor Perpétuo do Brasil”.

Príncipes soldados

Passados 100 anos da Grande Guerra, aquele período continua fascinando a muitos de nós, apesar de uma parcela significativa da população brasileira vergonhosamente não saber nada sobre o conflito. Como eu não sou de desistir de divulgar conhecimento, segue uma publicação que pode agradar os amantes de Clio…

Familia Imperial no Exilio

A Princesa Isabel e o Conde D’Eu com a família no exílio.

Em 2014, O Globo publicou uma matéria sobre os príncipes brasileiros que combateram na I Guerra Mundial. E o jornal destaca:

Pouca gente sabe, por exemplo, que, muito antes de o país enviar equipe médica, embarcações e alguns oficiais apenas na reta final do confronto, dois príncipes brasileiros atuaram na guerra e até morreram em consequência disso. Filhos da Princesa Isabel com o francês Conde D’Eu, os nobres D. Luís Maria e D. Antônio Gastão, netos do ex-imperador D. Pedro II, serviram ao lado do Império Britânico. [Aqui um comentário nosso: não existe “ex-Imperador”, caro jornalista. Uma vez Imperador, sempre Imperador!]

Chama a atenção o fato dos príncipes exilados (em razão do famigerado golpe de 15 de novembro de 1889), filhos do Conde D’Eu (com sangue francês que remonta a antes mesmo da França existir) não terem sido aceitos pela República Francesa (ah, sempre ela!) para combater em suas fileiras contra as Potências Centrais (pelas quais lutavam muitos de seus primos e onde eles mesmos haviam feito serviço militar).

Dom Luís de Orléans e Bragança

Dom Luís de Orléans e Bragança (1878-1920)

Assim, os Príncipes Dom Luís e Dom Antônio Gastão, netos de Dom Pedro II, nascidos no Brasil e, portanto, oriundos da família real brasileira, eram também franceses (descendiam dos reis da França), foram treinados pelos austríacos (também eram Habsburgos, como os Imperadores da Áustria-Hungria) e serviriam na guerra lutando junto com os britânicos. Situação inusitada, não?

O fato é que os príncipes combateram na Grande Guerra, e combateram com galhardia e coragem. Foram reconhecidos pelos seus pares como bravos soldados. E, como outros tantos milhões de jovens de sua geração, sofreriam diretamente os dissabores do conflito: nas trincheiras da França, Dom Luís contrairia uma doença que o levaria à morte logo depois do conflito, em 1920 (pouco antes do centenário da Independência, proclamada por seu bisavô). Já Dom Antônio, reconhecido por sua coragem, teria participado de batalhas aéreas (teria sua paixão pelo avião vindo da proximidade de sua família com o grande Santos Dumont?) e, em 29 de novembro de 1918 (portanto, alguns dias depois do armistício de 11 de novembro), sofreria um acidente de avião e viria a óbito.

Antonio
Dom Antônio Gastão de Orléans e Bragança (1881-1918)

Cabe destacar que ambos os príncipes-soldados, que mostraram sua bravura no maior confronto que o mundo já conhecera, morreram longe de sua terra natal. Exilados com o golpe de 1889, foram para o Oriente Eterno sem nunca mais ver o Brasil que tanto amavam… Duas décadas depois, a belíssima Canção do Expedicionário expressaria essa preocupação de todo aquele que combate por sua pátria: “não permita D’us que eu morra sem que volte para lá”.

Essa foi mais uma das histórias da Grande Guerra. Belíssima contribuição de nossos príncipes imperiais à liberdade, contribuição essa que deveria ser digna de respeito e gratidão por todos oa brasileiros.

Importante que saibamos, como brasileiros, que os filhos da (legítima) nobreza  brasileira, que aqueles homens que poderiam simplesmente nada ter feito enquanto milhões combatiam nas trincheiras, foram nobres também em sua decisão de lutar e dar a vida pela causa em que acreditavam. Pergunto-me quais filhos da nossa elite republicana de hoje se prestariam a tão altivo sacrifício…

(E ainda tem gente que me pergunta o porquê de eu ser monarquista…)

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