Os 12 leitores de Frumentarius sabem que gosto de dedicar algumas postagens aqui a efemérides. Na próxima segunda, 18 de março, completar-se-ão 705 anos (isso, setecentos e cinco) da execução, em Paris, do último Grão-Mestre da Ordem do Templo, Jacques de Molay. O evento marcaria o fim oficial daquela famosa Ordem de Cavalaria, a instituição mais rica do Ocidente depois da Igreja Católica, formada por monges guerreiros que protegiam os peregrinos e lutaram contra os muçulmanos pela Terra Santa, e contra todos os considerados inimigos da Cristandade. Além disso, foi graças aos Cavaleiros Templários que se desenvolveu o primeiro sistema bancário do Ocidente.
“O patrimônio da Ordem do Templo incluía mosteiros, fortalezas, terras aráveis, moinhos além muito ouro e prata guardados nos cofres de suas sedes espalhadas pela Europa. Os templários tinham ainda seus próprios navios nos quais transportavam artigos de luxo do Oriente para a Europa (sedas e especiarias). Tamanha riqueza pode ter contribuído para a ruína dos Templários. Ao final do século XIII, contudo, o destino dos templários começou a mudar.“
Joelza Ester Domingues, em Ensinar História
A execução na fogueira do Grão-Mestre punha fim a sete anos de perseguições, capitaneadas pelo Rei da França, Felipe IV, o Belo, e pelo Papa Clemente V (completamente subserviente ao monarca francês). Interessado nas riquezas dos Templários, Felipe IV iniciou um processo contra eles, acusando-os de heresia e de práticas condenáveis e de idolatria: negação da Cruz e do próprio Cristo, adoração a uma figura tida como demoníaca, sodomia…
Assim, no dia 13 de outubro de 1307 (uma sexta-feira), todos os templários encontrados em território francês foram presos, entre eles o Grão-Mestre. Começavam sete anos de torturas e execuções, em que se buscava obter a confissão dos membros da Ordem por seus supostos crimes. A organização foi completamente debelada nos domínios de Felipe, mas a quando as forças do Rei chegaram à sede da Ordem em Paris, encontraram os cofres vazios: o tesouro dos templários havia desaparecido! O mesmo aconteceu em outros castelos e edifícios da Ordem. Ademais, a poderosa frota dos Templários, que durante séculos transportara pessoas e riquezas pelo Mediterrâneo e pela costa ocidental da Europa, estacionada no porto de La Rochelle, simplesmente sumira!
“Quando os senescais do Rei foram para os castelos templários para cumprir a ordem de prisão encontraram muitos deles abandonados e a grande força naval que estava ancorada na base dos Templários no porto de La Rochelle havia simplesmente sumido assim como todo o tesouro templário.“
David Hatcher Childress- (http://greyfalcon.us/),
“A Frota Naval dos Cavaleiros Templários e seu Império Marítimo”
(Traduzido por Thoth3126, in https://thoth3126.com.br/a-frota-naval-dos-cavaleiros-templarios-1/)
O processo dos templários durou, portanto, sete anos. Muitos cavaleiros foram torturados e executados, chegando-se, a 18 de março de 1814, à execução de Jacques de Molay, que resistira aos maus-tratos e morreu negando a culpa pelas acusações que lhe eram imputadas e à Ordem.
Antes de morrer, enquanto o fogo o consumia, Jacques de Molay lançou uma maldição contra seus algozes: “Eu vos amaldiçoo até a 13ª geração, e vos intimo a comparecer perante o Tribunal do Juiz de todos nós dentro de um ano para receberdes o vosso julgamento e o justo castigo!”. Quarenta e cinco dias depois, Clemente V morreria vítima de uma infecção intestinal. E em 29 de novembro de 1314 seria a vez de Felipe, que morreria de uma queda de cavalo durante uma caçada.
