Casa de Rui Barbosa e a inexistência do acaso

Uma vez que as quintas-feiras são dedicadas às minhas aventuras pelo mundo, interromperei a jornada pela Mãe Rússia para contar sobre duas situações inusitadas que me aconteceram há algumas semanas… O lugar: São Sebastião do Rio de Janeiro (acho que era esse o nome antigo da cidade)! 

Estava eu em viagem à capital fluminense para um compromisso de trabalho. Como o evento ocorreria muito cedo, tive que ir no dia anterior. Cheguei a meu hotel ainda por volta das 16:00 e resolvi proceder ao reconhecimento do ambiente operacional nos arredores. Nesse processo, descobri que a Fundação Casa de Rui Barbosa estava a cerca de 700 metros de onde eu me hospedara.

Ora, o que é que um sujeito como eu, hospedado numa excelente localização em Botafogo, vai fazer com seu tempo livre no Rio de Janeiro? Óbvio: conhecer a Casa de Rui Barbosa! 

Preliminarmente, registro que, em minha defesa, não tenho qualquer simpatia pelo senhor Rui Barbosa. Não obstante, por se tratar de um importante ponto turístico do Rio (vai me dizer que você não sabia disso!), decidi conhecer a residência daquele senhor arrogante, que traiu Sua Majestade instigando o golpe republicano, conduta da qual depois se arrependeu (mas aí Inês já estava morta). E lá fui! 

A  Casa de Rui Barbosa é um palacete de meados do a século XIX, erguido em Botafogo, e serviu de morada ao jurista e político republicano entre 1895 e 1923 (quando de sua morte). O excelente estado de conservação, a bela arquitetura neoclássica, a pluralidade de cômodos (bem-divididos e com os móveis e decoração dos tempos de seus famosos moradores) e, principalmente, a biblioteca de 37 mil volumes (bem-cuidada e disposta exatamente como o deixara o metódico baiano em 1923), tudo isso faz da Casa de Rui Barbosa um destino turístico imperdível. Acrescente-se aí os jardins e a “garagem”, na qual se encontram os carros e carruagens usados por Rui. 

Fiquei fascinado pelo lugar. Mais surpreendentes ainda foram as duas situações que vivenciei nesse passeio. Vamos a elas!

Chego ao palacete (vivia bem o Dr. Rui!) e me dirijo à recepção do museu. Lá, uma simpática mocinha me pede para preencher uma pequena tabela com meus dados. Informa então que a entrada é gratuita, mas que eu teria que esperar uns quinze minutinhos, pois a visita é acompanhada de um vigilante. “Tudo bem”, disse eu, e fui fazer hora passeando pelos jardins (excelente programa), onde casais de namorados se encontravam, e crianças pequenas brincavam sob a supervisão de mães, avós e babás – um bucólico oásis de tranquilidade no agitado Rio de Janeiro! 

Na hora da visita, comigo estavam mais três senhoras, todas de fora da Cidade Maravilhosa, com as quais formei o heterogêneo grupo que iria conhecer o museu. E aí veio a grata surpresa! Luciano, o vigilante designado para nos acompanhar, não nos acompanhou! De fato, Luciano nos guiou pela casa-museu, em uma jornada regada de excelentes histórias sobre o lugar e seus moradores do passado. O nosso guia-vigilante sabe muito sobre o local onde trabalha, conta boas anedotas de cada cômodo e fala de Rui Barbosa e família como se fossem conhecidos seus de longa data! – e são mesmo! Luciano também conhecia particularidades da História do Brasil que deixariam meus amigos do Instituto Histórico e Geográfico orgulhosos! Assim, aprendi muito com aquela moço que honrou com louvor a camisa da Casa. Essa foi a primeira surpresa. 

A segunda ocorreu na saída, quando o grupo já se dispersava. A primeira senhora se despediu e foi embora. Quanto às duas outras, antes que partissem, minha curiosidade linguística me impeliu a perguntar de onde eram (sim, gosto de sotaques e de me desafiar a identificar de onde são as pessoas pela forma como elas falam!):

“Por acaso vocês são do Maranhão?”, perguntei finalmente. E elas, com ar surpreso: “Sim! Como descobriu?”. Minha resposta, com sorriso maroto, “pelo sotaque! Vocês são de onde lá?” (Sou curioso). “Somos de São Luís! E você?”, já atentas à conversa. “Sou de Brasília, mas mamãe é de Caxias.”

Os olhos de ambas se arregalaram. Explicaram que nasceram em São Luís, mas a família era de…Caxias! Cresceram na cidade. Falei então da minha família lá. Logo descobrimos que uma delas tinha sido aluna de uma prima minha, e colega de outra! Ou seja, na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, encontrei pessoas que tinham vínculos com a família de minha mãe! Note-se que a população de Caxias é de 118.000 habitantes! Parecíamos velhos amigos a falar de Caxias, de amigos em comum, e de perceções afins. Trocamos contatos.

E foi assim que, na Casa de Rui Barbosa, conheci um grande guia turístico e encontrei novas velhas amigas! Existe acaso? Claro que não! 

Depois fui fazer uma incursão à Livraria da Travessa, onde comprei um livro e tomei um chocolate quente, seguindo para jantar no Matsuda, um restaurante japonês tradicional e típico, onde a comida é excelente e preparada pelo Inácio, um mineiro que sabe tudo da culinária nipônica! No Rio, gosto de jantar no Matsuda! 

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2 respostas em “Casa de Rui Barbosa e a inexistência do acaso

  1. Excelente texto!
    A leitura torna-se necessária após o primeiro parágrafo.
    Parabéns!

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