Terrorismo no Brasil: Manifesto da ALN

Mais um texto que julgo bom para conhecimento… Era para ter postado no último domingo, mas como não pude, posto hoje…

Desculpem, mas não consigo ver nada de heróico ou romântico nas ações da Ação Libertadora Nacional (ALN). Orientados ideologicamente por potências estrangeiras e treinados em regimes autoritários como a União Soviética, a China ou Cuba, os integrantes da ALN que optaram pela luta armada não tinham qualquer escrúpulo em cometer crimes em nome de seus objetivos nada democráticos.

Destaco:

Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução. O centralismo democrático não se aplica a Organizações revolucionárias como a nossa.

Em nossa Organização o que há é a democracia revolucionária. E democracia revolucionária é o resultado da confiança no papel desempenhado pela ação revolucionária e nos que participam da ação revolucionária.

Confesso que acho ridículo aquele discurso de que os EUA influenciaram os eventos de 1964 e tinham alguma ingerência sobre o regime que aqui se estabeleceu. Se a CIA tinha alguma influência por aqui é difícil dizer, sendo provável que sim. Entretanto, não há dúvida de que o KGB, o GRU e outros serviços secretos da URSS e de outros países comunistas davam as cartas e orientavam as ações da esquerda no Brasil, em particular dos que optaram pelo terrorismo.

Sob uma perspectiva histórica, é bom lembrar que vivíamos em plena Guerra Fria, quando as Superpotências disputavam poder na periferia. Os terroristas aqui atuavam sob a direção de Moscou (e de seus aliados) e lutavam para estabelecer um regime, naturalmente, nos moldes soviéticos. Ainda bem que não conseguiram… Não, Cuba não é modelo de democracia…

Quem tiver curiosidade, procure saber onde estão hoje os egressos da ALN. Vai se surpreender. Eu fico por aqui… e quieto.

Alguns membros da ALN... Conhece esses rostos???

Sobre a Organização dos Revolucionários

Aliança Libertadora Nacional (ALN)

Agosto de 1969


Primeira Edição: Panfleto de agosto de 1969
Fonte: Centro de Documentacion de los Movimientos Armados
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, maio 2006.
Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2006. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


Em todo e qualquer lugar onde exista nossa Organização, é preciso que os companheiros façam alguma coisa.

Nossa Organização revolucionária cresce à medida que faz ações e não à medida que recebe ajuda dos assistentes políticos mandados de outra parte.

A ação, por sua vez, só é possível criando uma infra-estrutura para tal. Não se trata de ter agora uma coordenação nacional para dirigir, pois neste caso estaríamos criando primeiro uma estrutura orgânica a partir de uma cúpula. Este caminho orgânico é próprio de quem está empenhado em construir um partido ou uma organização para fazer uma revolução.

Nosso caminho é outro: para nós o fundamenta é primeiro a ação e a estratégia. A organização é conseqüência disto e surge simultaneamente com a ação revolucionária. A organização surge pela base e não pela cúpula.

Toda a infra-estrutura revolucionária é baseada na conceituação estratégica e decorre da ação correlata com a estratégia revolucionária. Não pode haver infra-estrutura revolucionária sem aperfeiçoamento técnico do guerrilheiro.

Para manejar as armas, explosivos, munições; para fazer sabotagem, colocar minas, explosivos, explodir pontes, precisamos técnicos e técnicos com visão estratégica da revolução brasileira.

Com os guerrilheiros que possuem preparo técnico é que podemos montar uma correta infra-estrutura revolucionária.

O mais importante para nós são os quadros, que devem ser aperfeiçoados. Sem os quadros, sem os homens revolucionários decididos, a potência de fogo da revolução não tem valor. Os homens decidem tudo. Se não fosse assim, as armas decidiriam e nós só precisaríamos também de armas e não, sobretudo, de homens que as manejassem.

A estratégia em nossa organização está colocada em primeiro plano. O comando pertence ao centro estratégico, ao qual está afeto o lançamento da guerrilha e do qual participam todos aqueles que exercem tarefas estratégicas.

O ponto global da revolução brasileira já existe e vem sendo posto em prática. O plano local decorre do plano global e deve ser efetivado através de ações táticas mesmo em caso de desligamento temporário ou prolongado do centro estratégico.

Na primeira fase de nossa luta, os maiores recursos são encaminhados para a formação dos quadros e para a ação estratégica e não para estruturar a organização abandonando a ação revolucionária. Isto põe a questão da revolução não nas costas de uma organização perfeita e acabada, mas ao contrário, a ação é que tem preferência. Jamais a estrutura orgânica precede a ação ou a revolução. A ação é que faz a vanguarda.

Alguns companheiros pensam que nossa Organização já está constituída, perfeita e acabada. Tal pensamento não é correto. Nossa Organização vai se edificando à medida que a ação aparece.

Cada componente de nossa Organização tem que fazer a sua parte. A experiência tem que ser de todos.

Os dirigentes de nossa Organização não podem provir de eleições. Os dirigentes surgem da ação e da confiança que despertam pela sua participação pessoal nas ações.

Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução. O centralismo democrático não se aplica a Organizações revolucionárias como a nossa.

Em nossa Organização o que há é a democracia revolucionária. E democracia revolucionária é o resultado da confiança no papel desempenhado pela ação revolucionária e nos que participam da ação revolucionária.

Alguns companheiros pensam que a Organização revolucionária é constituída de antemão e funciona completa antes que a revolução tenha dado frutos.

Não. A Organização é falha e débil enquanto a revolução é débil. À medida que crescem as ações, cresce a Organização. A Organização parte da estaca zero.

Quando a revolução vence, a Organização tem que enfrentar novos problemas e é reformulada de acordo com a nova situação. A vanguarda surge no curso da revolução e quando a vitória é conquistada.

Os princípios orgânicos para a construção de um partido que precede a revolução são uma coisa, os princípios de uma Organização como a nossa, que se constitui como decorrência da ação revolucionária são outra coisa. Estes princípios são quatro: o dever de todo revolucionário é fazer a revolução; não pedimos licença a ninguém para praticarmos atos revolucionários; só temos compromisso com a revolução; só agimos por meios revolucionários.

Estabelecidas nossas premissas e adotados os princípios pelos quais nos regemos, que não são os do centralismo democrático, e iniciada a ação revolucionária, tudo mais é conseqüência. Quem não estiver em condições de enfrentar as conseqüências sofrerá uma desilusão e se verá à margem do caminho da revolução.

É perigoso pensar que temos uma força que ainda não possuímos. Quando nossa ação não tem um volume razoável e a desigualdade do movimento revolucionário é muito grande de uma região para outra, a Organização em conjunto é obrigado a refletir o pouco volume de ação e a desigualdade do movimento.

O que resolve a falha da Organização é o crescimento do movimento, o aumento do volume das ações, a superação da desigualdade do movimento revolucionário de região para região.

Ação Libertadora Nacional (ALN)