Não cabe aqui entrar em maiores detalhes nem sobre a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo de Salomão, nem de seu último Grão-Mestre (deixo alguns links que podem ser interessantes para começar a conhecer mais). Entretanto, se foi extinta oficialmente por Clemente V, a Ordem continuou existindo em outros lugares da Europa, como na Inglaterra, na Escócia, na Catalunha e em Portugal (país, de fato, fundado por templários). Os reis daqueles lugares continuariam protegendo a Ordem e seus membros, sob o manto de novas organizações como a Ordem de Cristo portuguesa.
Também o fim dos templários em 1314 daria ensejo a uma série de histórias e lendas sobre aqueles monges guerreiros, seus tesouros, o conhecimento e o segredo que protegiam. E, no século XXI, a Ordem continua sendo objeto da curiosidade e da pesquisas por todo o globo. Seu legado jamais será extinto.
Non nobis, Domine, non nobis, sed Nomini tuo da gloriam…
Alguns links que achei interessante sobre a Ordem do Templo:
A QUEDA DOS TEMPLÁRIOS E A MALDIÇÃO DE JACQUES DE MOLAY
A incrível história de como os cavaleiros templários ‘inventaram’ os bancos
A Frota Naval dos Cavaleiros Templários (1)
A Maldição lançada por Jacques DeMolay
The Powerful Curse of Jacques de Molay, the Last Grand Master of Templars
Los inicios de la Orden del Temple según Guillermo de Tiro (c. 1127-1190) y Jacobo de Vitry (†1240)
Bibliografia reunida no sítio da Wikepedia (conheço algumas dessas obras):
Geral
- PERNOUD, Regine. Os Templários. Lisboa: Publicações Europa-América. 1974.
- READ, Piers Paul. Os Templários: a história dramática dos cavaleiros Templários, a mais poderosa ordem militar dos cruzados. São Paulo: Imago. 2006. ISBN 9788531207358
- DEMURGER, Alain. Os cavaleiros de Cristo: Templários, Teutônicos, Hospitalários e outras ordens militares na Idade Média (sécs. XI-XVI). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. 348p. ISBN 85-7110-678-9
- DEMURGER, Alain. Os Templários: uma cavalaria cristã na Idade Média. São Paulo: Difel, 2007. 687p. ISBN 85-7432-076-5
- RUNCIMAN, Steven. História das cruzadas. Volume I: A 1.ª cruzada e a fundação do Reino de Jerusalém). São Paulo: Imago, 2002. 340p. ISBN 85-312-0816-5
Em Portugal
- Pinho Leal, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de (1873). Portugal Antigo e Moderno – Diccionario. [S.l.]: Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia
- LOUÇÃO, Paulo Alexandre. Portugal esotérico. Volume I: Os Templários na formação de Portugal. Lisboa: Ésquilo, 2009.ISBN 978-989-8092-60-1
- OLIVEIRA, Nuno Villamariz. Castelos Templários em Portugal. Lisboa: Edições Ésquilo, 2010. ISBN 978-989-8092-77-9
- TELMO, António. O Mistério de Portugal na História e n’Os Lusíadas. Lisboa, Ésquilo.
No Brasil
- BURMAN, Edward. Templários, Os Cavaleiros de Deus. Trad. Paula Rosas. Rio de Janeiro: Record, Nova Era, 2005. ISBN 85-01-04046-0
- DEMURGER, Alain. Os Templários, uma cavalaria cristã na idade Média. Trad. Karina Jannini. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007. ISBN 978-85-7432-076-2
- STODDART, William. Lembrar-se num mundo de Esquecimento. São José dos Campos: Kalon 2013.ISBN 978-85-62052-04
- SCHUON, Frithjof. O Homem no Universo. São Paulo: Perspectiva, 2001. ISBN 85-273-0259-4
- SOARES DE AZEVEDO, Mateus. A Inteligência da Fé: Cristianismo, Islã, Judaísmo. Rio de Janeiro: Record, 2006. ISBN 85-7701-045-7
Interessante história.
Muito bom! Tudo justo e perfeito!
Bem esclarecedor! Parabéns.