Eles estavam lá para estudar. Não tinham se juntado naquele lugar para conspirar, para ridicularizar o outro, para planejar ataques a pessoas ou instituições. Também não viajavam de férias nem voltavam de momentos felizes em algum local paradisíaco. Estavam lá para estudar e, dessa maneira, alcançar novas conquistas que lhes possibilitassem alguma ascensão na vida simples e difícil que tinham, em um ambiente de pobreza e desesperança. Só queriam estudar, mesmo. Mas seu futuro foi roubado por um bando de facínoras.
O dia começava como qualquer outro. Mais uma jornada de aulas, e de aulas tão ansiadas, pois constituem privilégio naquela região tão carente de futuro. Sim, aulas vistas como um privilégio, mesmo que em condições em que a maioria dos jovens universitários de países ricos – ou mesmo aqueles aqui do Brasil – teriam dificuldade de suportar para conseguir um diploma. Mas eles estavam felizes… sabiam da importância daquelas aulas.
O pesadelo veio com um grupo de bandidos armados que ocuparam o campus. Terror, pânico, lágrimas. O extremismo em nome da religião e a intolerância para com a fé alheia seriam as primeiras lições daquele dia. E o pior ainda estaria por vir. Foram reunidos pelos terroristas, que começaram a separar cristãos de muçulmanos.
Então, o pesadelo se tornou realidade: enquanto os estudantes muçulmanos eram liberados, os cristãos permaneciam nas mãos dos terroristas. Mais uma vez, o homem segregava em nome da fé, e a violência adviria em nome de D’us. Não se podia esperar algo de bom daquele episódio.
Militares e policiais já cercavam o campus. O clima estava tenso. O dia passava rápido para alguns, mas para os reféns do Al-Shabaab deveria estar muito lento: o pôr do sol demoraria a chegar. De fato, para 147 estudantes de Garissa, não haveria um pôr do sol, não haveria um outro dia.
O massacre aconteceu. Os terroristas executaram friamente os 147 estudantes cristãos. Depois foram mortos pela polícia. E as famílias daqueles 147 jovens têm, a partir de hoje, uma data para não ser esquecida: o dia da intolerância, do terror e da morte de seus filhos.
Hoje minhas preces serão para esses 147 jovens, suas famílias e amigos. Chorarei com eles, pedirei que os anjos os confortem.
Porém, junto com as preces, registro aqui meu desabafo para com a hipocrisia e desfaçatez humana: fiquei muito triste pelos acontecimentos de Garissa, mas me ofendi também pela repercussão medíocre na mídia internacional e junto a governos e organizações sociais por todo o globo.
Onde estão as coroas de flores e as preces pelos 147 mortos? Onde estão as manifestações de indignação e os protestos contra a barbárie? Onde está a cobertura da imprensa, na TV e no rádio? Onde estão os gritos nas ruas e as mensagens nas redes sociais pelas vítimas do terror no Quênia? Será que ninguém se importa?
Quando reflito sobre indiferença do mundo para com os 147 do Quênia, logo me vem à mente a explicação para toda essa insensibilidade: foi no Quênia, e era uma comunidade pobre de uma cidade da qual nunca se ouviu falar. Nada que tocasse os corações das pessoas nas grandes cidades do Ocidente!
Eles eram estudantes. Mas eram estudantes africanos. Não eram cartunistas nem passageiros voltando de avião para casa. E eram 147… apenas dez vezes mais que os mortos do Charlie Hebdo e praticamente o mesmo número dos que pereceram nos Alpes franceses. Ninguém se importa.
Que fique registrado nosso repúdio ao terrorismo, à intolerância e, também, à hipocrisia. E que nossas preces possam alcançar os 147 de Garissa e suas famílias e amigos.
Tão verdadeiro e tão cruel… que o bom Senhor os receba com os braços abertos!!
Parece que o continente Africano é por muitas vezes esquecidos quando sofre com grandes tragédias. Não tem a mesma repercussão ou a que deveria, como acontece na Europa, America do Norte, Asia e até mesmo no nosso continente.
Barbáries acontecem diariamente na África, terroristas, milícias, forças militares e as vítimas sempre a população.
O berço da humanidade é hoje um lugar esquecido pelo resto do mundo, como se realmente nem existisse.
Identifico-me com tudo que você escreveu, Joanisval. Muito claro e objetivo. Como cristão sensibilizo-me com essa triste situação.E detahe dizem que o número de vítimas fatais pode ser ainda maior. Lamentável como a imprensa cobriu o assunto. Joanisval, como faço para falar com você por email? Porcurei aqui no sítio e não achei. Se puder, passe-me um email. Fico agradecido.
Olá, Rodrigo! Meu email é joanisval@yahoo.com. Abraço!
Caro Joanisval,
Mandei uma mensagem para você mas, pelo visto, você não deve ter recebido. Recebi essa mensagem de retorno informando que a entrega está temporariamente suspensa. Você teria outro endereço que pudesse te enviar?
The mail system
: delivery temporarily suspended: lost connection with
mta5.am0.yahoodns.net[63.250.192.46] while sending RCPT TO
joanisval@yahoo.com. Este funciona normalmente.