Para sair um pouco do tema Coréia do Norte, segue interessante análise de meu amigo Marcus Reis sobre a célula terrorista. O blog de Marcus pode ser acessado diretamente a partir de Frumentarius, e traz sempre contribuições valiosas nas áreas de segurança e estudos de terrorismo. Recomendo leitura.
A Célula Terrorista
Existem dois modelos básicos de estruturação das organizações terroristas. De acordo com as necessidades e objetivos da organização, ela poderá optar por um modelo mais centralizado, hierárquico; mas, se o objetivo for uma atuação mais ampla, não somente local, descentralizada, escondida, provavelmente irá optar pelo modelo em rede (network).
Independente de qual modelo seja escolhido, devemos saber que existe um mínimo estrutural em comum entre as duas formas de organização, que chamamos de CÉLULA.
A célula atua em um nível tático dentro da organização terrorista. Normalmente é composta por um número de 3 a 10 elementos, que atuam de forma mais ou menos independente do Comando, dependendo do tipo de estrutura (hierárquica ou em rede). A célula atende à necessidade de haver compartimentação das informações dentro de uma organização, dificultando os adversários de acessarem o grupo. Pessoas dentro de uma célula normalmente não conhecem outras e não podem prover adversários de informações sobre o resto da organização. Claro que no modelo hierárquico, a estrutura celular não permite uma compartimentação elevada, desprotegendo o resto da organização.
As células podem ser organizadas em torno de indivíduos (família) e de organizações civis (empresas, ONGs, associações etc.). Os membros das células podem ser colegas de trabalho em uma cafeteria, em uma livraria, uma lavanderia. Podem ser entes da mesma fámília. Toda célula deve ter um líder, responsável por comunicar-se com outras células e com o comando. Na estrutura hierárquica, esse líder possui uma relação de comando com os membros de sua célula e de subordinação com o comando. No modelo em rede pode esse líder atuar de forma independente com os seus membros, desde que em direção ao objetivo proposto pelo comando.
Carlos Marighella, o autor do texto Minimanual do Guerrilheiro Urbano, já citava em seu livro a importância da célula (o grupo de fogo), pregando a sua independência e autonomia do comando, o que poderia ser já uma previsão do sucesso por vir do modelo estrutural em rede para organizações terroristas. Vejamos o que diz Marighella:
“Para poder funcionar, o guerrilheiro urbano tem que estar organizado em pequenos grupos, dirigidos e coordenados por uma ou duas pessoas, isto é o que constitui um grupo de fogo.”
Quando existem tarefas planejadas pelo comando estratégico, estas tarefas tomam preferência. Mas não há tal coisa com um grupo de fogo sem sua própria iniciativa. Por esta razão é essencial evitar qualquer rigidez na organização para permitir uma maior quantidade de iniciativa possível por parte do grupo de fogo. “O velho tipo de hierarquia, o estilo do esquerdista tradicional não existe em nossa organização.”
Portanto, ao se estudar a estrutura de uma organização deve o Estado focar a célula, que pode trazer informações essenciais sobre o combate ao grupo, em especial sobre a eficiência dos métodos a serem desenvolvidos e a estrutura global adotada pelo grupo terrorista.