Separar para quê?

scotland-flag-1_2103925cÉ sempre bom lembrar a meus alunos de Relações Internacionais que o separatismo não é uma exclusividade da Ucrânia na Europa de hoje… Há muitas regiões do continente que clamam por emancipação. Geralmente, no contexto atual de integração européia, o separatismo pode trazer mais prejuízos que benefícios para as novas nações que queiram surgir no Velho Mundo.

Publico aqui interessante artigo da DW sobre o separatismo escocês e o referendo de 18 de setembro, quando os escoceses decidirão se permanecerão no Reino Unido e se constituirão uma nação independente. Sei não, mas acho que seria um tiro fatal no pé essa separação da Escócia. A União existe há três séculos; a Grã-Bretanha é a sexta economia do planeta e os escoceses, apesar de suas diferenças e do sotaque, estão tão inseridos na sociedade britânica que é inconcebível imaginar o povo das terras altas constituindo outro país… Esqueçam separação… a coisa não vai acabar bem…

Os escoceses até poderiam se separar… só queria ver onde ficará a Pedra de Scone, ou Pedra do Destino, na coroação do sucessor de Elizabeth II (se algum dia Elizabeth II vier a falecer…). Para quem não sabe, é uma pedra sobre a qual os reis escoceses eram coroados e que foi tomada pelos ingleses quando conquistaram as terras altas. Desde então, durante séculos a pedra ficou em Londres, e todos os reis ingleses e britânicos a partir de então são coroados sobre essa pedra, que fica embaixo do trono… Recentemente ela foi transferida para Edimburgo, mas com a ressalva, sempre destacada, que continua a pertencer à Coroa Britânica… tradição é tradição.

Reino Unido acirra campanha contra a independência da Escócia

Deutsche Welle, 27/04/2014

Após mais de 300 anos de união, escoceses opinam sobre separação do Reino Unido em referendo marcado para setembro. Governo em Londres faz campanha para reverter o avanço nacionalista entre o eleitorado escocês.

Schottland Unabhängigkeit von Großbritannien

O governo britânico decidiu intensificar a campanha contra o referendo sobre a independência da Escócia, marcado para o dia 18 de setembro. Nesta semana, o secretário-chefe do Tesouro britânico, Danny Alexander, irá a Edimburgo tentar “desfazer mitos” que cercam as reivindicações feitas pelos defensores da separação.

Em nota divulgada neste domingo (27/04), o Tesouro britânico declarou que Alexander dirá que as suposições do governo escocês sobre as receitas do petróleo são demasiado otimistas e acusará o governo em Edimburgo de falhar na avaliação do impacto do envelhecimento da população escocesa sobre as finanças do país.

Diante do referendo sobre a independência em setembro, a campanha do governo britânico para manter intacta a união de 307 anos com a Escócia luta para assegurar a vantagem que tem sobre os nacionalistas escoceses. Essa vantagem, no entanto, vem caindo nos últimos meses. Para os grupos pró-separação, a independência daria mais liberdade à Escócia para criar uma nação mais justa e próspera.

Entrada na UE

Schottland Unabhängigkeit von Großbritannien Alex Salmond

No ano passado, primeiro-ministro Alex Salmond apresentou propostas para a independência da Escócia

Os nacionalistas acusam Londres e seus apoiadores escoceses de empreender uma campanha de medo em torno da moeda, da adesão à União Europeia e das finanças públicas a fim de forçar os 5,3 milhões de escoceses a permanecer no Reino Unido. O Tesouro britânico afirmou que seus funcionários passaram meses analisando o possível impacto da independência da Escócia sobre a economia e que publicará os resultados nas próximas semanas.

Caso decidam pela independência, o governo da Escócia anunciou querer entrar na União Europeia. No entanto, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, afirmou no início do ano que a dificuldade de acesso de um novo Estado ao bloco, como pode vir a ser o caso da Escócia, está relacionada com a aprovação da adesão por parte de todos os países-membros da UE.

O governo escocês já declarou também que a UE não poderá obrigar a Escócia – no caso de uma adesão ao bloco europeu – a adotar o euro, sublinhando que seria viável à possível nova nação manter a libra esterlina, uma opção que já foi negada por Londres.

Maioria ainda contra separação

Pesquisas mostram que o apoio à independência escocesa está crescendo. Em meados de abril, uma pesquisa do instituto de opinião pública TNS apontou que 29% dos escoceses têm a intenção de dizer “sim” à separação da Escócia do Reino Unido no referendo de 18 de setembro. O índice representa um aumento de um ponto percentual em relação ao mês anterior.

No entanto, a mesma pesquisa registrou que 41% dos entrevistados devem dizer “não” à separação, enquanto 30% ainda estão indecisos. Desde que a primeira pesquisa foi realizada, em setembro do ano passado, a diferença entre os votos contrários e favoráveis à independência diminuiu em sete pontos percentuais, com registro de avanço dos nacionalistas.

O número de escoceses dispostos a votar cresceu desde então – de 65% contra 74% na atual pesquisa. Segundo o diretor do Instituto TNS na Escócia, Tom Costley, isso demonstra a “tomada de consciência sobre a importância do referendo.” Costley sublinhou ainda que “grande parte dos indecisos declarou ter intenção de votar e que a campanha deverá ter bastante influência sobre o resultado final.”

Prós e contras

Schottischer Whisky

Para além do uísque: petróleo e gás do Mar do Norte trouxeram certo renascimento econômico à Escócia

Cinco meses antes do referendo, Londres e Edimburgo empreenderam uma ofensiva pelos votos dos escoceses. Neste mês, em Aberdeen, bastião da indústria petroleira na Escócia, o chefe de Governo escocês, Alex Salmond, fez campanha pelos votos dos eleitores do Partido Trabalhista, no congresso do seu Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês).

O Partido Trabalhista britânico, da oposição, assim como a coalizão de governo formada por conservadores e liberal-democratas do Reino Unido, rejeita uma separação da Escócia.

Na última quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, marcou o Dia de São Jorge, comemorado nacionalmente em 23 de abril, com um apelo aos escoceses para continuar a fazer parte da “maior família de nações do mundo.”

“Em apenas cinco meses, o povo da Escócia irá às urnas decidir se querem continuar a fazer parte desta história de sucesso global. Então, vamos provar que podemos ser orgulhosos de nossos distintos países e assumir o compromisso pela união das nações”, disse Cameron.

História centenária

Atualmente, a Escócia possui o seu próprio Parlamento com sede em Edimburgo. Isso remonta a uma história de mais de 400 anos. Em 1603, após a morte de Elizabeth 1°, James 6° da Escócia sucedeu ao trono inglês como James 1°. Em 1707, as Leis de União uniram formalmente a Escócia com a Inglaterra e o País de Gales em Grã-Bretanha. Em consequência, o Parlamento da Escócia se fundiu com o Parlamento inglês, sediado em Londres.

Durante a Revolução Industrial, a Escócia transformou-se numa das potências comerciais e industriais da Europa. Após a Segunda Guerra Mundial, porém, a economia escocesa entrou em declínio.

Nos últimos anos, o país vem passando por um renascimento econômico através do setor de serviços e do dinheiro proveniente do petróleo e gás do Mar do Norte. Após um referendo em 1997, o Parlamento da Escócia foi restaurado por meio da Lei da Escócia de 1998, que devolveu algumas competências legislativas ao país.

CA/rtr/dpa/lusa/afp

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