Crise institucional no Paraguai

Estou na Rio+20, sendo difícil atualizar o site a partir do Riocentro. Entretanto, não posso deixar de fazer algumas rápidas observações sobre a crise no Paraguai. Pelo visto, Lugo está prestes a ser apeado do poder. Difícil prever até que ponto ele resistiria, podendo levar o país a uma guerra civil. O que parece novidade é o fato de o processo de deposição do presidente caminhar sob aparente legalidade e não como tradicional quartelada típica de republiquetas latino-americanas do passado.

O Paraguai é estratégico para o Brasil. Temos uma vasta fronteira, interesses diretos no país. Milhares de brasiguaios ali vivem ao longo da fronteira e são responsáveis por parcela significativa da economia paraguaia. Ademais, há Itaipu.

Temos que estar atentos. Qualquer movimento brasileiro em política externa para o caso deve ser bem analisado. No plano interno, eu já mandaria tropas para fronteira e colocaria o plano de tomada de Itaipu (já divulgaram o plano de emergência para a usina, em conformidade com a nova Lei de Acesso à Informação?) para garantir a segurança daquelas instalações e o abastecimento do Brasil.

Acrescente-se que qualquer instabilidade em nossos vizinhos é tremendamente negativa para os interesses brasileiros. Um continente política e institucionalmente instável não é bom para ninguém…

Folha.com – 21/06/201216h53

Unasul vai enviar comissão de chanceleres ao Paraguai, diz Patriota

LAURA CAPRIGLIONE ENVIADA ESPECIAL AO RIO

O ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota disse nesta quinta-feira no Riocentro que os países que integram a Unasul, União de Nações Sul-Americanas, decidiram enviar uma comissão de chanceleres ao Paraguai, para acompanhar a crise que se desenvolve no país desde os episódios do último dia 15 de junho, quando registraram-se enfrentamentos entre agentes policiais e camponeses, com o resultado de 18 baixas dos dois lados.

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Na manhã de hoje, o Parlamento paraguaio aprovou o início de um processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, a quem partidos de oposição responsabilizam pelos confrontos.

Segundo Patriota, o governo brasileiro posiciona-se pela preservação da estabilidade e da ordem constitucional paraguaia e pelo direito de defesa e devido processo legal do presidente.

“Nosso compromisso é com a democracia. A Unasul conquistou a muito custo a democracia e todos nós devemos ser defensores da integridade democrática da América do Sul”, disse Patriota.

COMO UMA SÓ VOZ

A Unasul é um organismo político formado por Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Criado formalmente em 2008, o bloco de países sul-americanos serve como um foro de discussão, e como uma “plataforma” para que essas nações anunciem posições conjuntas sobre temas como a crise global, e tomando, inclusive, providências comuns.

Em abril, por exemplo, a secretária-geral do bloco, a colombiana María Emma Mejía, entregou ao seu colega das Nações Unidas Ban Ki-moon uma declaração com o apoio unânime da América do Sul às reivindicações argentinas ao Reino Unido pelas Ilhas Malvinas.

SEM RENÚNCIA

Lugo já anunciou que vai enfrentar o julgamento político e não pretende renunciar.

O pedido para abertura de um processo de impeachment foi aprovado hoje na Câmara dos Deputados paraguaia, dominada pela oposição, e segue ainda hoje para o Senado, onde as forças antigovernistas também predominam.

O presidente paraguaio é acusado de “mau desempenho de suas funções”, principalmente por um episódio sangrento de conflito de terras ocorrido na semana passada.

Um confronto armado deixou seis policiais e 11 camponeses mortos na sexta-feira passada em Curuguaty, a 250 km da capital.

O episódio forçou a saída do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da polícia, Paulino Rojas, que deixaram seus cargos pressionados pelo Congresso.

A reforma agrária era uma das prioridades do governo de Lugo, mas o mandatário teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras.