35. Casamento (02/12/2014)

Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?
Renato Russo

Em todas as sociedades, há três momentos marcantes na vida privada de uma pessoa: o nascimento, a morte e “aquele-evento-em-que-alguém-se-une-a-outra-pessoa-para-constituírem-uma-vida-a-dois” (o que em alguns lugares recebe o nome casamento).

Não importa a forma como se dê o matrimônio, o que vale é que costuma ser uma transição importante para qualquer ser vivo. Até aqueles que se dizem celibatários, como os religiosos, acabam assinalando que “se casaram” com a fé, com o Cristo ou com a Igreja.

Ao contrário do que apregoam certas religiões e tenta impor a sociedade, casamento, regra geral, não é para sempre. Claro que há exceções, casais que permanecem juntos por décadas. Entretanto, o mais natural, parece-me, é que uma pessoa tenha mais de um casamento ao longo da vida… Afinal, somos humanos, não pinguins ou araras. E, se considerarmos que se encarna várias vezes neste plano, seria no mínimo estranho e antinatural que duas pessoas permanecessem ligadas uma à outra por toda a eternidade. Exatamente por isso o casamento deve ser vivido a cada dia, e o amor vivido em plenitude para que, como diria o poeta, seja eterno enquanto dure…

Casei-me muito cedo. Tinha acabado de completar 26 anos (casei-me dia 16/12). Foi um momento importante, pois estava a constituir minha própria família. Não que esperasse um dia me casar (homem nenhum espera), mas aconteceu. E com uma pessoa muito especial e que viria a me dar dois grandes tesouros.

Não vou contar aqui sobre minha vida amorosa, as mulheres que amei, as decepções e alegrias que tive ao longo dos meus quarenta anos de existência. A única coisa que direi é que sempre fui muito tímido e que isso, associado ao fato de que a natureza não me brindou com “sexy appeal”, fazia de mim um sujeito nada atraente, o que me frustrava sobremaneira. Para piorar as coisas, era sempre o mais jovem do grupo de amigos, e as meninas tinham atração por caras mais velhos, mais fortes, mais ricos. Tímido, novinho demais, feio e sem dinheiro no bolso… características faziam de mim a última opção no jogo do amor. Paciência! Se não tinha remédio, remediado estava…

Foi aí que conheci aquela que viria a ser minha esposa. Não sei o que ela viu em mim, mas começamos uma amizade. Éramos colegas de faculdade. Ambos fazíamos a segunda graduação. Gostávamos de livros e tínhamos outros pontos em comum. A amizade acabou se tornando namoro. Passamos momentos bem agradáveis. Ela me incentivava a tocar os estudos e a fazer concurso. E festejou quando passei nas provas para a Polícia e para a ABIN. Como diria Renato Russo, “e comemoramos juntos, e também brigamos juntos muitas vezes depois”…

Quando já estava empregado, no meu segundo ano na Inteligência, recebi um telefonema em minha sala. Objetivamente, o diálogo foi o seguinte: “olha, já marquei o casamento, tá? Será 16 de dezembro” – fim do “diálogo”. Aí vi que a corda estava no pescoço e que nenhum treinamento de combate (nem mesmo sobrevivência na selva) me tiraria daquela situação… Casei então.

Foi uma cerimônia dupla, ocorrida em dois momentos. O primeiro dia, na Igreja Católica, com valor civil – evento simples, mas bem elegante, como era a noiva (o padre errou meu nome, claro – tive que corrigi-lo), seguido de um almoço para alguns convidados. No segundo dia, um domingo ensolarado (como fora o do meu nascimento), a cerimônia de casamento rosacruz, no belíssimo templo da Loja Rosacruz Brasília. Estávamos casados e felizes.

Viajamos para o Rio de Janeiro na lua de mel – mesmo porque não tínhamos dinheiro para nada mais ousado. Fomos a Petrópolis – sim, porque já era monarquista à época. Depois começamos a vida juntos. Passados três anos, viria nossa primeira filha.

Sinceramente, não sei o que ela viu em mim. Só sei que teve todo o mérito de acreditar no meu potencial, “e me comprar na baixa”. Tinha outras opções? Certamente. Mas preferiu este daqui… E vivemos anos felizes, apesar das dificuldades e das diferenças que foram surgindo paulatinamente.

A 6 dias dos meus 40 anos, gostaria de deixar meu beijo carinhoso para aquela que me comprou na baixa, me jogou para o alto, mostrou-se companheira de primeira hora, sorriu comigo, brigou (muito) comigo, e me deu os tesouros mais preciosos que um homem pode ter na vida: meus filhos! E a vida segue!

Casamento4